Capítulo 12

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Depois de almoçar, dirigimo-nos de novo ao carro para irmos para casa, o nosso avô disse que haviam umas batatas para apanhar e convidou-me a mim e à minha irmã para ajudar.

Acabámos a colheita com um trator cheio de sacas com batatas, de seguida vamos ao comprador de produtos do meu avô.

Eu e a minha irmã estávamos a andar no trator como se fossemos crianças: ajoelhados, e a balançar ao som de uma música que cantávamos. Estas férias maravilhosas na terra dos meus avós recordaram-me do quão é bom ser criança. O quão é bom ser cuidado, mimado. Ainda mais com o carinho que só os avós podem dar.

Ao descer do trator, eu, cansado, dirijo-me até à sala de estar para ver o meu programa de sábado à tarde. Custa-me ter de ir embora já amanhã. Estas mini-férias foram boas para mim, para a minha irmã e para o meu Puki. O meu doce Puki. Isso lembra-me que tenho de ir à procura dele. Deve estar em casa, uma vez que a minha avó disse que ia cuidar dele enquanto íamos ao comprador. Percorro todos os cantos da casa em busca do meu cão, mas sem sucesso. Começo a ficar preocupado, ele não me responde. Vou a correr até ao quarto dos meus avós e vejo um cenário lindo. A minha avó está deitada na cama, por cima das cobertas, com o seu trabalho em tricô por cima do peito. E o meu Puki está com a grande cabeça peluda por cima da sua perna esquerda. O meu coração abranda de ritmo, uma vez que já sei que o meu cuidado animal de estimação está em segurança, e bem acompanhado.

Agora é a vez de ir à procura da minha irmã. Saio pela porta da cozinha, que vai dar a uma grande fazenda, uma das grandes fazendas de que o meu avô é dono. A minha irmã está com uma enxada na mão, e o meu avô aparenta estar a rir-se. Não consigo ver, porque eles estão num dos cantos do campo. Vou em direção deles.

Quando lhe chego, o meu avô pede para me por ao lado da minha irmã, para me tirar uma fotografia com o telemóvel dela. Ao longe, oiço um latido familiar. É o Puki. Está a ladrar muito alto, e até a uivar. Eu e a minha irmã trocamos olhares e vamos a correr para casa. Entramos pela porta das traseiras, onde o meu Puki está a olhar fixamente para nós.

— O que foi amor? — a minha irmã está com a respiração acelerada. O cão deita-se e vira-se de costas. Já percebi tudo.

— Oh maluco. Queres ir para casa, não é? — ele olha para mim com aquilo que se diz "carinha de cachorrinho" e começa a guinchar.

— Bem, conhece-lo muito bem — diz a minha irmã, colocando as mãos na cintura.

Percebo que está com... como ei de dizer, ciúmes, ou com inveja, por eu conhecer melhor o seu cão do que ela própria.

— Onde está a avó? — pergunto eu ao meu animal, sem ter prestado atenção à minha irmã. Ele levanta-se e corre para o quarto onde estava a dormir com a minha avó.

Desta vez, ela estava sentada na cama, com os óculos pelo nariz, a fazer tricô, enquanto via televisão. Rapidamente nos ralha.

— Ai filhos, descalcem essas botas! Ai vou ficar com a casa cheia de terra — resmunga a minha avó, pousando o trabalho e mexendo as mãos.

— Foi o Puki que nos chamou — diz a minha irmã.

— Ai que tontinho — diz a minha avó olhando para o meu cão por cima dos óculos, e ele responde-lhe com um alegre e largo sorriso — George querido podes ir às galinhas buscar uns ovos? A avó queria fazer umas omeletas para o vosso lanche.

— Mas fui lá ontem — digo eu.

— Oh filho, aquelas galinhas são uma coisa incrível. Vai lá, vais-te surpreender.

Sigo o conselho da minha avó e peço à minha irmã comigo à pequena capoeira construída com as mãos do meu avô, para ir em busca de ovos para o nosso lanche.

A avó tinha razão. Praticamente todas as galinhas, que são umas 15, tinham ovos nos seus lugares. Aquilo surpreendeu-me, uma vez que ontem colhi todos os ovos presentes na altura. Ainda bem que trouxemos umas cestas, porque o carregamento foi grande.

A minha avó fica com o rosto iluminado ao ver tanto do ingrediente necessário para fazer o nosso lanche.

Terminamos os 4 — Ou melhor, os 5 — de lanchar umas maravilhosas omeletas feitas com todo o carinho da minha avó. Da janela da cozinha já se vêm as luzes que indicam que o sol se vai ausentar por mais uma noite. É incrível que como a esta hora do dia já seja quase noite, apesar de serem apenas 17h15.

Do nada, o meu Puki sai pela porta da cozinha, que estava meio aberta, e corre lá para fora a ladrar. A minha irmã vai a correr com ele. Poucos momentos depois, os gritos ocupam-me a consciência. Eu e os meus avós vamos a correr lá para fora como se estivesse á espera um grande prémio. Mas não era isso que nos esperava. Era uma coisa pior, que estava com as mãos na minha irmã. Sim, Michelle. Ela está desajeitada, despenteada, e muito mal vestida.

— Tens saudades minhas George? — grita a louca da minha ex-namorada enquanto aponta uma arma à cabeça da Helen — Porque eu tenho muitas — diz ela já mais calma — Não gosto é das atitudes pouco simpáticas, que tens tido para comigo, e o facto de me teres de fazer esconder dentro de buracos que nem um rato! — diz Michelle, cuspindo-se e mexendo-se enquanto grita a níveis muito elevados.

— Vamos a ter calma, Michelle, pousa a arma, vamos conversar — aproximo-me, de braços levantados para mostrar a minha rendição.

— Realmente és muito estúpido George. Se fosses uma pessoa minimamente inteligente afastavas-te o mais possível de mim. Ou não te lembras do que aconteceu? — começa a sussurrar — O golpe também te afetou a memória?

Neste momento não pensei. Saltei para a minha Ex. Ela largou a minha irmã, ( que por sinal estava tão assustada que parecia acabada de ter um acidente ) e apontou-me a arma.

— Não! Não te atrevas a te aproximares de mim ou dou-te um tiro nos cornos! — pela forma como ela pega na arma vê-se perfeitamente que é uma profissional. Felizmente, eu sou mais.

Utilizei as técnicas que o meu tio militar me ensinou, desarmei-a com movimentos rápidos, e a sua cara estava incrível: olhos esborratados e molhadíssimos e boca aberta.

— Agora já queres conversar? — pergunto eu, desta vez com a arma apontada a ela. Fechou a boca, virou costas e pôs-se a correr. Eu dei um tiro para o ar para a assustar. Ela quase tropeçou com o susto, mas parou a meio. Eu corri para ela, coloquei a arma pela cintura e juntei-lhe os braços atrás das costas — Vô! Chama a polícia. Temos aqui uma fugitiva encontrada.

20 minutos depois, o carro da polícia estava na porta da frente. Eu fiz o obséquio de levar a louca até lá. Um polícia tira-ma dos braços e coloca-lhe as algemas.

— Isto não vai ficar assim ouviste desgraçado? Eu voltarei! — ignoro-a.

— Muito obrigado por nos chamar, senhor Clark. Chamadas como a sua fazem do nosso país um lugar melhor. Se ocorrer algum problema contacte-nos sem hesitar — dou um aperto de mão ao guarda e ele e o seu colega seguem caminho até à esquadra.


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