Capítulo quatorze - Novos Aliados

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LAURA

O que deve ser feito quando toda e qualquer figura paterna que você conheceu simplesmente evapora, ou quando você se descobre estar amando um libertino, ou melhor, quando há uma guerra eminente que matará milhões de seres e que o motivo principal dessa guerra é você?

  Não há resposta, eu sei. Cada um reagiria de uma maneira totalmente diferente, a questão é: qual deve ser meu próximo passo?Tenho medo do que está por vir, mas não medo por mim, medo pelo Felix. Tenho medo sobre o que pode lhe acontecer. Apesar de seus diversos erros sei que ele não merece morrer, não agora.

  Felix merece uma família, merece ter uma esposa que o ame, que lhe dê filhos, merece ver seus filhos crescerem e ama-los acima de tudo. Merece ter uma vida feliz, eu não posso lhe dar uma feliz.

  Chegar a essa conclusão me causa uma dor tão excruciante, tão inimaginável que fico sem reação, tão sem reação quanto quando fiquei sabendo da morte de nosso pai. Preciso ajudar a acabar com essa guerra o mais rápido possível para que assim o homem que eu amo possa ter uma vida feliz, do lado de pessoas que lhe possam fazer o ser mais completo e amado do mundo.

  E é exatamente isso que farei, nem que seja o meu ultimo ato em vida, cuidarei para que Felix tenha uma vida feliz.

  Estou sentada a beira do lago ao qual Serafine me trouxe quando me contou sobre a morte do meu pai quando ouço o primeiro grito.

  Esse primeiro é seguido por muitos outros, são gritos de desespero puro . Me levanto rapidamente e, me esgueirando por entre as árvores e arbustos vou até a beira do acampamento para ver o que acontece e me assusto. São dezenas de lobos, mas não lobos comuns, são os lobisomens. Alguns estão em sua forma lupina completa, se parecem com grandes lobos da montanha e arreganham seus dentes para amedrontar quem estiver por perto, outros pararam sua transformação ao meio com as garras e dentes de fora, os pelos começando a tomar conta do corpo, orelhas pontiagudas,  costas curvadas e, o mais assustados de tudo, olhos completamente humanos. 

 Um dos meio metamorfoseados se aproximou de uma criança elfa, a probrezinha ficou paralisada com  lágrimas escorrendo por seu belo rosto. O lobo a segurou pelo braço, cravando suas garras em seu pequeno bracinho, e gritou:

  - Onde estão seus líderes? Apareçam e parem de se esconder atrás de crianças! 

  Um silêncio mortal dominou todo o acampamento nos segundos seguintes. Onde está Serafine? Marcos? Miranda? 

  O monstro então rugiu irritado e jogou a pobre criatura que se encontrava sob seu domínio do outro lado do acampamento. Com um sinal deste, que pelo visto era o líder os outros lobos partiram para cima das nobres criaturas que se encontravam sob a minha proteção. Eles iriam matar a todos! 

  Sem poder ver tal barbárie acontecer sem fazer nada, me atirei na frente de uma das crianças que seria atacada por um grande lobo. Pouco antes dele se chocar contra mim levantei minhas mãos em uma tentativa de me proteger e fechei os olhos, esperando e torcendo para que ele não chegasse perto de mim, que parasse onde estava. Seu corpo não se chocou contra o meu em um ataque assassino, abri os olhos e vi, espantada, o corpo do grande lobo pairando, congelado, a alguns metros do chão, com os dentes de fora em posição de ataque. 

  Antes que eu pudesse contestar como isso pode ter acontecido outro lobo veio em minha direção para me atacar, sem nem pensar duas vezes levantei minhas mãos em sua direção e desejei que ele parasse onde estava, vendo com surpresa e felicidade o corpo da fera parar exatamente onde estava. Com a coragem renovada, apontei minhas mãos para todo lobo que aparecesse no meu campo de visão e o congelei. 

  A onda de poder que se apoderou do meu corpo fez com que eu não temesse mais nada, fez com que eu me sentisse o ser mais poderoso do mundo. Eu queria estar no ar, e foi o que aconteceu, eu pairava acima dos lobos, detendo cada um deles, até sobrar apenas aquele que aparentava ser o líder. 

  Olhando dentro de seus olhos desejei que ele estivesse em sua forma humana e, após sua transformação se encerrar fiz com que se ajoelhasse. 

  - Você procurava por um líder? Pois bem, aqui estou eu. Sou Laura, A Pura, futura rainha do povo das fadas, e exijo que me diga porque atacou meu acampamento. - Disse de forma imponente libertando apenas ele da paralisia. 

  - Que bela rainha a senhorita será, se unindo aos inimigos do seu povo. - Disse o homem. 

  - Não ouse insinuar que eu me aliaria ao inimigo do meu povo. - Gritei sem entender totalmente do que ele falava. 

  - Então o que é que a senhorita esta fazendo ao se aliar com a princesa dos elfos, minha cara? - Perguntou com clara ironia na voz. 

  - Tentando combater um inimigo em comum entre mim e ela, meu caro rei. - Disse uma voz atrás de mim. Me virei e vi Serafine seguida por uma Miranda bem zangada e Marcos, que carregava nas contas o corpo de dois lobos. - Inimigo esse, que pelo visto você compartilha conosco não é? 

  - Serafine. - Disse o rei dos lobos, estreitando os olhos. 

  - Brufh, como vai? 

  - Quer dizer que agora é inimiga de seu próprio sangue? Pra onde foram suas promessas de nunca se virar contra seu povo? 

  - As coisas mudaram muito desde a última vez que nos encontramos, Brufh. 

  - Creio que sim, afinal estou sentindo o cheiro até mesmo de anões aqui. - Disse olhando de cima a baixo para Miranda, enquanto se aproximava de Serafine.

  - Consegui ótimos aliados para essa luta contra meu irmão. - Respondeu minha amiga olhando para ele, analisando cada movimento seu, até que ele estivesse a um passo de distância dela.

  - Claro que sim, sempre foi ótima em convencer as pessoas não é, querida? - Brufh a olhava como se compartilhasse de algum segredo. 

  - Aprendi com o melhor. - Disse Serafine levantando uma sobrancelha.

  - Desculpa interromper os dois, mas creio que uma pergunta deve ser feita. - Interrompeu Miranda, com sua típica expressão de poucos amigos. - Estamos em uma guerra, uma guerra que tem dois lados, de qual você está? 

  Brufh olhou de Serafine para Miranda, depois para Marcos, para mim e para todos os outros que assistiam nossa discussão, voltou para Serafine e com um sorriso respondeu:

  - Do seu lado, querida.


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