O que não te destrói, te deixa quebrado em vez disso
Tenho um buraco na minha alma crescendo cada vez mais e não consigo aguentar
Mais um momento desse silêncio, a solidão me assombra
E o peso do mundo fica cada vez mais difícil de segurarVem em ondas, fecho meus olhos
Seguro minha respiração e deixo-me enterrar
Não estou bem e não está tudo bem
Você não me arrastará do lago e me trará para casa novamente, de volta para casa?Bring me the Horizon – Drown
◈◇◈
Havia acabado de abrir os olhos mas ainda sentia como se estivesse dormindo e sonhando, grogue e com a mente presa sobre o que eu havia acabado de, de certo modo, presenciar.
Agora eu sabia, definitivamente, que aquela garotinha era Abelle e que aquelas bonecas no sótão haviam pertencido a ela há muitos anos atrás, mesmo que ela não gostasse e temesse aquelas coisas estranhas.
Abelle... O que faziam com aquela menina? Todo aquele medo não era normal, alguém realmente havia feito mal à ela, e não havia sido pouco e nem por pouco tempo.
Senti meus olhos arderem e umedecerem e um bolo se formar em minha garganta. Eu me sentia péssima por ter sentido medo dela, porque ela mesma se sentia sempre tão assustada, ela estava enlouquecendo naquele sótão, presa e sozinha sabe se lá desde quando.
Deus, ela era só uma criança, não deve ter passado nem dos dez anos.
Me sentei e abracei os joelhos contra o corpo, enterrando o rosto entre os braços e mordendo os lábios para segurar o choro, só então reparando que estava só de toalha e que não me lembrava de ter vido para o quarto na noite anterior.
Eliel deveria ter visto que eu havia adormecido na água fria e me arrastado até o quarto como se eu fosse uma morta-viva – coisa com a qual eu não me surpreenderia, episódios de sonambulismo e coisas do tipo não eram inéditos na minha vida.
Passei os dedos pelos cabelos embaraçados e suspirei, sentindo certo nervoso fazer meu coração bater mais rápido. Abelle havia pedido que eu a entendesse, que eu a ajudasse, mas apesar de tudo o que havia visto, eu ainda não fazia ideia de como ajudá-la ou do que tinha acontecido naquela casa há tantos anos atrás.
Quem era aquele homem lhe trazia as bonecas? E se era ele que a mantinha presa, por quê?
Abelle o chamara de "papa" mas eu me recusava a acreditar que seu verdadeiro pai fosse capaz de tratá-la como um animal com alguma doença contagiosa que precisa se manter isolado para que não contamine os outros.
Eu definitivamente precisava resolver aquilo, e precisava ser logo, ou o tormento continuaria tanto na minha vida quanto na de Abelle.
Resolvi levantar e me trocar, decidindo que estava na hora de tirar os curativos úmidos – e até já meio encardidos – das mãos. A situação não estava tão ruim quanto pensei, a maioria dos cortes eram bem superficiais e já haviam começado a cicatrizar, somente ardiam um pouco, e não tinha nada infeccionado nem nada do tipo.
Mexi os dedos e senti um corte ou outro que haviam sido feitos bem nas juntas doerem, me fazendo resmungar baixinho. Mais tarde talvez eu passasse uma pomada naquilo.
Terminei de ajeitar as meias exageradamente coloridas que havia colocado e calcei os chinelos, saindo do quarto e estremecendo um pouco ao sentir uma corrente forte de vento gelado me atingir nas costas. Por que diabos haviam deixado a janela aberta?
Deixei quieto e desci as escadas sem qualquer animação ou pressa, sonolenta, pensativa e estranhando um pouco o silêncio presente. Se Henri ainda estava ali, Eliel com certeza estaria falando sem parar se estivesse acordado.
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A Casa de Bonecas
HorrorEm uma casa construída com mentiras, onde todas as palavras e reações são falsas, você deve saber reconhecer o seu verdadeiro inimigo. Tudo o que Lis queria, após estar ao lado de sua mãe em um divórcio difícil e desgastante, era poder sossegar no...