Capítulo 32 - Pelos olhos de Adrian, parte 3

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Hoje é um dia triste. 

Tenho que despedir Sarah.

Depois da enésima briga com Carla e de sua insegurança bater recordes, decidi — ou ela "sugeriu" — que seria melhor dispensar a garota. Sarah já não tem o mesmo efeito sobre mim, mas parece que explicar isso é, profundamente, em vão. Como me livrar da melhor secretária que tive pelos últimos tempos e dar o que ela merece por ter me aguentado? Eu até achei uma solução e sei que vou ter que seguir analisando de perto, mas é tudo o que me ocorre, por agora. Antes de resolver sua situação, precisei que ela resolvesse algo para mim. Algo... Que eu não sabia, precisamente, como fazer — fora que nessa cidade eu não teria paz para cumprir tal desejo.

Aperto o botão de seu ramal, já com um pouco de nostalgia.


"Sarah, fez o que lhe pedi?", encarei o aparelho, antes de tirar o óculos que começava à incomodar. 

"Sim, Senhor. Estou com a sacola aqui."

"Então entre."


Eu sabia o que viria à seguir e isso me deu um frio desconhecido na barriga. Era só uma sacola, mas que me faria dar um passo fora do meu egoísmo constante. Seis passos era tudo o que Sarah precisava para entrar, mas ela demorou um pouco mais.


"Senhor Delatour, desculpe a demora. Seu irmão está aqui e disse ser importante. Prefere atendê-lo antes?", apenas seu rosto e longo cabelo estavam para dentro da sala.

"Não! Tudo para ele é importante e tudo termina em dinheiro. Ele pode esperar.", rolei os olhos. "Diga para aguardar um minuto e depois conversamos, os três juntos. Agora eu preciso da minha sacola!"

"Ele pediu um minutinho.", sorriu para alguém que deveria ser Edward e então entrou na sala. "Aqui está. Eu tentei não pegar uma sacola chamativa..."

"Isso é perfeito. Obrigado.", acenei com a cabeça sem prestar muita atenção na sempre detalhista loira.


Meus dedos tocaram um tecido fino e sensível que puxei para minha mesa. Uma pequena, realmente pequena, roupa branca de bebê estava misturada entre papéis, sobre a minha mesa bagunçada que jamais planejou ter contato com isso. Voltei a colocar o braço na sacola de papel e retirei uma caixa transparente com um par de sapatos. Rio um pouco, pois não consigo imaginar que alguém seja tão pequeno para caber onde mal cabe meu dedo, e brinco, por um momento, com o par. Analiso o conjunto à minha frente. É tudo tão menor que eu. Menor até do que Cassandra! O minúsculo ser que couber dentro disso, terá que ser protegido como ninguém. 

Não sei de onde surgiu essa vontade repentina de comprar uma roupinha, mas eu queria mudar a situação e deixar de aparentar que eu era apenas um homem de promessas. Ser pai mudou todo o cenário para mim. Essa posição nunca esteve em meus planos, mas ao entender a dimensão do que sinto por aquela garota, tudo o que precisamos é de mais laços que nos unam. Sei que somos um casal desfuncional e que essa criança ainda não tem o ambiente que necessita, mas eu já estou cuidando de mudar essa situação. De maneira estranha, para mim, me pego sorrindo para os objetos antes de perceber que a gentil Sarah ainda está parada próxima à mesa. Sigo.


"Como havíamos conversado há alguns dias, hoje é o seu último dia na Companhia...", dobrei a roupinha ao meu modo enquanto falava.

"É uma pena, eu aprendi muito e gostaria de continuar crescendo por aqui. O Senhor comentou que tem algo para me indicar... É verdade?", franziu o cenho, confusa.

A AmanteOnde histórias criam vida. Descubra agora