Dizem que não se percebe a fase de transição da infância para a relativa maturidade de sete anos. Mas, para mim, foi fácil reconhecê-la.
Íamos à pé de casa para a escolinha. Gostava muito. Com exceção dos dias em que havia muitos materiais na minha mochila, fazendo-a pesar ao longo da caminhada.
Nos inícios das aulinhas, eram-nos propostos a execução de desenhos e pinturas. Seja aqueles que representassem nossas férias, grandes feriados ou mesmo quando a "tia" bem entendesse. Uns perguntavam: "E se não lembráramos de nada?". E as respostas eram sempre para retratar nossos sonhos.
Particularmente, nunca fui uma boa desenhista e reclamava, egocêntrica, do meu tédio nesses momentos. Mas a cada término, devolvíamos nossos estojos para o armário sem receio de perdê-los em meio aos pincéis, massinhas ou papéis. Pois os encontraríamos novamente na manhã seguinte.
"Que bobo" direis, mas no primeiro ano do fundamental foram esses fatos que relembravam-me minha infância acadêmica. Já que disseram que deveríamos levar conosco nossos estojos e não mais guardá-los no armário. Foi o momento que senti adicionado o peso psicológico de um material simples com alguns lápis e borracha.
E, dessa maneira, percebo o quanto os detalhes retratam essa transição muitas vezes ignorada. Agora levo comigo um estojo. Amanhã, a chave de um carro. E depois, a de uma casa.
Hoje rio dos meus desenhos contornados a contra-gosto e olho em volta onde ninguém mais me pede para desenhar meus sonhos ou minha vida. Mesmo assim, sou obrigada a carregar comigo mais responsabilidades que jogam-me na cara o quanto estou crescendo.
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Contos, Romances e Narrativas
Short StoryA bondade ultrapassa os sentidos do próximo quando estes jamais conseguiram ser conquistados sozinhos. Foi um sonho ou real? Quem foi Mia? E as cores faiscantes? Onde moravam? Questões implícitas através da realidade, a fome e o que esta é capaz de...