Capítulo 15: A Vigarista (Parte II)

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Drew se senta, e acende o abajur ao lado da cama. Sua expressão está curiosa e preocupada.

- Aconteceu alguma coisa?

É tarde demais para voltar atrás. Mesmo que eu quisesse, já não conseguiria esconder a verdade. Eu sou uma mulher adulta, e devo aguentar as consequências de minhas escolhas. Só não sei se sou eu, ou as tequilas falando isso.

- Não devia ter falado assim, minha cabeça está rodando.

Ele acena, e se levanta. Volta um tempo depois com uma garrafa d'agua e um copo.

- Beba, vai ajudar. - diz me entregando a água.

Bebo em silêncio, ciente que seu olhar questionador está analisando cada movimento meu.

- Agora você já pode me contar. - sua voz sai firme, a expressão está séria.

Vou abrir a boca para finalmente falar, mas justo nesse momento uma náusea forte me atinge e levanto correndo tropeçando em tudo até chegar ao banheiro.

Drew se abaixa ao meu lado e me ampara enquanto boto tudo para fora. Ele faz movimentos circulares em minhas costas e, segura meus cabelos. Com certa dificuldade me levanto, lavo meu rosto na pia e escovo os dentes em seguida. Apesar de tudo ainda rodar um pouco consigo focar em Drew na porta com os braços cruzados, me encarando.

Suspiro, sabendo que não tenho escolha. E mesmo que eu quisesse fugir disso, não conseguiria.

- Você tem sido sincero comigo, creio que eu também deva ser.

- E já não é? - arqueia uma sobrancelha.

- Não. Quer dizer, sou. Mas não do jeito que você pensa. - passo a mão no rosto, sabendo que não estou fazendo sentido. - Olha, é melhor a gente se sentar.

Falo isso não por conta do conteúdo da conversa, mas sim, porque o chão se movimentava. Mesmo que não estivesse rodando tanto mais.

Seguimos para o quarto, onde eu sento, mas ele prefere ficar de pé.

- Eu disse aquelas coisas - que já nem lembro o que -, por que eu não sou como você pensa. Drew, eu nunca vali muita coisa, mas eu meio que aplicava alguns golpes nas pessoas.

Encaro-o, esperando uma reação. Andrew ri de leve, e então começa a gargalhar. Lágrimas saem dos seus olhos, e ele segura a barriga. Continuo séria. Ele não estava botando muita fé em mim.

- É sério isso? - pergunta se recuperando.

- Sim. - respondo.

Ele não parece chateado apenas um pouco surpreso.

- E como era isso?

- Eu fazia o que era contratada para fazer. Algumas chantagens, descobrir algumas informações. Entreter um marido enquanto a esposa foge com o amante. Sei lá, eram muitas coisas.

- Entendo. E você não faz mais? - pergunta, desconfiado.

- Não. Eu não consegui concluir o último que fui contratada.

- E por que não? - indagou.

Pela forma que me olhava, eu percebi que ele já estava entendo aonde eu queria chegar. E não estava gostando.

- Por que eu me apaixonei, e não pude continuar. - opto por ser sincera. Já estou na chuva, é melhor me molhar.

- E o que isso tem a ver com as coisas sem sentido que você dizia?

Eu sei que ele deve imaginar a resposta. Mesmo que o que ele imagine esteja bem longe da verdade, eu sei que ele desconfiava. Não seria uma pessoa normal, se não desconfiasse.

A Vigarista (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora