É sempre torturante deixar Cassandra em casa, ainda mais depois da última semana. Jamais foi costume meu dormir com mulheres que eu fodia na rua — pois esse era o único prazer que eu ainda tinha com Carla. Acredito que era a minha forma de respeitá-la, bem como ao nosso casamento, mas isso parece ter mudado. Até porque foder não é tudo o que essa garota e eu fazemos. Há mais. Mesmo ela se mostrando tão forte e independente, algumas vezes, há momentos em que seus olhos apelam por proteção. E quando eu digo proteção é no sentido afetivo, porque no financeiro, ela— e diferente das outras, rejeita totalmente.
Tudo o que eu queria após o beijo na frente de sua casa era entrar e continuar ou ao menos vê-la dormir despreocupada, com pouca roupa e ao meu lado. Em Seattle parece que as pessoas não conseguem ser e se dar totalmente logo de cara, pois sempre há um empecilho, um problema, uma sensação ruim... E no nosso caso, haviam todos. Eu não faço o tipo sensitivo e ela bem sabe, mas ao me despedir, senti que algo estranho ia acontecer, uma espécie de fisgada tomou conta do meu peito. Olhei em volta, como se estivéssemos sendo vigiados, mas não encontrei nada, assim que preferi não preocupá-la e parti rumo ao carro.
"Thomas, dirija como se fôssemos para casa, mas dobre o quarteirão e estacione.", disse, enquanto notei uma Land Rover preta estacionada quase ao fim da rua.
"A senhorita Hale irá voltar?", me olhou pelo retrovisor.
"Não. Eu quero observar algo."
Ele não contestou e seguimos ali até que o carro desaparecesse. Talvez fosse parte de uma alucinação minha, mas aquele bairro não tinha esse tipo de carros com facilidade. Meu palpite e meu julgamento poderiam estar errados, mas aquele aperto estranho no meu peito só desapareceu quando o carro dirigiu e desapareceu pela escuridão dos próximos quarteirões e nós fizemos o mesmo.
Vários minutos mais tarde, eu estava finalmente em casa e com finalmente, eu digo pela estafa que eu estava. Viagens cansam e um homem após uma boa foda necessita de um descanso. Abandonei as malas no hall principal e comecei a desabotoar minha camisa ali mesmo, rumo à escada, quando escutei passos da cozinha e me virei.
"Olá, Adrian. Fez uma boa viagem?", Carla segurava uma xícara de chá, enquanto seu penhoar branco ainda balançava, após seus passos até onde eu estava.
"Sim... A cidade é sempre calorosa e fascinante. Você sabe.", arrisquei um sorriso, mas eu estava cansado demais. Desci um degrau para analisá-la melhor. Ela queria informações e eu segui. "Apesar de não ter podido ver nada. Trabalhei como se estivesse aqui."
"Na cama da sua putinha?", me deu um sorriso mortal e eu revirei os olhos.
"Nós já conversamos sobre isso, mulher. Não há nada entre Cassandra e eu.", seus olhos pareciam mais duros. "O que ia querer com aquela garota? Tenho certeza que você a assistiu."
"É claro que assisti. A atrevida teve o descaro de falar de mim. Como você permitiu? Se aproveitou da minha fama!", apontou seu peito sobre a camisola.
"Eu não a forcei dizer aquilo, mas a linha de raciocínio dela foi boa, Carla! Por Deus!", bufei. "Ela agiu rápido! Você preferia que Cassandra dissesse que não tem relação alguma com você e que isso a apontasse como a amante de Adrian Delatour?"
"E ela é a amante?", gritou, avançando-se contra mim, derramando um pouco de chá e me dando um empurrão que não me fez mover um centímetro.
"Não existem amantes entre nós.", segurei seus braços e cerrei os olhos, depois fitando-a por um momento antes de subir.
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A Amante
RomanceCassandra Hale é uma garota sonhadora e de caráter forte, mesmo com o passado traumático o qual ela tenta esconder. Seu maior sonho é se tornar uma cantora famosa, mas isso ainda parece distante. Até que em um dia chuvoso, como normalmente Seattle...