TRÊS: 02:47 AM

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"Como você se sente?" Me perguntou enquanto caminhava lento, com as mãos nos bolsos, a cabeça baixa e as palavras assopradas para o ar.

"Confuso." Não pensei duas vezes antes de respondê-lo. Eu saberia responder essa pergunta há um tempo.

"Você quer ir ao colégio hoje?"

"Que escolha eu tenho?" Eu rebatia desanimado, chutando alguns pequenos estilhaços de garrafa no chão.

Ele forçou uma risada e continuou:

"Hoseok, hoje é o dia de você aproveitar."

Eu ergui meu olhar, encarando-o com o cenho franzido. "Do que você está falando, Jimin?" Soltei uma daquelas risadas de nervosismo.

"Hoseok..." Ele pausou. Parecia preocupado. "... Hoje é seu aniversário."

Minha cabeça entrava em um pequeno colapso. Era como se todas as comemorações desse dia tivessem sido apagadas. Todos os dias eu acordo e checo a data e as horas, não senti nenhuma pontada de qualquer sentimento. Eu não me lembrava.

"Vamos, seis horas numa merda de um colégio não vai nos matar, depois teremos o dia todo." Apertei o passo.

Ele não se pronunciou mais uma vez sequer durante a viagem até o local, andando ao meu lado, mas com o olhar completamente desviado.

Chego à escola fomos recebidos pelos outros, que me parabenizavam, me abraçavam e bagunçavam meus cabelos. Jimin como sempre, havia contado para eles, no entanto não sabia exatamente se eu deveria sentir-me com a privacidade violada ou estranhamente contente porque há pelo menos onze anos eu não era de fato parabenizado pelo meu aniversário.

A realidade é que eu não gostava de ser parabenizado, eu não queria. Não queria pensar que mais um ano sobrevivendo a uma vida decadente era algo a se comemorar.

Eu forçava um riso amarelo enquanto todos eles riam e falavam alto, com exceção Seokjin. Até chegou a sorrir fraco, mas quando me encarou teve aquela expressão mórbida e os olhos tristes de sempre.

"Nós temos uma surpresa pra você hoje, Hoseok." Isso me assustava completamente. Encarei Namjoon – que havia dito – confuso, a sobrancelha arqueada e a desconfiança.

O sinal do início tocou, não houve maiores manifestações sobre a tal surpresa. Isso me intrigava. Passei as quatro primeiras aulas com aquilo na cabeça, rabiscava qualquer coisa na folha em branco apenas para respeitar o trabalho do professor, por algum motivo minha cabeça não queria esforçar-se demais.

Quando o sinal do segundo intervalo berrou, Yoongi e Jimin vieram às pressas até minha classe, chamando-me para fora sem quaisquer explicações.

"Pega suas coisas, Hoseok!"

Eu achava que eles estavam enlouquecendo de vez. Algumas das poucas pessoas ainda na classe me encaravam negativamente e eu apenas podia fingir não ver.

Nós caminhamos pelos corredores até o encontro dos mais velhos e Seokjin defronte à pequena porta do almoxarifado. Um dos faxineiros da escola, não tão velho, porém grisalho, apareceu doutro lado da porta e ao invés de dar-nos uma bronca, ele apenas abriu a porta e os mais velhos jogaram a mochila pra dentro da sala cheia de prateleiras e arquivos.

"O que vocês estão fazendo?" Indaguei.

"O que nós estamos fazendo? Estamos fugindo."

"Acho que esse não é o melhor pronome a se usar." Disse ao suspirar, não havendo outra opção de escolha que não fosse acompanhá-los.

Nós caminhamos a cidade inteira – o que não era difícil pela sua pequena dimensão. Fomos até o cais, aos barcos abandonados, as vidas sem vitalidade, vimos a tristeza, acenamos para os sem futuro, corríamos sobre as madeiras apodrecidas e sorríamos.

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