Amor clandestino

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Tenho um allstar preto
velho e encardido
um pouco rasgado nas laterais.
Tenho também um coturno preto
é novo e está em bom estado.
Sempre que calço o allstar
riem por ele ser tão velho.
Ele me dá calos
me fere no mais breve caminhar.
O coturno porém
me faz bem.
É macio e preciso
não me machuca
e pareço sempre flutuar ao caminhar.
Mas ainda assim
eu prefiro meu allstar.
Como tudo na vida
aquilo que me fere me dá mais prazer.
O simples hábito de me auto castigar
de me punir de forma tão simplória
me toca mais.
É que tenho encanto pelo chulo
pelo sujo
pelo odiado.
Tenho um amor que ferve pelo esquecido
pelo abominável
pelo que ninguém mais liga.
Sei que meu allstar tem seus dias contados
e que logo rasgará ao ponto de não dar mais
para ser usado.
Mas o prazer de ainda tê-lo
após tantos anos
é imensurável.
É como ser feliz
calçando a tristeza nos pés.
É uma tristeza destinada
um amor clandestino.

Poesia EstereotipadaOnde histórias criam vida. Descubra agora