20 dias antes.

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-Espera, espera. Você disse uma vez. Eu me lembro de ter ouvido isso sair da sua boca uma vez.

-Não.

-Claro que sim. Foi àquela vez que fomos num bar gay e eu te perguntei se você ficaria com um gay, você me disse "se ele for bonito, talvez".

-Eu realmente não me lembro de ter falado isso.

-Você devia estar bêbada.

-Eu não ando bêbada por aí, Normani.

-Bom, estávamos em um bar, então você provavelmente estava bêbada, sim.

-Eu me rendo, tudo bem. Posso já ter falado isso.

Revirei os olhos. Nunca tinha falado aquilo. Desbloqueei a tela do meu celular para ver se tinha recebido alguma mensagem nos últimos dois minutos. Não. Eu ainda era Lauren Jauregui, e ninguém me mandava mensagens, além de Normani, que estava na minha frente apenas sendo chata.

-E mulheres?

-Que que tem "mulheres", Normani?

-Você ficaria com uma mulher, Laur?

-Não.

-Nem se ela fosse bonita?

-Não.

-E se ela fosse famosa?

-Não.

-E se fosse a Angelina Jolie?

-Pediria um autógrafo, mas não.

-E se...

-Deixa eu te parar já daí. A resposta é não.

-Argh, tudo bem, eu tentei me segurar, mas vou dizer logo de uma vez... Você está insuportável hoje, Jauregui.

Concordei com a cabeça sem fazer nenhum som.

-Não, sério, Lauren. De todas as vezes que saímos e você decidiu ser insuportável você realmente se superou hoje.

Respirei fundo. Olhei as horas.

-Você tipo acordou hoje e decidiu ser extremamente insuportável ou só aconteceu? Porque eu estou realmente curiosa como isso pode ser possível.

-Uhum.

-Você. É. Um. Saco.

-Concordo.

Levantei da cadeira, peguei minha carteira dentro do bolso do sobretudo e fui até o caixa do bar pagar a conta. Eu tinha bebido duas águas, e Normani, sozinha, duas vodcas com suco, um shot de tequila e aquela última bebida que era impronunciável tanto por mim quanto pelo garçom. Paguei a conta e voltei para mesa, segurando o braço dela, devagar.

-Vamos embora, Mani. Por hoje já deu.

-Se eu ganhasse um dólar por todas as vezes que você falou essa frase, pediria outra vodka.

Segurei seu braço para que ela não se desequilibrasse enquanto descia da cadeira alta, e fui levando-a tranquilamente até o carro. Ela tinha razão, eu estava insuportável, mas aqui vão os motivos para eu estar daquele jeito:

1.      Era terça-feira e ela estava bêbada, de novo.

2.      Estava desesperadamente frio em Nova Iorque.

3.      Uma água naquele bar de merda me custou 6 dólares.

4.      Eu trabalhava no dia seguinte.

5.      Normani também estava insuportável.

-Posso só dizer mais uma coisa? – Normani perguntou, jogada no banco do carona, ao meu lado, enquanto eu saia do bar e dirigia para o nosso apartamento. – Você é chata quando está chata.

-Bom, você é chata quando está bêbada, qual o seu argumento? – Eu retruquei chateada.

-Que você deveria estar ao meu lado. – Resmungou. Olhei para o lado de relance e vi uma lágrima escorrendo seu rosto enquanto ela olhava para frente, provavelmente sem entender nada que estava acontecendo.

-Mani, eu estou ao seu lado. Do mesmo jeito que eu estava ao seu lado quando quis sair para beber ontem. E também no domingo.

-Ainda é terça e você já está chata. O que vai fazer quando eu quiser sair para beber amanhã? – Perguntou revirando os olhos. Tenho que dar o braço a torcer, aquela menina sabia beber. Depois de dois copos de vodka eu já não estaria falando coisa com coisa, imagina depois de tudo que ela bebeu.

-Você vai ter que parar de beber algum dia. – Respondi. Ela derramou mais algumas lágrimas. – Você não vai poder beber para o resto da sua vida.

-Por que não? – Deu de ombros. Colocou a mão na boca. – Para o carro, eu preciso vomitar.

-Você vomita quando a gente chegar em casa. Já estamos quase lá. – Apertei o acelerador e continuei observando sua fisionomia de relance até chegar no nosso prédio.

Desci do carro depressa, assim que estacionei, e dei a volta para abrir a porta para ela, mas ela já tinha aberto e saía correndo prédio adentro em direção ao nosso apartamento. Fechei o carro e corri atrás dela depressa. A encontrei parada na nossa porta com a mão nos lábios e a boca parecendo estar cheia. Abri a porta de casa e ela correu até o banheiro.

Não demorou muito e ouvi barulho de vômito. Liguei as luzes da sala, fui até a cozinha e enchi um copo d'água. Alguns minutos depois ela veio até onde eu estava cambaleando.

-Beba tudo. – Entreguei a água para ela, e logo em seguida uma aspirina que estava localizada perfeitamente ao lado da jarra de água. – E isso.

-Eu vomitei na banheira. – Ela informou e eu revirei os olhos. Aquilo estava ficando cansativo.

-Mal posso esperar para te ver limpar isso amanhã. – Disse com um sorriso cínico no rosto. – Mani, você não pode beber todos os dias só porque a Dinah te deixou.

-EEEEEEEEEEEEI! – Normani tampou os ouvidos e eu revirei os olhos. – Lembra do que combinamos? Eu não fico aqui em casa gritando o nome do Voldemort o dia inteiro porque você me pediu.

-Eu falei uma vez que você não deveria gritar Voldemort o dia inteiro ou nossos vizinhos iriam reclamar, porque você literalmente gritou o nome dele umas trinta vezes seguidas.

-De qualquer jeito, o nome daquela lá também não deve ser mencionado aqui em casa. Você poderia ter falado no bar, ou até no carro. Mas aqui é território sagrado e eu preciso que você pare de invoca-la.

-Toda vez que vocês terminam isso aqui vira uma palhaçada. Você inventa regras, você vomita na nossa banheira, você me faz sair de casa de madrugada para te buscar em bares. Que tal você aprender a lidar com isso de uma forma mais madura? – Perguntei chateada e Normani me deu um empurrão forte me fazendo bater contra a porta da geladeira.

-Que tal você ficar fora do meu campo de visão por um tempo, porra? – Perguntou de volta e eu fiz uma careta tentando segurar dentro de mim a vontade de dar um soco na cara dela. Passei por ela me esbarrando em seu braço, lhe fazendo desequilibrar e cair no chão. Até pensei em voltar e ajudá-la a se levantar, mas não. Ela não merecia minha ajuda.

Entrei no meu quarto me desfazendo do sobretudo que eu usava, jogando-o em cima de uma cadeira. Porra, eu queria não ter que falar tudo aquilo para Mani, era óbvio que ela estava passando por um momento difícil, e diferentemente de todas as outras vezes, dessa vez parecia que elas tinham terminado para valer, mas ah! Que saco! Eram três da manhã, eu tinha que acordar às sete, e aquela era a terceira noite seguida que ela vomitava na banheira. Coloquei meu pijama, liguei o aquecedor, entrei debaixo das cobertas e dormi.

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