Copa do mundo!

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Jogo da seleção acompanhado de Jonas num bar tela de plasma. K-rol e Alberto haviam marcado um motel beira de estrada. Fogos e gritos, gol do Brasil para a felicidade dos meus companheiros do estabelecimento. Um potente cheiro me persegue;

Gozo?

Sinto de longe o teor. Será essência escorrida das pernas?

Afinal masturbava-me no canto do Box mentalizando os seios de K, antes de Jonas bater na porta gritando sobre a estreia dos canarinhos.

Alguém morreu no banheiro ou de lá mesmo alguma menina engole pela boca?

Hesitações, sentado de frente a uma Faraday que constata fácil goleada pelas estrelas do nosso futebol.

Delírio nacional.

Dúvida aparente na mente da torcida;

Vai ser fácil levar o troféu?

Donde provinha o aroma carnal?

Nem de longe dos desinfetantes tóxicos das empregadas que ali se encontravam, nem da naftalina exposta no banheiro.

Muito menos das plantas de plástico que revestiam o ambiente verde, samba, azul, mulata.

Tão pouco das batatas fritas no meio da mesa molhadas pela espuma corrente dos copos de cerva barata.

Por um instante entre a euforia do povo, alegria de mais uma vitória democrática. O salário broxante, contudo teremos orgasmos pela pátria das chuteiras de milhões de dólares. Pólvora com fragrância do contentamento das caras pintadas, camisas amarelas, crianças hepáticas. Risos amarelos do café servido de graça.

Felicidade não se compra?

Consome-se como café barato!

Pólvora que não mata, morre apenas na minha cabeça no segundo tempo o forte perfume de porra, que Suskind saiba;

Seu assassino teria prazer por nós.


08:31


Imagine uma roupa de gala. Elegante, finíssima, ousada e sempre na moda.

Mas.

Pense agora neste mesmo traje sendo visto como trapo velho de um mendigo, o que houve com o galã?

Quem importa... A roupa que vestimos ou quem somos?

Que olhos julgadores dirão ao certo o que devemos fazer.

O que devemos ser?

O tempo esgotou ou ela perde o sentido que outrora possuía.

A roupa.

A vida será assim também?

Quiçá um sentido haver.

Agora olhe os pombos como uma grande analogia.

Durante guerras eles são vistos como heróis atravessando de um lado para o outro, arriscando suas penas.

Contudo mundo muda e enxotados pela alcunha de ratos de asas.

Era a guerra sua indumentária existencial?

Ou eles devem cortar suas asas para despistarem os olhares críticos?

Um livro relatando suas vidas destruídas, uma família de pombos onde o avô é um ex-soldado e o seu neto um mendigo que cata lixo junto a seus pares punks. Tristeza contida nas gerações.

Sobrenome que no passado lembrava algo mais nobre e importante. Hoje em dia nem um prato de comida daria pra ganhar com ele.

Imaginou?

Pois esse é meu livro, a grande inspiração que tive pela fresta fumando meu cigarro. Essa ideia que tive aos vê-los no telhado alheio. Claro que envenenei o sangue para melhor visualizar toda a cena. Felicidade percorria cada parte do meu grande corpo e pela primeira vez entendi o significado maior de toda aquela gordura, toxina, perversão. Ganhar dinheiro escrevendo coisas alternativas pingando o verdadeiro semblante da nossa sociedade.

Fútil e preconceituosa!

Portanto não foi surpresa nenhuma para este novo autor quando li o roteiro ao meu professor e ele indicou-me um psicólogo cujo passatempo era afirmar sermos irmãos pelos cogumelos adquiridos ao som do Pink Floyd. Matrícula trancada na faculdade sem previsão de retorno as letras. Família chocada quando descobriu maconha no quarto e pulmão ferrado do filhinho. Menos mal que guardei o pó e o final da historia para mais tarde.


19:53


No dia seguinte descobri o motivo de sua brusca saída do Manu lanches, o rosto sem cor, paralisado, distante de todos há dias. De inicio não pude crer naquilo de que se tratava. Jonas renunciara sua antiga vida, seus vícios e hábitos para entrar na igreja da sua mãe. E de tão agradecida pelo milagre resolveu doar todo o dinheiro da pensão para as obras.

Deus agradece!

Jonas dissera que ouvira vozes nestas últimas semanas ordenando salvação da alma ou perdição eterna no inferno. O ser celestial chamava-se também Jonas. Na verdade seu anjo da guarda, porque mais tarde sua mãe contara numa certa manhã cujos raios solares batiam em seu rosto e pela janela ela viu uma criatura cheia de paz. Esta mesma imagem escolheu o nome de batismo do filho dela.

Jonas.

A coisa começa a ficar complexa!

Jonas ajoelhou e prometia ao narrador seguir um caminho puro e santo. Largaria qualquer empecilho de sua diretriz básica.

Visões aladas, loucura, efeito de algum bosta de vaca, ele sempre teve uma força de vontade diferenciada.

Ainda criança Jonas assistiu ao um documentário sobre animais maltratados no abatedouro. Nunca mais comeu carne.

Sempre travesso sempre soltava galinhas das suas prisões e odiava pet shops.

Ninguém notava essas atitudes por que ele não as realizava para ser lembrado como herói.

Comum ele dizer que consistia em obrigação.

Apesar das estatísticas contra um pesado viciado que fora Jonas por toda sua vida, passado. Não botou coisa alguma mais no nariz ou na boca.

Qualquer coisa mesmo, visto que tinha hábito de cheirar café quando assustado descobria que a coca acabara.

Perdia neste momento um primo e amigo para deus e sua corja de adoradores.

O que poderia servir para ajudar trouxe apenas ódio ao peito e uma verdade.




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