Capítulo 1 - Cassandra

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O sol está brilhando fortemente, nesse começo de tarde. Passa do meio-dia quando Cassie agarra sua mochila e desce as escadas da Universidade de Seattle. Ela estuda Biologia, mas isso não a interessa nem um pouco. Sua mãe, Marie, exige que ela faça sua graduação em troca de cantar algumas noites em um bar próximo à sua casa. Isso é o que Cassie deseja verdadeiramente: cantar.

Ela acena para os amigos que estão sentados embaixo de uma árvore. Eles estudam Música - o curso no qual ela realmente desejava estar, e vai direto ao grande e rústico portão do local, buscando a liberação do ambiente que a deixa desconfortável e, por horas, sufocada.

O cabelo curto e negro de Cassie balança com o vento forte de outono, enquanto seus olhos verdes ficam ainda mais claros no sol. Os mesmos procuram o carro de sempre, o Impala preto e antigo do seu namorado, Christopher.

Chris mede cerca de um metro e oitenta. É loiro e consideravelmente atraente, com tatuagens que cobrem seus braços e parte do peito, totalmente oposto à Cassie, que definitivamente não chega à um metro e sessenta e não possui tatuagem alguma.

O jeans de Cassie se encolhe e aperta contra sua coxa, na medida em que ela anda rápido para se aproximar do carro, o que faz seu passo ficar mais desajeitado e deselegante. Ela sorri e beija a bochecha do garoto, entregando-lhe sua mochila, para ele a deposite no banco de trás.


"Seu shorts está apertado demais para você.", resmungou, com o rosto sério.

"Não está! Eu não sei o que houve, acho que andei muito rápido e...", disse rapidamente, antes de ser cortada por ele.

"Ou você engordou, Cassandra."


Cassie desviou o olhar do seu e o sorriso desapareceu rapidamente, após ao que soava como uma crítica. Ela entrou no carro, no mesmo instante e permaneceu em silêncio por todo o percurso, evitando todos os temas que ele ousou falar no caminho.

Christopher não é uma pessoa ruim e ela havia aprendido a lidar com o caráter forte e ações inesperadas. Se acostumou às brigas em bares, à ele fazer parte de uma gangue, às cervejas e maconha, porque quando estão apenas em casal e isolados do mundo, ela percebe que ele se esforça para ser bom e dela. O bad boy fica distante e seu namorado se torna carinhoso.

Ele é um pouco machista, mas ela não se importa... ou não se importava até então. O loiro foi extremamente indelicado em frente à Universidade. Tudo o que passava pela cabeça da garota naquele momento era que um namorado dizer isso é rude, dito que, supostamente, deveria ser ele a cuidar e a inspirar, não a fazê-la se sentir inferior perante um bando de pessoas que ela veria no dia seguinte e pelos próximos meses.

Cassie olhou suas pernas grossas, diversas vezes. Gorda. Essa era nova. Christopher poderia ter a garota que quisesse, com o peso e medida que quisesse e talvez, ele estivesse se cansando da namorada pequena e desajeitada, mas ela não deixaria assim. Não deixaria ser menosprezada e rebaixada, por ele e pelos padrões errôneos da sociedade. Ela era extremamente confortável e segura com seu corpo e não demonstrou menos que isso, quando o carro estacionou na rua de sua casa, soltando seus pensamentos em alta voz.


"Eu sou baixinha e minhas pernas são fortes. Tenho o corpo que eu quero e gosto do que vejo no espelho. Se eu pareço gorda para alguém, ótimo, eu adoro ser! E se você se cansou do meu corpo, é o seu problema, não meu. Boa tarde e obrigada pela carona, Christopher.", disse enquanto pegava a mochila e caminhava para a porta da sua casa.

"Cassandra! Hey! Eu não quis dizer...", respirou com os olhos fechados "Eu não disse que você é gorda."

"Não fala comigo. Nem tenta. Não hoje."

"Cassie! Cassandra!"


Christopher gritou seu nome e deu um soco na parte frontal do Impala, fazendo um barulho que ecoou por todo quarteirão. O corpo de Cassie gelou com o barulho, mas ela fechou a porta o mais rápido que pode. Alguns barulhos violentos relembram-na sua adolescência. Ele sabe disso, mas ignora, quando se descontrola. Ela nem sempre o responde com tanta força, mas ele a machucou. A garota havia se prometido nunca deixar um homem a fazer sentir mal. Pelo menos não outra vez.

Pelo menos... Não como sua mãe se permitia.


"Problemas com Chris outra vez?", sua mãe apareceu na sala, dando-lhe um leve susto.

"Não, mãe. Tudo bem. Preciso subir.", fingiu um sorriso.

"Você sabe, Cassie... Ele é uma boa pessoa, mas às vezes, todos nós temos momentos e --"

"--Mãe! Hoje não, por favor."


Cassie subiu as escadas correndo, tentando, assim, se distrair das lágrimas que ameaçavam aparecer em seus olhos e poupar sua mãe de algumas lembranças que, certamente, vê-la chorando por um homem, a traria. Talvez ela estivesse exagerando. Talvez fosse uma briga sem sentido. Talvez ele não quisesse dizer o que disse, exatamente ou o fez por ciúmes. Ela não tinha certeza, mas no momento queria desaparecer.

Os dois tinham uma relação de três anos e muitas brigas aconteceram. Não é a primeira vez que ela queria chorar por ele. Provavelmente, nem a última. A garota precisava de um tempo para recuperar sua mente, enquanto se perguntava "E se eu estiver em rumo ao mesmo destino que minha mãe teve?", essa pergunta lhe deu um nó na garganta. Ela não sabia responder. Talvez Christopher não fosse violento se ela não tivesse respondido daquela maneira, mas por quanto tempo ela poderia escolher as melhores respostas com medo do próprio namorado?


"Você precisa se distrair, Cassie.", disse em voz alta para si mesma.


Secou os olhos antes que as lágrimas pudessem descer no seu rosto e ligou a TV. Resolveu assistir à um canal de entretenimento. Fofocas do mundo dos famosos. Isso a deixava tão empolgada. Sua mente foi se distraindo ao imaginar, como seria se ela estivesse ali, na TV, cantando ou sendo citada apenas por existir.

Sua imaginação foi longe. A garota conseguia se ver tocando para grandes públicos em uma grande performance ou saindo de um carro grande e importado, com um belo homem cobrindo o rosto. Paparazzis, jornalistas, fãs. Uma vida mágica, aos seus olhos que haviam visto quase sempre o desconforto de sua vida real e um tanto triste.

Ela precisa estar ali algum dia. Tornar-se a estrela que sempre sonhou. A bióloga, que vive em um quarto minúsculo não se parece em nada ao que ela realmente quer ser. No entanto, ela não pode conseguir isso, magicamente, como em seus pensamentos. Se Christopher vendesse o Impala ou ela deixasse de pagar a faculdade por alguns meses, conseguiria o dinheiro exato para gravar uma demo e enviar para algumas gravadoras, mas sabe que isso não era uma possibilidade.

Apenas lhe restava uma alternativa. Esperar.


"Eu queria tanto que alguém importante me visse cantar no bar e gostasse da minha voz, como acontece nos filmes ou que eu pudesse arranjar uma forma mais rápida de conseguir esse dinheiro...", fez uma pausa, encarando o teto. "Só queria uma chance. Uma!", suspirou.


Cassie abraçou seu travesseiro e não demorou muito para cair no sono, perdida em seus pensamentos utópicos. Ela havia gasto muito de sua energia, hoje e seu peito estava cansado de tentar e desejar. O mundo fácil e cômodo estava ali, esperando por ela e confortando-a.

Talvez ela conhecesse alguém que mudaria sua vida de uma hora para outra.

Em seus sonhos.


A AmanteOnde histórias criam vida. Descubra agora