- Você tem certeza disso? - Elisa perguntou-me novamente.
- Não, não tenho. Mas não vou deixar aquele cretino ter qualquer lembrança da minha mãe. - expliquei.
Antes de girar a maçaneta da porta virei-me para ela:
- Obrigada por estar fazendo isso, Elisa.- Sou sua amiga, Camila. Vou fazer o máximo que puder para ajudá-la, mesmo que eu não concorde com isso. Você conhece o seu padrasto, ele vai ficar furioso quando descobrir.
Suspirei.
- Ele não tem o direito, Li. - sussurrei com os olhos marejados. - Não tem o direito de ir dormir à noite e chorar pela morte dela, não tem o direito de dormir agarrado as coisas da minha mãe lamentando sua perda.
Espero que se ele acordar do coma, passe o resto de seus dias se culpando por tudo que fez a ela.- Você precisa aprender a perdoar, Cami. Não por causa do Leonardo, que não merece, mas pro seu próprio bem.
Sorri entristecida e abri a porta do quarto. Ele estava completamente escuro, tateei a parede até encontrar o interruptor e acender a luz. Olhei cada pedacinho daquele quarto, tentando decorá-lo em minha mente. Sua enorme cama arrumada perfeitamente com a linda colcha de retalhos que minha mãe havia feito, na parede oposta a cama estava o guarda-roupa de casal. Suspirei e olhei para Elisa, ela segurava uma das caixas de papelão que encontramos no depósito e tinha um sorriso encorajador no rosto.
Fui diretamente ao guarda-roupa e abri as portas do lado esquerdo, onde eu sabia que ficava as coisas da minha mãe.
Silenciosamente, peguei suas roupas e fui depositando cuidadosamente dentro da caixa, lembrando de tantas lembranças que elas me traziam, nem todas eram boas. Estávamos quase terminando quando me deparei com o que parecia ser um livro de couro. Imediatamente o peguei.- Está trancado. O que acha que pode ser? - perguntei à Elisa.
Ela pegou o livro e o analisou. Quando olhou para mim, parecia animada.
- Deve ser um diário. Camila, esse diário deve estar aqui há muito tempo. Talvez encontre, até mesmo, informações sobre o seu pai. - falou animada.Entrecerrei os olhos.
- Eu sei o que aconteceu. Ele abandonou a minha mãe quando eu tinha meses de vida, provavelmente deve ter casado e formado uma família.- Isso foi o que sua mãe disse - ressaltou. - Toda história sempre tem dois lados, Camila.
- Está sugerindo que minha mãe mentiu pra mim? - indaguei irritada.
- Eu não disse isso, na verdade a sua mãe nunca te contou muita coisa, não é? Nem mesmo sua avó sabe o que aconteceu entre os dois. Eu admiro sua coragem em viajar quilômetros de distância atrás do desconhecido, mas não vai adiantar nada se você chegar lá com quatro pedras na mão.
Sentei-me no chão e e me encostei à parede.
- Eu sei que eu deveria ser a garotinha que está louca pra conhecer o pai e descontar todo o tempo perdido, mas eu não sou essa garota. Eu preciso dele, mas não consigo deixar de culpá-lo pela vida que a minha mãe sofria.Elisa sentou-se ao meu lado.
- Meu pai foi embora de casa quando eu tinha doze anos - olhei imediatamente para ela quando começou a falar sobre o seu pai, Elisa nunca tocava nesse assunto. - Ele nos abandonou e foi morar com outra mulher, ele não olhou para trás, abandonou a esposa e seus três filhos e nunca ligou. - seu olhar vagava perdido e lágrimas escorreram por seu rosto. - Você sabe o quanto eu daria para tê-lo de volta?Eu sabia. A situação de Elisa era tão ou até mais ruim que a minha, ela sabia o que era o amor de um pai, teve isso durante toda a vida, mas de repente esse privilégio foi arrancado dela e por vontade própria dele. Durante algum tempo eu era a única pessoa que ela se sentia à vontade para desabafar, Elisa é a caçula da família e era a garotinha dele. Ela o odiou, mas agora só restava o desejo de tê-lo de volta em sua vida. E agora ela estava vendo a melhor amiga desdenhar da oportunidade de ter um pai.
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Um Pai em Minha Vida
Teen FictionCamila vive com sua mãe e seu padrasto no interior da Bahia. Apesar de ter apenas 15 anos seu coração é cheio de mágoas. Ela odeia seu padrasto, um homem cruel que maltrata sua mãe.E odeia ainda mais o seu pai, o homem que ela nunca conheceu, o home...