5. À pão e água!

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***


A Primeira semana se passou com todas as meninas animadas. Recebi a visita da Harper que disse que a qualquer momento que eu quisesse, poderia voltar pra casa, mas eu estava começando a me apegar às meninas.
- Está gostando daqui?
- Por incrível que pareça... Estou. Sem
falar que Judith e Sasha são ótimas companheiras de quarto.
- Esse era seu plano?
- Nunca houve planos... Só queria sair da minha realidade. Esquecer tudo.
- Bom... Vou precisar fazer uma viagem, estarei fora no máximo duas semanas ou três semanas. Rever meus pais agora no final de ano. Quando voltar venho te visitar.
- Obrigada e Harper... Tem como alguém aqui descobrir minha vida?
- Não acredito nisso. Por quê?
- Não quero que ninguém saiba do meu passado. Só isso. Quem eu sou...
- E quem poderia saber além de mim e da Japsen?
- Não gosto da Richertson...
- Bem vinda ao time!
- Bom, mas seus pais estão bem?
- Sabe como funciona... A idade vai chegando e os problemas vão surgindo. Mas nada demais. - ela falou, pois essa deveria ser a ordem natural da vida. morrer bem velhinhos e não sendo mortos sem dó ou piedade por escolhas medíocres e egoístas. Que foram atitudes minhas...
- Me liga qualquer coisa?
- Ligo sim... Vou sentir saudades.
- Mannuelle vai sentir saudades? Que bicho te mordeu?
- Melhor eu ficar calada, não é mesmo!
- Estou brincando Manu, e feliz por você começar a demonstrar alguns sentimentos. Seja por mim ou até mesmo pelas garotas que vivem aqui.
- Então não fala mais nada.
- Vamos deixar acontecer naturalmente, okay!
- Okay!






***

As duas semanas passaram voando e Já estávamos na véspera do chá para as garotas aqui na instituição. Era pra acontecer um mês antes do baile, mas atrasou e mesmo assim ninguém falavam em algum outro assunto que não fosse esse. A empolgação era demais e não me admiro, pois o que essas garotas tinham aqui era apenas cuidados, alimento e teto. A maioria nem um lar teve, não conheceu o abraço e o carinho de uma mãe e um pai. Também nunca puderam se dar ao luxo de uma paquera e até mesmo o primeiro beijo que geralmente acontece na adolescência.
Mas nem todas estavam apenas se preocupando com o chá ou com o baile que seria umas duas semanas adepois, como por exemplo a Ester, que a cada dia que passava tentava me provocar em toda oportunidade que surgisse. Inclusive durante as refeições, agora ela dava para me vigiar. Sim, e se acontecesse algo para que eu não quisesse comer tudo, como por exemplo molho vermelhos de macarrão ou qualquer outro tipo de massas, ela com certeza me prejudicaria.
E numa dessas vezes, fui obrigada a comer até passar mal. Sim, a senhora Richertson ficou ao meu lado, esperando eu comer tudo, pois a garota que me perseguia, percebeu que a Sasha ia trocar o prato dela com o meu.
O pior veio após a terceira garfada. Meu estomago todo se revirou e juro que tentei segurar, mas não consegui.
- Que nojo! - ouvi gritos e a não ser Sasha, Judith e Selena, todas se afastaram de mim.
- Insolente! Fez de propósito! - Richertson gritou.
- Senhora, desculpe, mas a Manu está passando mal... - Judith tentou mas foi obrigada a calar a boca.
- Estou melhor Ju, não se preocupe...
- Ótimo! Agora limpe essa sujeira toda!
- Me obrigue! - parecia que aquela velha Emmanuelle, aquela que não se preocupava com ninguém a não ser ela mesma, estava de volta.
- O que acabou de dizer?
- Que não vou limpar nada! - sem me dar conta, estava chorando e corri para o quarto.
Claro que aquela mulher iria proibir as meninas de virem atrás de mim. Era até melhor... Assim pelo menos ninguém me veria chorando. Sempre detestei chorar na frente das pessoas, principalmente das desconhecidas.
Quando enfim as meninas entraram no quarto, fingi que estava dormindo. Elas não comentaram nada e logo o quarto estava submerso em total escuridão e silencio.



...


- Bom dia Manu... - ouvi vozes baixinhas falarem comigo. Sentia meus olhos arderem e meu corpo todo doía que parecia ter levado uma surra - Levanta, vamos tomar café... - Sasha falou.
- Estou sem fome... E... Não...
- Precisa comer... Como se sente?
- As vezes não comer antecipa nossa morte...
- Não fala isso! - Judith pediu - Não queira morrer...
- Seria melhor... Não tenho ninguém...
- E nós? O que nós somos? Se eu entendi bem, fizemos uma promessa uma a outra aqui...
- Desculpa não termos conseguido te ajudar ontem...
- Não foi culpa de vocês.
- Afinal, quando se tem Ester na jogada, tudo pode dar errado para nós.
- Ela vai se arrepender. - Sasha soltou.
- Não vai... Ela me odeia. E vai continuar assim até me ver longe daqui.
- Vamos descer...
- Não... - falei sem ânimo algum - E ontem... Quem limpou aquela sujeira?
- Nós e a Selena...
- Aquela megera obrigou vocês a limparem?
- Sim... Mas a Selena se ofereceu.
- Me desculpem...
- Não foi por que quis...
- Ninguém está te culpando e vamos sempre estar juntas.
- Obrigada meninas... Eu sinceramente não mereço isso.
- E quem merece algo aqui? Ester é a primeira da fila. Já deve ter uns vinte anos...
- Que bom que já estão acordadas. - Richertson entrou pelo quarto sem ao menos bater na porta - As duas ai, saim agora.
Fechei meus olhos esperando o pior.
-  Sua punição pela afronta de ontem é simples. Não vai participar do baile e muito menos do chá. A propósito, pelo menos no chá, você vai participar sim. Mas na cozinha e no máximo servindo. E quando Anne Cox chegar, diremos que está doente e precisou ser substituída... Pela Ester. Até lá, não sairá desse quarto e como o que tem pode ser contagioso, vai ficar sozinha. Suas companheiras de quarto vão para outros quartos.
- Isso não é justo!
- Quem aqui falou em justiça? Afinal você me desacatou na frente de todas as meninas. Aquele bando de demônias. Já imaginou se elas começam a fazer o mesmo que você fez? O que pode acontecer?
- É pra responder senhora? - juro que tentei, mas acabei soando com sarcasmo.
- Insolente. Onde está o seu sapato que a Anne enviou?
- É meu! Ela mesmo me deu!
- Era seu! Ester precisa de algo mais atraente e sei que o seu é lindo.
- Façam bom proveito pelo roubo!
O que veio seguir foi uma ardência em meu rosto. Aquela mulher havia acabado de me bater? Como ela ousava?
- Que isso fique de lição! E nem adianta pedir socorro a Japsen. Ela vai ficar muito tempo ausente! - ela falou ao pegar a caixa com o sapato e antes de sair do quarto voltou a falar - Sua alimentação será leve. Não irá mais passar mal. Pão e água, o que acha? - saindo, fechou a porta e a tranou por fora.
Seria necessário eu chorar e gritar. Talvez isso aliviasse a dor que sentia em meu coração desde que me dei me conta que eu era uma pessoa fria e sem sentimentos. Mas talvez, esse agora seria meu castigo.
Meu castigo...
Após algum tempo, ouvi batidas na porta, e chaves girando na mesma. Observei uma mulher que não conhecia deixar um copo e um prato. Sim Richertson não estava brincando.
Pão e água.
Tentei ao máximo não comer, aquilo poderia até estar envenenado, mas meu estomago já doía pela fome e devorei em menos tempo do que imaginei. Ali eu só tinha noção do tempo devido os horários que eram trazidos as refeições.
Foram assim que os dias se seguiram, da mesma forma. E já nem sei quantos dias estou aqui.





***

ESTER*

Richertson poderia ser uma mãe para mim! Em tudo ela tem cuidado de mim e até mesmo deixando meu caminho livre da novata idiota. E isso foi mais fácil do que imaginei. E agora estamos prontas para o chá da tarde e esperando as ajudadoras da instituição. Ouvi falar que os donos que criaram o lugar morreram e não tinham herdeiros para cuidar do lugar.
- Vamos Selena! - chamei a morena ao meu lado.
- Pode descer, eu já vou...
-Está se afastando de mim por qual motivo mesmo?
- Você sabe que a Manu não está doente. Se pedir para a senhora Richertson, ela libera a Manu do castigo, por que isso sim é castigo.
- Eu não sei de nada. Não sou médica!
- Não é... Eu sei... Vou só prender meu cabelo, e já desço. Se quiser ir, pode ir!
- Vou mesmo. Nos vemos no salão! E não se esqueça do nosso acordo!




HARRY*


- Estou tão feliz que vocês concordaram em vir comigo!
- Claro que viríamos com você! Esse é seu maior orgulho e nós te apoiamos! Não é mesmo Harry!
- Claro mãe! Mas...
- Qualquer coisa, você fica na secretaria filho, mas seria bom você dar uma palavrinha com elas.
- Fique tranquila dona Anne! Vai dar tudo certo! - era o que eu queria pensar.
Mas quando entramos naquele prédio, tive uma sensação estranha. Era como se fosse um arrepio passando em todo o meu corpo, foi rápido.
Minha mãe entrou no pátio primeiro, onde já havia algumas senhoras da alta sociedade. Procurei ver se haviam entre os 'associados' alguém com quem conversar e me surpreendi com Johannah, mãe do Louis. Com certeza a convite da minha mãe. Ela acenou nos convidando para sentarmos junto dela e assim o fizemos.
- Harry querido! - ela me abraçou como sempre fazia, quase quebrando meus ossos.
- Olá Jay! - de repente, percebi várias pares de olhos fixos em mim. Sorri com vergonha e olha que era difícil eu ficar assim e tratei de sentar logo.
- Boa tarde a todos! - uma mulher que sinceramente mais parecia um general de guerra começou a falar - Sejam bem vindos ao primeiro chá da associação para garotas em parceria com nossas queridas assistentes que tiveram a ideia e estão oferecendo esse ano! - ela falava dando ênfase em tudo - Agora, quero convidar para falar algumas palavrinhas ao microfone, Anne Cox, a presidente das assistentes voluntárias! Obrigada por ter vindo Anne!
- Obrigada Richertson... - minha mãe sorriu alegremente. Eu sabia que ela estava feliz -Estou muito feliz por estar aqui essa tarde. E ansiosa mais ainda para o baile em poucas semanas! Mas estou sentindo falta de uma garota. Já procurei pelo salão inteiro e não consegui a ver.
- Estão todas aqui! - a mulher que antecedeu minha mãe falou.
- Então ela está escondida! Manu apareça! - minha mãe pediu e ninguém se manifestou, apenas um silencio repentino - Aconteceu alguma coisa com ela? Por que ninguém me avisou nada.
- Não senhora... Ela apenas não se sentiu bem... E está acamada. - uma garota falou baixo e se não me engano, percebi um olhar severo da mulher para a garota.
- Se é assim, quero vê-la antes de nosso chá terminar. E Jay, pode vir comigo... - a mulher ao meu lado concordou e pareceu que o clima ficou tenso.
Fora isso, a tarde foi boa. As garotas prepararam um desfile simples e algumas delas até sabe tocar violão, então cantaram e convidaram Gemma e a mim para participar. Não podíamos negar. Por fim, tiramos algumas fotos.
- Então senhora Richertson, está na hora de ver a menina Manu...
- Só mais um momento, vou mandar alguém levá-la a minha sala.
- Se ela está de repouso, não! Vou até o quarto dela, agora!







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Anne é The Best!!!
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Bjs !!!

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