Capitulo um.
Eu nunca fui o tipo de pessoa que ia ás baladas, festas ou algo do tipo. Sempre preferi o meu cantinho em casa, aliás, do que tinha que reclamar? Havia netflix, comida e música. Para mim estava perfeito. Mas aqui, nesse lugar barulhento e cheio de pessoas bêbadas, eu me sinto deslocada, ainda mais agora que meu melhor amigo literalmente sumiu.
E ele havia dito que eu não ficaria sozinha.
- Com licença, você viu o Felipe? - Poderia até caracterizá-lo, se essa festa não fosse dele e todos aqui não o conhecessem.
- Não, mas acho que eu vi uma chance entre nós dois, rola? - O rapaz moreno de olhos escuros perguntou. Seu bafo de cerveja me enojava.
- A única coisa que vai rolar aqui é você de cima dessa casa. - Respondi e virei as costas, entrando na casa literalmente cheia e procurando o ridículo do Felipe.
Eu desisti de procurar quando vi que não iria o achar tão cedo, ele devia estar "pegando" alguma garota. Eu podia ir embora agorinha dessa festa, mas eu não tenho um carro e nem um pouco de dinheiro pra pegar um taxi. Me joguei num sofá no meio da sala e decidi pegar meu celular e tentar ligar para o idiota que me abandonou.
- Droga. - Resmunguei enquanto jogava a cabeça para trás e ia me acomodando no sofá.
- Quero. - Uma voz irreconhecível disse ao meu lado e eu virei para olhar o dono da voz.
- Como? Desculpa, mas acho que não te conheço. - Digo meio confusa.
O garoto, pelo visto, estava tão deslocado quanto eu, além de estar diferente de alguns meninos também. Ele usava um moletom escrito "Dont be racist, be like a panda" (que eu achei fofo), jeans e uma vans preta. Era bonito, admito, loiro de olhos azuis e espinhento, não que o deixe feio, dá um charme a mais. O garoto sorriu para mim, e não posso negar que o sorriso é bonito.
- Sou tão bonito assim? Obrigado, obrigado. - Ele riu e eu corei, acho que fiquei muito tempo o olhando.
Tentei ligar para Felps mais uma vez, e, caiu novamente na caixa postal. Tentei não quebrar o celular, praticamente jogando-o na minha perna, o garoto ao lado cujo não sei o nome, riu um pouco mais estranho.
- Seja quem for que estiver procurando, se estiver nessa festa, certamente não vai atender. - Pronunciou falando sério pela primeira vez na nossa conversa. - Ei, você está bem?
A música estava alta demais para meus ouvidos, além de não ser o tipo de música que curto. Tampei meus ouvidos e decidi responde-lo, mesmo que não o conhecesse.
- Estou com dor de ouvido. Sabe, não gosto de festas, na verdade só estou aqui porque meu melhor amigo me obrigou a vir, dizendo que não iria me deixar sozinha. Agora provavelmente ele foi comer alguém e eu não tenho como voltar pra casa. Fora isso, estou bem. - Respondo meio irônica, não sou acostumada a ser assim, mas eu não aguento ficar nesse lugar por mais um segundo.
- Bom, meu amigo tem um carro, se você quiser, posso te levar até sua casa, já que eu também não estou curtindo ficar aqui. - Ele me encara como se estivesse esperando meu sim.
- Não. - Sou direta, não confio nele e mal o conheço. - Vai que você me sequestra.
- Na verdade, bem que queria, mas quem com uma camisa de panda e jeans numa festa sequestraria alguém? - Perguntou seriamente depois de uma risada, e eu apenas revirei os olhos.
Meu celular acendeu, indicando uma nova mensagem do corno manso que me deixou abandonada e plantada aqui.
Felpopo: Miha, mil desculpas, não vou poder lhe levar para casa, não estou numa situação boa para te levar, no momento.
Eu: O QUÊ? Não acredito Felipe! Vai se foder, nunca mais me leve nessas drogas de festas sendo que não vai ter como eu voltar.
Felpopo: Como assim não tem como voltar? Tá sem dinheiro pro taxi? Já era de se esperar AUSHUAHSUAHS. Se fodeu.
Eu: Vtnc, é engraçado pra você? Porque pra mim não é. Quer saber? Que se foda também.
Você bloqueou Felpopo, este usuário não poderá lhe enviar mensagens e nem lhe ligar pelo aplicativo.
Me levanto rapidamente e decido ir embora a pé, ando apressadamente, quase correndo e ouvindo alguns passos também apressados atrás, decido correr mais quando alguém segura meu pulso com muita força. Com a força, acabo virando e dando de frente com o mesmo garoto que estava conversando.
- Já pensou em correr em uma maratona? - Ele disse ofegante e aliviou a força em que ele usava no meu pulso.
- Me solta! - Disse irritada, eu estava quase chorando de irritação e não havia nada para me deixar melhor.
- Não vou deixar você ir embora sozinha. Quer dizer, você pode ter vinte anos ou menos, mais ainda é do sexo feminino e tem muitas pessoas maldosas por aí. Sei que você deve estar louca para ir para casa, mas por favor, me deixa te levar para casa em segurança. - Pediu, e por mais que eu estivesse com medo, ele estava certo, não podia ir indo assim, nem mesmo sei o caminho daqui para casa. - Não irei aceitar um não.
- Tudo bem. Mas o carro não é do seu amigo? - Perguntei , e se ele não soubesse dirigir?
- Sim, é, mas ele não vai ligar se eu disser que foi para levar uma menina para casa. - Ele pegou a chave e abriu a porta do carro para que eu entrasse. Sentei na frente desconfortavelmente e coloquei o cinto.
- Desculpa a pergunta, mas você tem carteira de motorista? - Ele não respondeu e eu fiquei surpresa. - Oh não, no que fui me meter?!
- Eu sei dirigir, confie em mim. Anda, me passa seu endereço.
Após passar o endereço, ele começou a dirigir. Bem, não diria "dirigir" já que ele quase bateu o carro umas três vezes, ultrapassou o sinal vermelho várias vezes e não conseguiu diminuir a velocidade até que eu o ensinasse, já que eu fiz uma aula com meu pai para quando ele me desse um carro, o que nunca aconteceu.
Quando chegamos em minha casa, ele também teve problemas em estacionar o carro e eu ri um pouco com tudo isso. Retirei o cinto e abri a porta do carro, mas antes de sair, o agradeci pela carona.
- Não seja por isso, da próxima vez você quem dirige. - Ri um pouco, foi bom descontrair com ele. Teria próxima vez? - Quero dizer, se nos encontrarmos, claro...
- Oh, sim...
Um silêncio permaneceu entre nós.
- Acho melhor eu entrar, pessoa legal que não sei o nome e me deu carona com o carro do amigo, mas agora é sério, como é seu nome?
- Me chama de Cellbit. - Ele respondeu. Cellbit? Sério?
- Ok, céubit, obrigada.
E entrei em casa, pronta para descansar a cabeça.
27 ligações perdidas de Corno Manso.