Cap. 4

1.9K 203 206
                                    

Ei, você pode me ouvir?
Eu chamei seu nome
De onde você é?
O que trouxe você aqui?
Por que você não vai me responder?
Juro jogar limpo
Isso não é divertido?
Este jogo de esconde-esconde

Mad Father OST - Old Doll

◈◇◈

– Isso tudo é frio? – Mamãe perguntou assim que cheguei na cozinha, encarando meu cachecol enquanto terminava de colocar as panelas e pratos na mesa.

– Minha dor de garganta voltou – menti, esganiçando levemente a voz.

Ok, não era uma mentira tão mentira assim, minha garganta estava queimando, tanto por fora quanto por dentro.

Apoiei o queixo na palma da mão esquerda, batendo as unhas da mão livre na mesa. Não sabia mais nem no que pensar, e não aguentava mais que as únicas coisas para fazer naquela casa fossem investigar sobre espíritos e bonecas estranhas. Tinha que ter alguma coisa para me distrair...

– Meus livros! – Exclamei quase gritando, me esquecendo completamente da dor e me arrependendo por isso logo em seguida.

– Não estavam nas caixas que abri, devem estar nas que deixaram no sótão, sei lá... – minha mãe disse, deixando que sua voz se tornasse um sussurro no fim da frase.

– É sério isso? – Perguntei estreitando os olhos.

– Sim.

Ah, merda. Só podia ser brincadeira. Tanto lugar para colocarem meus livros e os colocam no meio do palco de um show de horrores? Aquilo era proposital, só podia ser, e o destino deveria estar rindo da minha cara naquele exato momento.

– Onde está a chave? – Perguntei com o pouco de coragem que me restava, mordiscando a ponta do meu dedo indicador – um tique/mania horrível que tinha quando estava nervosa.

– Depois do almoço eu te dou – ela respondeu com certo tédio, como se já estivesse de saco cheio da filha chata que não para quieta. – Eliel! Largue esse celular e venha comer!

Passos apressados soaram no andar de cima e, antes que eu me desse conta, meu irmão já estava puxando a cadeira ao meu lado para se sentar.

Fiquei quieta durante o almoço inteiro, quanto mais eu desejava não pensar no que havia acontecido no banheiro, mais eu pensava. Maldita psicologia reversa.

Sim, eu realmente era obcecada por esse tipo de coisa e aquilo realmente tinha despertado uma mistura de curiosidade e euforia em toda o meu ser. Mas, apesar de esconder super bem, não conseguia negar para mim mesma: estava assustada, com medo de que acontecesse de novo.

Sempre reclamei que nada de interessante acontecia na minha vida e, agora que havia acontecido, eu só conseguia me perguntar: "Por que comigo?"

Estava começando a entender como minha mãe se sentia, sempre vendo ou ouvindo essas coisas. Mas ela já devia estar acostumada, certo? Não, acho que você nunca consegue se acostumar com esse tipo de coisa.

Fui para o quarto e me sentei no chão, contando as tábuas que formavam o chão e memorizando suas marcas, todas diferentes umas das outras. Meu olhar vagou por todo o cômodo até chegar na parede atrás da cama.

Franzi as sobrancelhas e fiz uma de minhas milhares de caretas estranhas. Algo não estava certo, eu sentia e sabia alguma coisa estava fora do lugar mas por motivos que são conhecidos exclusivamente pelo Cosmos eu não conseguia me lembrar o quê.

A Casa de BonecasOnde histórias criam vida. Descubra agora