Era um lugar velho.
O chão era de madeira oca
e as paredes um branco amarelado
pelo tempo.
O lugar era abafado
porém recheado de livros.
Livros velhos
tão lidos
que passavam com facilidade
de página.
O lugar tinha grandes janelas
num perfeito quadrado de vidro.
Com grandes estantes aos pedaços
separando um mundo diferente.
O silêncio pairava
por entre os velhos livros.
Tinha cheiro único.
Era uma mistura de papel velho
com ar seco.
Eu, único ser careta
que ainda habitava ali
era o rei do lugar.
Em segredo
roubava os melhores livros
esquecidos e substituídos
pela tecnologia atual.
Sei que é errado.
Mas que há de mal
em roubar palavras?
Que há de mal
em roubar sonhos?
Que há de mal em roubar
conhecimento?
Não é meu, eu sei.
Mas todo mundo estava ocupado
comprando seu livro eletrônico
sem cheiro, cor, nem vida.
Não havia ninguém preocupado com isso.
Era só mais um garoto
que nasceu no tempo errado
mas soube aproveitar o lixo
que ninguém mais notava.