Quando o taxi parou em frente ao aeroporto, eu tive a certeza que estaria fazendo uma surpresa aos meus pais quando eles vissem que eu estava os esperando de braços abertos e um sorriso carregado no rosto, eu realmente não conseguia ficar longe dos meus pais.
Eles ficariam surpresos pelo simples fato de que, em uma certa época, eu não tinha vontade de sair de casa, por preguiça mesmo. Eles até pensavam que eu era antissocial ou depressiva, mas quando perceberam que eu não queria nem fazer almoço e apenas queria assistir séries, eles relevaram.
- Oh, mas que surpresa mais agradável! - Ouvi a voz doce da minha mãe soar atrás de mim, me tirando de meus pensamentos, e a virei para abraça-la.
- Senti sua falta - Olhei para ela e sorri, e ela fez o mesmo.
- Também sentimos sua falta, querida. - A voz grave de papai disse e ele se juntou ao abraço, fazia tempo que não tínhamos um abraço de família assim. Não que brigássemos muito, conversávamos mais e deixávamos o carinho um pouco atrás.
- Seria falta de educação minha me juntar ao abraço? - Uma voz feminina que eu reconhecia muito bem, fez todas as nossas cabeças se virarem em direção da dona da voz.
Bianca, minha melhor amiga virtual que mora em Floripa está na minha frente novamente. Tivemos sim vários encontros, ou eu ia para Floripa ou ela vinha para São Paulo, mas sempre nos encontrávamos. Meus pais, por algum motivo, não gostavam muito dela, mas não deixavam de ser educados como eles são com todos.
Soltei meus pais e fui abraçar a loira de olhos cinza que estava á minha frente, como eu sentia sua falta. Ela sempre foi o tipo de melhor amiga que não se importava com que os outros diziam, só fazia o que queria, sem ligar para a opinião alheia. Teve uma vez que fomos ao mercado juntas e ela derrubou a prateleira de Sucrilhos e gritou "MOSTREI QUE SOU UM TIGRE" e saiu andando como se nada houvesse ocorrido.
- Senhor e senhora Lopes, eu poderia ficar na casa de vocês até quinta-feira? - Ela perguntou com um sorriso tímido. Eu estranhei o fato de ela querer ficar em casa, mas não protestei.
Meus pais se entreolharam e minha mãe deu de ombros, como se dissesse "não depende só de mim" e meu pai entendeu exatamente a mensagem apenas com o olhar dela. Ele suspirou derrotado e depois sorriu forçadamente.
- Por nós tudo bem.
Durante uma hora dentro do taxi á caminho de casa, contei para Bianca sobre os ocorridos dessa semana. O taxista parecia bem interessado na minha história, tanto que as vezes comentava coisas e eu ficava irritada pois não queria que ele bisbilhotasse o que estava ocorrendo entre minha conversa com minha amiga,
- Resumindo: Felipe me deixou numa festa sozinha, conheci um menino, ele se ofereceu para me levar em casa, ele quase bateu o carro e me disse que seu nome era Cellbit. Depois, descobri que não era Cellbit, brigamos e depois ele pediu desculpas. - Contei, e ela sorriu maliciosamente como se dissesse que deveríamos nos "pegar".
- Vocês deveriam se pegar. - Eu ri e ela também, sabíamos que era isso que ela falaria.
Tiramos as malas do táxi e fomos para a porta de casa, onde Rafael se encontrava encostado na parede mexendo no celular, esperando alguém, e eu acho que era eu quem ele esperava.
- Hey. - Disse, tirando a atenção dele do celular e trazendo-a para mim. - O que faz aqui? - Perguntei enquanto ajudava Bianca á tirar suas malas do táxi, e ela não parava de olhar para ele.
- Lembra aquele dia que te levei no carro do meu amigo? - Ele disse e eu me recordei acenando com a cabeça. - Bem... é que você esqueceu seu batom no carro dele e eu vim te devolver- - Interrompo.
- Mas eu não levei batom para a festa. - Arqueei a sobrancelha e por um momento senti como se algo pontiagudo estivesse sido enfiando no meu peito, ele havia levado uma outra pessoa além de mim?
- É, tem razão. Só queria ter algum motivo para te ver mesmo, já que só tenho seu endereço e não tenho o seu número. Assim, eu não ficaria te perturbando vindo em sua casa. - Me senti aliviada e estiquei minha mão para pegar o celular dele. Ele me olhou com certa curiosidade. - O que foi?
- Desbloqueia seu celular e me dê para que eu possa colocar o numero. - Sorri e ele me deu no mesmo momento, Bianca se virou para mim e sussurrou algo um pouco audível.
- Coloca o meu também. - Sussurrou discretamente e olhou para Rafael, dando uma piscada para o mesmo que sorriu.
O que havia de mal colocar?
Não aconteceria nada de ruim em colocar, né?
Salvei meu contato no celular dele como Miha sz e de Bianca como Amiga da Miha, e depois devolvi o celular para ele. Ele estava prestes a ir embora quando minha mãe se aproximou de nós e sorriu para Rafael, que mania as pessoas tem de olhar para ele e sorrirem?
- Oh, querido! Você é o namorado de Michelle? - O quê?
- Não, eu- - Tentou falar, mas foi interrompido pela minha mãe.
- Amor! - Chamou meu pai que estava saindo de casa. - Venha conhecer o namorado de nossa filha! - Ele arqueou as sobrancelhas e se aproximou de nós.
- Como é seu nome, rapaz? Minha menina não pode namorar qualquer um. - Papai disse como uma ameaça e eu apenas revirei os olhos.
- Ele não é meu- - Fui interrompida novamente.
- Minha menina está crescendo! - Minha mãe me abraçou e eu olhei para Rafael paralisada, sério que isso estava acontecendo?
- Nós não somos namorados! - Gritamos juntos e eles pararam e nos olharam como se fossemos malucos.
- Na verdade, - Bianca apareceu ao lado de Rafael e o abraçou pela cintura. - Ele é meu namorado, né amor? Ele só veio me buscar.
E aquela sensação voltou novamente, eu não estava entendendo, eu devia estar agradecida pelo o que ela fez. Bianca sorriu e os dois entrelaçaram as mãos.
- Desculpe Bianca, pensamos que... - Meu pai proferiu.
- Não faz mal. - Sorriu descaradamente. - Acho que você precisa ir, né amor? - Ele apenas olhou para o celular e acenou com a cabeça, se retirando, logo meu celular acende indicando uma nova mensagem.
Whatsapp:
Número Desconhecido: agradeça á sua amiga gata por ter nos salvado, seu pai não parecia ter gostado muito de mim.
Logo soube que era ele e salvei o contato dele no meu celular. Fui ver sua foto de perfil, e não podia negar que ele estava lindo. Ele estava deitado com uma gatinha na foto e sorria abraçando o animal como se fosse sua vida, seu cabelo estava bagunçado e seus olhos estavam muito mais azuis que o normal.
Lanche: Visualizou e não respondeu? Sinto cheiro de ciúmes.
Eu: Então vá ver quem está cozinhando, porque claramente não sou eu.
Lanche: Mesmo assim, obrigado por salvar o número da sua amiga J
Eu: Ok.
Eu: Por que você queria me ver de novo?
Lanche: Porque eu sinto que não devo me afastar de você.
Por que eu fui perguntar isso?
~ * ~