Cap. 7

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Bem, você pode tentar afundar profundamente
E encontrar as crianças perdidas no mar
Encontrar as crianças que discretamente,
Foram mortas na infância

[...]

Limpe os mortos que você deixa para trás
Assim como insetos

Daughter - Lifeforms

◈◇◈

Eu estava no caminho para casa junto de Henri e Eliel, encarando a palma da minha mão direita – talvez tentando ver algo, nem eu sabia ao certo – quando decidi quebrar o silêncio que já começava a incomodar.

Estava muito curiosa para perguntar certas coisas, e aquilo me deixava tão ansiosa e inquieta que nem mesmo minha timidez conseguiu me conter.

– Henri – chamei e ele voltou sua atenção a mim, esperando pacientemente que eu continuasse. – A Lira de quem sua avó fala... Ela...

– Era minha tia, a filha mais nova da minha vó – ele respondeu com certo pesar, os olhos verdes baixos e distantes. – Tia Lira morreu durante o parto de seu primeiro filho, três anos atrás.

Senti meu rosto esquentar de vergonha e me arrependi na mesma hora por ter perguntado. Sabia como era horrível ter que responder à esse tipo de pergunta, era como quando eu tinha que explicar que o pai de Eliel não era meu pai, que meu pai havia morrido quando eu ainda era uma criança, e aquilo doeu em mim.

– Me desculpe, eu realmente não fazia ideia – confessei abaixando o rosto e sentindo meu coração apertar.

– Tudo bem, não tinha como você saber – Henri disse da forma mais gentil possível e passou a mão em meu ombro, sorrindo como se estivesse tentando me reconfortar sendo que eu quem deveria estar tentando reconfortá-lo.

Jesus, por que ele precisava ser tão legal comigo? Parecia até que era de propósito, que gostava de me ver envergonhada.

– E desde que a tia Lira morreu, minha vó diz que consegue vê-la e que minha tia conversa com ela, que conta as coisas que ela precisa saber e mais uns negócios estranhos – Henri continuou e me encarou quando terminou de falar, provavelmente esperando que eu dissesse algo.

– E você não acredita nisso, né?

– Na verdade, comecei a acreditar - ele suspirou e pareceu relaxar um pouco mais. – Eu também a vi uma vez. Quero dizer, eu acho que vi. Ainda estava de madrugada e eu tinha acordado por razões desconhecidas, então estava meio grogue quando fui levantar e dei de cara com ela parada na porta do meu quarto.

– Uau, nossa, eu acho que eu teria desmaiado legal se fosse comigo – murmurei meio sem pensar e Henri riu baixinho.

– É, eu tomei um susto do cacete quando me dei conta, mas depois eu percebi que não tinha motivo para ter medo, sabe? Era minha tia, e ela sorria para mim de um jeito que fazia a situação toda parecer estranhamente natural, e estava tão bonita... Acho que isso acabou me acalmando um pouco.

Tentei encará-lo da forma mais discreta possível e percebi que um sorriso triste tomava conta de seu rosto, junto de lágrimas que enchiam seus olhos avermelhados. Eles deviam ser realmente muito próximos.

– E o... filho dela? – Perguntei hesitante, não sabia se era uma boa tocar no assunto já que havia a possibilidade de não ter sobrevivido também.

– Ah, é uma menina – Henri me corrigiu, voltando ao seu jeito alegre e bobo com o qual eu estava começando a me acostumar. – Ela tem alguns problemas de respiração e a imunidade baixa, mas é tão bonitinha e fofa... É a cara da mãe.

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