Cap. 15

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O sol se levanta,
Nós vivemos e choramos
O sol se põe,
Então nós morremos.

The Ring OST - Samara's Song

◈◇◈

(Eliel)

Agora os créditos passavam rapidamente na tela preta da televisão, o que me deixaria tonto se ficasse olhando por muito tempo.

Henri roncava ao meu lado e Lis ainda não havia saído do banheiro – fato que eu não estranharia nem um pouco, ela sempre fora do tipo que demora demais no banho, mas quase duas horas lá? A água já deveria até estar fria e ela entediada.

Bocejei e me levantei, desligando a TV e o DVD e me direcionando para a escada escura de onde, estranhamente, pingavam algumas gotas de água dos degraus.

Ao subir vi que a situação só piorava. O corredor estava praticamente inundado e a água continuava a sair por debaixo da porta do banheiro.

– Que diabos...? – Murmurei batendo na porta. O que ela estava fazendo desta vez? – Lis! Abre essa porta, tem um rio aqui fora!

Não houve resposta então bati na porta mais uma vez e mais forte, de uma forma que não era possível ela não ouvir. Mas, ainda assim, mesmo depois de eu berrar seu nome de novo, ela não deu nem sinal de vida.

– Porra – eu disse sem pensar e arregalei os olhos, batendo as mãos na boca. Certeza de que isso ela ouviria – ou não, porque tudo o que permaneceu foi o mais puro silêncio. – Lis! Meu Deus!

Cansado de esperar, girei a maçaneta e empurrei a porta, me deparando com um misto de vapor e fumaça perfumada que me atingiram em cheio, me fazendo tossir e por pouco não espirrar.

Haviam cinzas de incensos úmidas jogadas pela pia e uma música baixinha tocava no celular da minha irmã - uma daquelas músicas bem bizarras que só ela ouvia e achava normal.

Assim que entrei senti a água fria no chão molhar a barra da minha calça e estremeci, correndo até a banheira onde Lis permanecia sentada como se nada estivesse acontecendo.

– O que deu em você? – Perguntei fechando a torneira mas Lis não respondeu, continuou encarando o espaço vazio à sua frente de maneira estática.

Ela não parecia nem ter notado que eu estava ali, e muito menos que estava chorando como se algo realmente sério houvesse acontecido.

– Lis, o que foi? – Perguntei preocupado mas ela continuou sem me responder, as lágrimas ainda caindo de seus olhos arregalados e travados.

A chacoalhei pelos ombros, franzindo as sobrancelhas ao ver suas veias esverdeadas aparecendo contra a pele branca. Lis com certeza não era tão pálida.

Ela lentamente virou o rosto para mim, parecendo finalmente se dar conta de que estava chorando e se entregando àquilo, seus soluços ecoando pelo banheiro grande demais.

Mesmo sem saber o que estava acontecendo, a abracei, mas Lis não deu o menor sinal de que faria qualquer outra coisa que não fosse chorar.

– Não sou eu... – ela disse com a voz embargada e entrecortada. – Vocês têm que entender! Não sou eu!

– O que foi? Lis! – Gritei sem saber se deveria me sentir mais preocupado ou assustado.

– Eu só não quero ficar sozinha, por favor...

– Não, não... Você não está sozinha e nunca vai estar, eu prometo – eu disse baixinho passando a mão pelos fios úmidos de seus cabelos. – Você sabe que eu sempre vou estar aqui pra você, e a mamãe também.

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