Capítulo 27

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Sentei-me no sofá para ver a telenovela. Nunca tinha visto, mas uma vez que hoje é sábado e tenho tempo para ver vou aproveitar para tentar conhecer a história.

*

Acordo com o sol que entra pelas altas janelas do meu quarto. Vejo que Jane ainda está a ressonar levemente a meu lado. Aproveito o facto de dormir do lado da cama que está a casa de banho e vou até lá para fazer a minha higiene matinal.

Apenas quando estou a fazer a barba lembro-me que ontem adormeci do sofá lá de baixo. Mas hoje acordei cá em cima. Agora recordo-me de como quando eu era criança e acontecia exatamente o mesmo cenário; sinto-me estranho.

Ainda com as calças do pijama desço até à cozinha para tomar o meu pequeno almoço.

— Oh, bom dia, senhor — ao entrar na cozinha reparo que a pequena mesa para quatro pessoas está posta com dois pratos, e Elizabeth está a por a comida na mesa quando eu entro.

— Bom dia Liz. O que é o pequeno almoço? — pergunto ainda a esfregar os olhos.

— O costume, senhor. Mas hoje decidi fazer uns ovos, bacon e salsichas. Calculei que estivesse com mais fome devido ao jantar de ontem e visto que não comeu nada antes de dormir. Quer sumo ou leite?

— Quero sumo — respondo, um pouco confuso pela resposta que me deu — Espere. — a mulher para o que estava a fazer e olha para mim.

— Diga senhor. — responde com o jarro de sumo na mão.

— Porque é que estavas já a por a comida na mesa se eu podia vir mais tarde? — pergunto — Podia ficar fria.

— Oh, pode não parecer, mas eu já o conheço, senhor. Desde a primeira semana que cá vive, tenho monitorizado as suas horas de sonho, resultando num período médio de 10 horas por noite. Logo, a julgar pela hora que se deitou ontem, calculei que hoje acordasse mais ou menos às nove. Que horas são? — olha para o relógio de pulso — 9:15.

— Isso é incrível — respondo, espantado.

— Não é incrível, senhor. É uma certeza matemática. Mas por favor, sente-se — aponta para a minha cadeira.

— Por falar nisso — respondo enquanto me sento — Quem me levou lá para cima?

— Fui eu, senhor. Achei que acordá-lo não seria a melhor opção, e muito menos ficar a dormir no sofá, por isso eu mesma decidi levá-lo lá para cima com os meus próprios braços.

— Tu? Como? Eu peso 70 quilos — respondo.

— Não sei senhor. Parece que desde pequena que tenho facilidade em levantar pesos, sem qualquer problema ou dor.

Fico de boca aberta. Como consegue uma mulher tão pequena, e ainda por cima idosa, levantar pesos ou ter tão boa perceção dos números matemáticos?

— Por favor, senta-te — digo.

— Com licença — senta-se no topo da mesa, de forma a ficar frente-a-frente comigo. Pega no jarro de sumo e vasa um pouco no copo do lugar que eu pensava que era para Jane.

— Não há lugar para a Jane?

— Claro que há, senhor. Ou melhor; haverá. Ontem a menina ficou acordada até tarde porque era sábado, por isso ela ficará a dormir mais ou menos até às 10:30. Tenho que fazer um pequeno almoço leve para a menina. Talvez umas torradas — diz a comer delicadamente o que tinha no garfo.

— Elizabeth, o que estás a fazer é arrepiante.

— Não faço nada mais do que aquilo que uma governanta deveria fazer, senhor — por mais que estranhe, ela tem razão. É de louvar ter uma governanta que saiba as horas de sono dos patrões apenas para saber a que horas deve por a comida na mesa.

A Vida (Não) É BelaOnde histórias criam vida. Descubra agora