Voltando ao zero, aqui vamos nós de novo
Correndo para o esquecimento
Voltando ao zero, aqui vamos nós de novo
Eu posso sentir o fim se aproximando
O fimMarina and the Diamonds – Valley of the Dolls
◈◇◈
Eu ainda estava parada no corredor, encarando a pequena portinha quadrada no teto com os lábios cerrados e os dedos fortemente agarrados à duas pequenas chaves. Eu quase havia me esquecido da segunda chave que encontrara, e tinha certeza de que ela abriria alguma coisa escondida naquele sótão.
– Quer mesmo voltar lá? – Henri perguntou em um tom quase cuidadoso e eu assenti, mesmo que hesitante sobre o que estava prestes a fazer.
Com toda a certeza do mundo, eu estava com medo, mas Abelle havia pedido minha ajuda, e eu havia prometido ajudá-la, não podia simplesmente desistir como sempre fazia.
– Eu ajudo – ouvi alguém dizer atrás de mim e me virei, vendo Eliel com o olhar meio baixo. – Eu... Desculpa, Lis.
– Tudo bem – respondi sorrindo automaticamente ao ouvir aquilo. – Desculpa por ter gritado com você também.
– Já acostumei, você tá sempre gritando com todo mundo – ele disse indiferente, dando de ombros e me fazendo revirar os olhos.
Entreguei a chave do sótão à Henri, que, depois de me perguntar mais uma vez se eu tinha certeza sobre aquilo, a encaixou na fechadura e a girou, destrancando a porta com um clique.
Eu e Eliel nos afastamos quando ele puxou a maçaneta e a escadinha de madeira desceu à nossa frente, agora já sem a enorme nuvem de poeira que havia descido junto nas primeiras vezes. Ainda assim, o cheiro de mofo e coisas velhas permanecia ali, e soltei uns três espirros seguidos ao me aproximar mais da entrada.
Henri foi na frente, segurando seu celular que, com o flash aceso, iluminava boa parte do caminho. Eliel foi logo atrás e a medrosa aqui teve que ir por último, óbvio, sempre olhando para atrás com a paranoia de que encontraria algo subindo bem atrás de mim com uma careta bizarra de quem vai me comer viva.
Me obriguei a olhar para a frente quando bati o rosto na bunda de meu irmão, que se virou para mim com uma cara assassina e de quem se pergunta o que diabos acabou de acontecer. Lhe estendi o dedo do meio e apenas continuei subindo os degraus, tentando deixar de lado a experiência traumática que acabara de vivenciar.
Assim que os dois terminaram de subir, me impulsionei para cima e sentei no chão empoeirado, tomando um tempo para regular minha respiração ofegante.
Henri foi até a pequena janelinha no final do cômodo e arrancou um pedaço de papelão que a cobria, deixando muito mais luz entrar no ambiente e apagando a lanterna de seu celular.
Somente naquele momento pude realmente analisar o sótão e cada detalhe do que havia ali, totalmente diferente do que eu vira na lembrança de Abelle.
O papel de parede era meio esverdeado e com umas listras bregas, e não rosa e florido, e aquilo estava realmente uma bagunça, cheio de sujeira, tralhas e coisas que outros moradores deviam ter esquecido.
Henri e Eliel analisavam as bonecas espalhadas com uma careta, vez ou outra até esmagando pequenas aranhas que fugiam de seus esconderijos pelo reboliço que aqueles dois estavam causando.
Eu tinha medo de aranhas, mas naquele momento só senti pena. As coitadas estavam sendo perturbadas e assustadas com aquela bagunça e, se ainda tentavam fugir, eram assassinadas por dois gigantes sem noção.
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A Casa de Bonecas
HororEm uma casa construída com mentiras, onde todas as palavras e reações são falsas, você deve saber reconhecer o seu verdadeiro inimigo. Tudo o que Lis queria, após estar ao lado de sua mãe em um divórcio difícil e desgastante, era poder sossegar no...