Capítulo quinze - Traída

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   SERAFINE

     "Não poderemos."

    "Não poderemos."

   A verdade é que nunca pudemos. 

  Brufh e eu nos conhecemos quando, em uma missão "diplomática", meu pai me mandou até as terras dos lobos. "Diplomática" porque na verdade era para mostrar que nós, os Grandes Elfos e Senhores, ainda poderíamos feri-los. Meu pai não poderia estar mais enganado.

  Os lobos são nossos inimigos naturais, eu deveria saber que nada disso poderia ser verdadeiro. Mas insisti. Eu o quis. Eu o tive.

  Quando cheguei em uma pequena vila encontrei uma grande comissão de boas vindas. Confesso ter ficado confusa ao ver todas aquelas pessoas reunidas para nossa chegada, acontece que a festa não era para os Grandes Elfos e Senhores, mas sim para o Magnífico Rei Brufh. Ri ao ler a palavra "magnífico" pintada em um pedaço de pano. Afinal, o que um cachorrinho poderia ter de magnífico?

  Foi quando eu o vi. Um grande homem, 1,90m de altura, músculos fortes, olhos pretos e cabelos cortados de maneira desigual da mesma cor, lábios grossos, queixo quadrado. E quando seu olhar cruzou com o meu... Foi por apenas um milésimo de segundo, mas foi o suficiente para eu saber. Eu estava perdida. Eu, a princesa dos Grandes Elfos e Senhores, guerreira, treinada desde cedo para matar e odiar essa raça, havia perdido meu coração para o Magnífico Rei Brufh, o líder dos cachorrinhos traiçoeiros.

  Não me lembro como foi exatamente que as apresentações decorreram, só consigo me lembrar de que ficamos perto demais para que eu pudesse manter minha sanidade durante todo o trajeto daquela vila até o castelo real. Imaginei todos os possíveis toques ocasionais que poderiam acontecer, e a maneira com a qual reagi a esses delírios fora extremamente preocupante.

  Nesse momento eu deveria ter parado, deveria ter me afastado. Mas, como uma raposa que cai em uma óbvia armadilha, eu continuei lá, tentando o que poderia ser facilmente meu fim.

  Naquele mesmo dia Brufh começou a me seduzir, e eu fui caindo. Meu orgulho élfico fazia com que eu não admitisse que estava sedendo aquele mero cãozinho. Afinal, eu era uma princesa e uma guerreira temida, nada podia me atingir.

  Lembro-me de nosso primeiro beijo, no começo doce e cuidadoso, mas depois, quando sua língua entrou em minha boca e eu provei seu sabor foi impossível me controlar. Eu entreguei minha alma pra ele naquele beijo. E ele soube, eu estava apaixonada.

  Três noites depois nos deitamos juntos, e foi maravilhoso. Faminto e feroz, como ele.

  Trocamos juras e mais juras de amor. Era real, para mim era. Eu nunca havia sido tão feliz em toda a minha vida.

  No entanto, toda essa felicidade tinha um preço. Em um dia excepcionalmente ensolarado nas Terras dos Lobos, enquanto dávamos um pequeno passeio pelos jardins Brufh fez uma pergunta estranha:

  - Serafine, até onde você chagaria para proteger o seu povo?

  - Creio que faria qualquer coisa. - Respondi de pronto - Algo lhe incomoda? - Perguntei, cautelosa.

  Depois de alguns segundos de silêncio ele pediu apenas que rotornassemos para dentro do palácio.

  Naquela noite o esperei em meu quarto durante horas, porém ele não veio. Cansada de esperar fui em direção ao seu quarto, no entanto, no meio do caminho escutei uma procissão de guardas, todos preparados para uma boa luta, indo em direção aos quartos de hóspedes. Estranhando, me escondi na escuridão e escutei.

  Logo antes deles passarem por mim um soldado cutucou o que estava ao seu lado e disse:

  - Ainda bem que nosso rei finalmente finalmente desistiu daquele plano maluco de seduzir a princesinha imunda. Eu estou louco para por as mãos nela... - e soltou uma risada de escárnio.

  Eu simplesmente não podia acreditar. Era tudo um plano? Mas para que? Descobrir os segredos do meu reino? Com qual finalidade? Nossos reinos estavam em tempos de paz.

  Me escondendo na escuridão, fui até os aposentos de Brufh. O encontrei rodeado de guardas, não muito atrás do outro contingente. Ele não me viu. Eu estava paralisada, escutando as ordens que ele dava para seus soldados.

  - Eu quero a elfazinha viva, portanto certifiquem-se de que isso aconteça. Quanto aos outros que viaram em sua comitiva, podem matar. Não serão de grande serventia.

  Então, com lágrimas nos olhos, fugi. 

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⏰ Última atualização: May 28, 2017 ⏰

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