Cap. 12

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Eu conheci um homem hoje
E ele sorriu de volta para mim
Agora há pensamentos como este
Que me mantêm de pé
Que me mantêm de pé

Of Monsters and Men – Sloom

◈◇◈

Enquanto Emy e Henri preparavam algo na cozinha, pedi para ir ao banheiro e ali fiquei por alguns minutos, apoiada na pia cinzenta enquanto encarava meu rosto machucado.

Haviam dois cortes pequenos na minha bochecha e mais um no queixo. Se juntasse isso mais as marcas roxas em meu pescoço pareceria que eu havia acabado de sair de uma daquelas brigas de bar horríveis – ou até mesmo de algum tipo de relacionamento com fetiches esquisitos.

Meu cabelo estava novamente cheio de nós e mais bagunçado do que quando eu ficava dois dias sem pentear só porque achava legal. Eu duvidava que, na minha vida inteira, já houvesse ficado horrível até aquele ponto antes.

Respirei fundo, tomando coragem para sair dali e fingir que estava tudo bem.

Mas realmente está tudo bem. Que mal tem ser atormentada por fantasmas e bonecas assombradas? Você já passou por coisas piores.

Consenti para o meu reflexo no espelho e abri a porta para sair, soltando um rangido estranho que com certeza me assustaria se eu estivesse sozinha naquela casa.

Quando cheguei na cozinha havia um bolo pequeno e simples de chocolate em cima da mesa redonda de madeira, junto de um bule de porcelana cheio de chá.

– Coma, meu bem, nem imagino o quanto deve estar faminta – Dona Emy disse cortando um pedaço do bolo e o colocando num pratinho.

Meu irmão já estava sentado em uma das cadeiras, devorando seu bolo e tomando um copo enorme de achocolatado. Já imaginava, Eliel até podia ser lerdo para viver mas na hora de comer era mais ligeiro que gato fugindo de algo.

Me sentei ao lado de Henri que digitava alguma coisa em seu celular, mas o bolo parecia mais interessante do que espionar o que ele fazia.

Examinei o chá na xícara que Dona Emy havia me dado, inspirando o vapor para sentir o cheiro.

Ótimo, cheiro de mato.

– Desculpe, eu não costumo tomar muito chá de ervas nem nada, eu...

– Ah, não, não! Tudo bem querida, mas pode se arrepender depois, chá de melissa é ótimo pra insônia – ela cochichou sorrindo como se fosse algum segredo e eu ri, tomando um gole do chá.

Até que não era tão ruim. Tinha gosto de água com açúcar e... Ok, talvez um pouco de mato.

– Vovó eu estava pensando se a Lis poderia passar a noite aqui ou então eu lá... – Henri disse baixinho e a senhora apoiou as mãos nos quadris com um olhar desconfiado.

Até eu estava desconfiada agora. Não havíamos conversado nada sobre isso, que história era essa do nada?

– Menino, se está pensando em sacanagem com a pobre Marie Ann... – ela disse estreitando os olhos e por um momento quase engasguei com o bolo.

– O quê?! – Henri guinchou indignado fazendo Eliel evoluir suas risadinhas discretas para uma gargalhada escandalosa.

– D-Dona Emy e-eu não... – gaguejei e ela riu, parecia satisfeita com a situação.

– Eu estou só brincando, calma – ela disse tomando um gole de algo que parecia – e cheirava – café. – Acho que a mãe dela não gostaria de saber que ela está passando a noite na casa de estranhos então você pode ficar com eles essa noite.

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