Capítulo 20 - parte 1

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Faço o máximo esforço para ser o mais cuidadoso possível, a pegar nas minhas roupas enquanto Jane dorme por debaixo das cobertas.

Depois de estar vestido, olho para ela antes de ir para a sala. Tão frágil. Tão linda. Lanço uma leve gargalhada, uma vez que todo o seu cabelo está por cima da cara, fazendo que apenas só se veja a sua boca aberta. Ao abrir a porta que vai dar à sala, fecho a braguilha. Como Martha estava virada para mim, viu-me a fazê-lo.

— Hm hm hm — tenta falar ela com a boca cheia de café.

— O que foi? — pergunto.

— Vocês fizeram sexo! — diz, logo depois de eu falar.

Ena, que direta.

— Sim. É normal, Martha. É o que os adultos fazem — respondo.

— Hm — diz — Queres café? — pergunta, mudando finalmente de assunto.

— Sim por favor — respondo.

Ao sentar-me, Martha retira uma chávena do armário, e coloca nela o café que se encontra na cafeteira em cima da mesa. Enquanto bebo o meu café com uma torrada, Martha fala-me um pouco sobre ela. Para além da história que ela e a sua irmã partilham, ela foi viver para a Boston, depois de estudar em Harvard, já há seis anos atrás. Contou-me que, por essa altura, Jane ficou a viver com os seus pais na Penthouse em que viviam, com vista por Central Park.

O dia em que foram buscar a minha mãe foi terrível — explica ela — Foi à três anos atrás. Eu e a minha irmã estávamos a fazer um bolo de aniversário para ela com a governanta. Ela estava no escritório a trabalhar nuns assuntos da empresa dela.

— Que empresa é que ela tinha, já agora? — interrompo.

— Era um grupo de agências de viagens. Travelling. Não sei se conheces.

— Sim conheço — digo, tendo um flashback — Fiz uma viagem a Paris com essa agência.

Realmente, o destino é uma coisa engraçada.

— Então — retoma a sua explicação — Estávamos a cantar-lhe os parabéns, e quando ela estava a soprar as velas e a pedir o desejo, arrombam a porta de entrada e prenderam-na, sem mais nem menos. Depois levaram-nos para a esquadra, e só depois é que um polícia nos disse o que se estava a passar.

— Hm — digo — E o teu pai?

— O meu pai é militar, só vem a casa de seis em seis meses, nessa altura estava fora.

— Ele não teve que ir prestar declarações? — pergunto, a aquecer as mãos no pouco café que ainda me resta.

— Teve, mas é claro que eles não podiam mandá-lo para casa porque ele estava fora.

— Hum.

Ao dar o gole que dá como terminado o meu café, a porta que vai da sala ao quarto abre-se, e dela sai uma linda rapariga loira que eu adoro.

— Olá amores — diz ela, fletida para o chão a ver que sapatos escolher. Acabou por calçar umas botas de salto alto pretas que se enquadram bem na camisola de algodão cinzenta e das calças brancas. Todo este traje combina perfeitamente com o seu cabelo loiro.

— Olá — digo eu e Martha ao mesmo tempo, pelo que depois ela me lança uma risada matreira.

— George — diz, a ajeitar a camisola — Vou tomar o pequeno-almoço num café com vista para o rio. Queres ir também?

— Já comi, mas posso fazer-te companhia.

— Muito bem. Vamos então — diz ela a retirar as chaves de casa da bolsa que trás a tiracolo.

Chegamos por fim a um simpático café, nas margens do Rio East, que oferece uma maravilhosa vista para Manhattan.

No pequeno-almoço, Jane falou-me do seu antigo emprego, e como consegui acessos para ir trabalhar para o New York Times. Tentou falar-me também da história da sua mãe, mas silenciei-a uma vez que Martha já me tinha contado a história.

— Jane. Há uma coisa que preciso de te confessar — digo impaciente a remexer as minhas mãos de forma compulsiva.

— Não tens namorada pois não? — pergunta ela a largar o seu Capuccino.

Não — respondo.

— Ah — volta a beber — Então diz.

— Bem, já sabes que os meus pais morreram quando eu tinha 10 anos.

— Sim, num acidente de avião.

— Sim, eles eram advogados.

— OK, isso não sabia.

— Eles eram uns ótimos advogados, acho que os melhores de Washington. Por isso tinham um enorme seguro de vida — pousa a sua bebida em cima da mesa.

— Eles deram o seguro de vida dos pais a uma criança de 10 anos? — pergunta espantada.

— Não. Há mais ou menos 3 semanas atrás, um homem da seguradora veio falar comigo à redação e...

— Ai, fala rápido, estou quase a mandar-te isto à cara! — ordena, impaciente.

— Jane, o homem deu-me o seguro de vida deles a mim e à minha irmã. 20 biliões de dólares para cada um.

Depois disto, um ataque de tosse impede Jane de falar, tão forte que quase a fez vomitar o pequeno almoço. Tenho a certeza que foi por causa do choque.

— Estás a dizer que és dono de 20 biliões de dólares? — pergunta ainda meio torta na cadeira.

— Sim, é basicamente isso.

— Biliões? — aceno com a cabeça.

— Oh meu Deus — diz, desviando o olhar — Que choque!

— Pois é.

— Como é que tu ficaste quando soubeste? — pergunta.

— Assim mais ou menos como tu.

— Uau. 20 Biliões de dólares. Tens de ter cuidado com esse dinheiro.

Depois de pagarmos, aproveitamos o facto de não estar a chover ou a nevar, e vamos dar um passeio pelas margens do rio, assim como tirar algumas fotos e rir um bocado. 



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