Além do próprio tempo

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Todo mês me voluntario a ler para crianças de uma creche. Estão na faixa etária de 3 a 6 anos, apesar de todas se mostrarem atentas às histórias, sempre ilustrativas especialmente para entretê-las. As monitoras que se dispõe a me acompanhar até a brinquedoteca reforçam o quanto os pequenos aprendem com este momento, embora cada vez que uma história termine diria ao contrário só de ver os rostos ingênuos resguardados desse mundo, rindo sem motivo e curiosos de conhecimento.

Certa vez, uma monitora já conhecida questionou-me se a escola a qual eu estudava incluía o primeiro ano, com intenção de matricular seu filho. Afirmei, mas, sabendo que este ano não era mais obrigatório, fiquei curiosa:
"Por que os pais da criança não gostariam de adiantá-la por um ano?"
"Este ano é o último pelo qual podem ser crianças"

Pensei sobre isso. Era verdade: seria o último ano que poderiam brincar de massinha de modelar para estimular a criatividade, rabiscar fora do contorno para aprimorar a coordenação motora, levar um boneco para casa uma vez por mês para desvendarem o significado de responsabilidade, etc. Por que não ser assim? Se a cada jogo/atividade infantil retém um aprendizado, por que apressar as etapas e forçá-las de repente a saber o 2+2?

Refleti sobre o por que de nós, adolescentes, querermos nos tornar adultos tão rápido; sobre o por quê de nunca estarmos satisfeitos com a mísera responsabilidade que nos cabe enquanto afirmamos seguramente que quando adultos a vida seria mais fácil e, aos poucos, ingenuamente descobrimos que estáramos errados. Não há necessidade de querer algo além do próprio tempo. Logo, a maturidade tão esperada aparece, mas, ao mesmo tempo, a idade que tínhamos já se fora.

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