Capítulo 11

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Como está uma noite agradável, os 4 decidimos digerir a nossa refeição num pequeno canto da quinta, onde tem muitas árvores de eucalipto das quais o cheiro é muito agradável. Levamos connosco um candeeiro a petróleo, para viver os tempos em que a eletricidade não estava presente.

Regressámos a casa às 21 horas. A minha avó despeja a loiça no lava-loiças e resmunga qualquer coisa. Somos muito parecidos. Foi com ela que eu aprendi a falar sozinho. Às vezes parece estranho. As pessoas olham-me de uma forma estranha.

— O que se passa vó? — pergunto eu, já sentado no sofá, a ver a minha avó sentar-se.

— Nada filho. A avó apenas está cansada — diz ela, pegando num pequeno cachecol vermelho feito de croché que havia guardado atrás da almofada — Toma — diz ela, dando-me o trabalho.

Abro a boca de admiração. Não acredito. Não preciso da explicação da minha avó para perceber de onde ela o arranjou. Foi feito por mim, numas férias que vim fazer à quinta dos meus avós quando tinha mais ou menos 8 anos.

— É verdade, meu querido. Quer acredites ou não, encontrei este pequeno cachecol numa caixa de baixo da tua cama 2 dias depois de saíres de cá para ires para a universidade. E como sabes que a tua avózinha tem uma cabeça de anjo, queria-te mostrar esta obra de arte da última vez que cá vieste, mas esqueci-me. Tenho dormido com ele todas as noites com ele na minha mesa de cabeceira. Acredito que me dá sorte — sinto-me lisonjeado com o discurso da minha avó. Ela nunca me tinha falado daquele cachecol.

— Oh querida — pego aquela pequena obra de imperfeita para admirar aquilo que tem feito a minha avó lembrar-se de mim — Está tão mal feito! — digo eu, antes de uma gargalhada — Está terminado, mas eu nunca soube terminar tricô.

— Fui eu que terminei querido. Já pensei em desfazer o que fiz, mas...

— Não, vó. Não vais fazer com que uma coisa fique mais feia do que está para ser totalmente feita por mim, ou melhor, por um rapazinho de 8 anos. Vá — digo eu, dirigindo-lhe o bocado de pano — vamos dormir — a minha irmã desce as escadas em caracol, já com o seu pijama vestido.

— Vão vocês queridos, a avó vai lavar a casa de banho — aquela frase confunde-me.

— Agora? — pergunta a minha irmã, que passava por ela.

— Sim filha, a avó lava sempre a casa de banho aos sábados à noite.

— A estas horas? — os três lançamos alegres risadas, devido ao estranho hábito da nossa avó

Quando eu e a minha irmã entrámos na minha antiga cama, a nossa avó chega lentamente até nós para nos dar beijos de boa noite, e aconchegar-nos. Sentimo-nos como se tivéssemos regressado à infância

*

Acordo de propósito. Uma das coisas positivas sobre mim, é que tenho a a habilidade de acordar sempre que tiver um pesadelo. Estou a sonhar novamente com o que aconteceu depois da morte dos meus pais. Carrego no botão de iluminação do meu relógio. São 4 da manhã. Acho que vou dormir outra vez. Mas antes vou á cozinha beber um copo de leite fresco.

*

No tribunal disseram que eu tinha de ir para Filadélfia viver com a Avó Nini e a mana vai viver com a Tia Sofia aqui em Washington. Eles dizem que nos podemos ver um ao outro todos os meses, ela pode ir á quinta da avó ou eu posso ir á casa da Tia Sofia, podemos discutir estas coisas depois.

Uma senhora com uma bata vermelha está sentada ao pé de mim no avião para irmos para Filadélfia. Ontem eu e a mana chorámos muito ao despedirmo-nos, e decidimos que daqui a um mês ela vai com a tia lá à quinta por uma semana, vai ser bom.

Eu, a mãe, o pai e a mana já tínhamos andado de avião muitas vezes para fazer viagens a muitos sítios diferentes, a que eu gostei mais foi a Paris, uma cidade muito bonita e luminosa com uma língua engraçada na Europa.

A viagem demorou muito pouco tempo. Parece que fomos de carro até à escola. A senhora de Bata Vermelha acompanhou-me até à saída das malas, à porta do Aeroporto. A avó estava à minha espera, assim que eu a vi dei-lhe um abracinho apertado e ela ajoelha-se para me dar também o abraço. A senhora espera que acabemos para dizer "vejo que está entregue". A avó agradece à senhora por me ter acompanhado e vamos para o carro, é a avo quem leva as minhas malas. Eu levo o Mickey comigo.

*

— George! — acordo com a minha irmã a agitar-me arduamente para me acordar. Reparo que os meus avós também lá estão. Espreguiço-me e esperneio — Oh, graças a Deus — A minha irmã lança um longo suspiro de alívio e os meus avós também dizem qualquer coisa que não percebo porque não foi audível o suficiente.

— O que se passa? — pergunto eu ainda com os olhos semicerrados, porque ainda não digeriram toda a luz.

— George, já são 2 da tarde! Ficámos preocupadíssimos! — sento-me na beira da cama, e a minha irmã nunca desviou os olhos de mim.

— Bem, estou aqui não estou? — digo eu, levantando-me apenas com as calças do meu pijama, e dirigindo-me à casa de banho do andar de baixo para fazer a minha higiene matinal.

Ao descer as escadas, deparo-me com um cenário peculiar: o meu Puki aparenta estar interessantíssimo num canal de culinária que decorre na televisão "pré-histórica" da minha avó. A senhora que cozinha tem um cão, e sempre que o vê, o Puki faz um grande alvoroço porque o outro cão também ladra.

Já estou vestido, e todos vamos almoçar ao Joe's, uma simpática taberna à entrada da vila onde está a quinta dos meus avós.

No caminho passamos por uma costureira. Sim. A costureira na qual trabalhei durante um verão inteiro. Está muito remodelada, com novas empregadas, novo chão, novo teto e novas máquinas. A gerente ainda é a mesma. Quando Phoebe me vê, corre para mim.

— George! Que bom ver-te. Já não vinhas cá à uns bons...

— Nove anos — digo eu, interrompendo-a — O estabelecimento está muito diferente — viro a cabeça de um lado para o outro em busca de coisas que ainda não vi. A minha avó está a falar com uma amiga que também trabalha aqui. A minha irmã e o meu avô estão no carro.

— O mesmo se pode dizer de si, olha para estes músculos! — diz a minha antiga patroa, apertando os músculos do meu braço direito. Sempre me dei muito bem com ela, quando outrora trabalhei aqui, sempre me ajudou dando-me as manhãs para poder descansar, pois tinha conhecimento das manhãs exaustivas que passei nesta localidade.

A minha irmã apita para sinalizar o final de conversações de mim e da minha avó. Despedimo-nos de todas, e entramos no carro para ir almoçar.



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