Malhador, você me deixa entediada
Eu estou indo para o circo
Vou sentar ali e assistir o espetáculo
Vai ser um dia terrívelAmanda Jenssen - The Carnival
◈◇◈
Larguei o celular no chão e fechei os olhos, jogando-me no sofá depois de um longo suspiro.
Minha mãe havia acabado de me ligar e, bom, ela iria passar mais uma semana na casa de minha avó e eu juro que não teria me importado tanto se demônios não estivessem tentando me matar.
– Ai meu Senhor, me ajude a sobreviver durante essas duas semanas no inferno – murmurei e respirei fundo, passando as mãos no rosto enquanto tentava não pensar nas chances que tinha de acabar assassinada por bonecas bizarras.
E depois do medo ainda tinha o tédio. Fora o fato de que não tinha nada para fazer, eu estava sem créditos no celular, sem internet e cansada de ver os mesmos programas na TV. Ótima vida.
Pelo menos eu poderia passar o dia de pijama, comendo besteiras nada saudáveis e com o cabelo parecendo um ninho de pássaros que ninguém iria reclamar.
– Lis! Lis! – Eliel gritou descendo as escadas correndo e pulando em cima de mim.
– Não faz isso, seu idiota – eu disse com a voz mais do que rouca, completamente sem ar. – O que você quer?
– Vamos brincar de cobra-cega? – Pediu parecendo realmente animado e comprimi os lábios com dúvida e desconfiança.
– Sério? Quer mesmo brincar disso? Certeza de que não tem nada mais assustador? – Perguntei com ironia, imaginando o tanto de coisas ruins que poderiam acontecer enquanto brincávamos em uma casa esquisita como aquela, principalmente coisas relacionadas ao sobrenatural.
Até mesmo porque já haviam acontecido uma vez enquanto eu brincava com Izzy, e aquilo havia sido muito mais que o suficiente para me deixar traumatizada.
– Sim! Anda, não tem nada pra fazer e você também já percebeu isso – Eliel disse em tom entediado e revirei os olhos, suspirando.
– Tá ok, vamos, agora sai de cima de mim!
Marliss, Marliss... Algum dia você vai se arrepender por ser tão trouxa e concordar com tudo, e provavelmente será da pior forma.
– Ainda não entendo porque sou eu que tenho que ficar vendada – reclamei quando Eliel amarrou a venda sobre meus olhos de modo que eu só visse um monte de nada preto, e eu mal conhecia a casa, era bem provável que eu fosse bater o joelho ou a cara em algum lugar. Ah, sim, e eu estava com medo.
– Consegue ver algo? – Meu irmão perguntou me ignorando completamente e eu assenti.
– Consigo ver o mesmo que os cegos – respondi e Eliel deu uma risadinha.
– Se a mamãe estivesse aqui já teria te dado uma bronca daquelas por essa piadinha.
Dei de ombros e suspirei. Contando com todas as merdas que já fiz e falei na vida sabia que mais uma não faria diferença, eu iria para o forninho de qualquer jeito mesmo.
– Vou começar a contar – avisei e ouvi os passos de meu irmão se afastando. – Um, dois, três, quatro...
– Você não tá girando – ele gritou de algum lugar e eu bufei, batendo as mãos nas pernas com irritação.
–Você sabe muito bem que tenho labirintite, então não enche e pode começar a se esconder porque terminei minha contagem mentalmente.
Estendi as mãos para a frente, completamente desnorteada. Eu me lembrava de estar de costas para a porta principal e de frente para a escada, mas não era certeza.
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A Casa de Bonecas
HorrorEm uma casa construída com mentiras, onde todas as palavras e reações são falsas, você deve saber reconhecer o seu verdadeiro inimigo. Tudo o que Lis queria, após estar ao lado de sua mãe em um divórcio difícil e desgastante, era poder sossegar no...