Cap. 6

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Despedace uma gota preta do meu coração
Com o pesar dos dias
O fim dos tempos está apenas começando
Eu o ouvi chamar seu nome
E nem a compressão da corda,
Pode reverter o que começará

Agnes Obel - Citizen of Glass

◈◇◈


Estava deitada no sofá assistindo a um especial de O Incrível Mundo de Gumball e quase xingando por não ter nada para fazer quando lembrei que tinha sim algo para fazer.

– Eliel, idiota – chamei meu irmão que estava com os olhos vidrados na televisão, devorando um pacote de cookies de chocolate.

– O que foi agora? – perguntou com a boca cheia, fazendo sua voz sair rouca e abafada.

–Vai tirar esse pijama, vamos sair – eu disse e ele se virou para me encarar, parecia preocupado.

Não sei o motivo. Eu era uma irmã tão responsável, seria uma pena se eu estivesse distraída quando ele fosse atravessar a rua e acabasse sendo atropelado por um caminhão.

– Mas a mamãe disse...

– Eu sei o que ela disse, mas não vai acontecer nada e, se quer saber, aqui é bem mais seguro do que nossa antiga cidade – eu disse mesmo sabendo que aquilo era mentira.

A cidade parecia ser segura sim, sem sombra de dúvida. Mas aquela casa? Me lembrava um pouco Coraline, o que não era nada legal mesmo se tratando somente de uma animação. Um pouco divertido, mas nada legal.

– Não reclame, sei que está entediado aqui e você sabe que eu nunca deixaria nada acontecer com a gente senão a mamãe me ressuscitaria só para poder me matar de novo – falei e levantei, esticando a coluna para me espreguiçar e sentindo meus ossos estalarem. Bom dia sedentarismo. – Anda, vamos aproveitar que hoje não está chovendo.

– Tá bom, Jesus... - Resmungou e subiu as escadas batendo os pés com força nas tábuas antigas, provocando um barulho estranho que não me alegrava muito.

Isso me lembrou...

– Eliel, você levantou hoje de madrugada? – perguntei gritando e ele respondeu um "não" em tom desconfiado.

Apesar de estar meio grogue na hora, eu me lembrava de ter conversado com Eliel. Ele tinha me chamado para brincar se eu não me enganava e me parecera muito bem acordado, fora que havia deixado a porta do quarto de mamãe aberta.

Bem, talvez eu tivesse apenas sonhado como já havia acontecido muitas vezes.

Soltei uma risadinha lembrando de algumas dessas vezes. Como uma pessoa confunde sonhos com realidade? É... definitivamente, eu era estranha.

Assim que meu irmão voltou e também terminei de me arrumar, tranquei a porta da frente e comecei meu caminho em direção à casa de Dona Emy. Talvez não tivesse problema em chamá-la assim, ela não parecia ser do tipo que se importa com isso.

O clima continuava frio, fazendo os ossos de meus joelhos doerem, mas não chovia mais e o sol aparecia um pouco por entre as nuvens, refletindo nas folhas secas coloridas que forravam o chão. Ah, como eu amava as estações frias!

Segurei a mão de Eliel enquanto caminhávamos lenta e preguiçosamente pela rua pavimentada. As calçadas estavam cheias de lama e grama amassada, então o asfalto parecia a melhor opção no momento.

– Qual é o seu problema? – Eliel disse irritado e lentamente, puxando sua mão da minha.

– Ah, o que foi? Tá com vergonha de segurar a mão da irmãzinha? – Eu disse irônica, fazendo um biquinho e o sufocando em um abraço.

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