Capítulo Dez

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Toda vez que eu me lembrava da minha atitude idiota sentia vontade de procurar um buraco e me enterrar lá dentro. Onde eu estava com a cabeça quando decidi aparecer na casa do Henrique? O que eu ganhei com isso?! Só causei uma situação constrangedora para nós dois e, claro, pude ver com os meus próprios olhos o que eu sempre soube: ele era feliz com a sua família e eu era a intrusa ali.

Respirei fundo, tentando ficar calma, mas parecia impossível. Minhas mãos estavam tremendo, meu coração batia acelerado e eu me sentia prestes a vomitar. Poucos dias se passaram desde que o resultado do exame saiu e eu fui até o apartamento do Henrique, mas ele já tinha a minha guarda. Era oficial, ele era legalmente responsável por mim. Minha avó partiria hoje, ao meio-dia e eu iria morar com o meu pai e sua família. Uma estranha invadindo a sua vida.

Olhei em meu relógio de pulso e vi que já eram nove da manhã, ainda não havia comido nada hoje. Resolvi ir a uma pequena lanchonete aqui perto do hotel, tinha que engolir alguma coisa.

Assim que abri a porta de vidro, fui envolvida pelo agradável cheiro do lugar. Avistei a minha avó sentada em uma mesa próxima à vista da rua, mas, apesar de estar de frente para mim, não percebeu minha chegada. Estava muito atenta ao homem de cabelos grisalhos sentado em sua frente, ela agia assim desde que ele nos encontrou, há três dias.

- Bom dia! - cumprimentei ao me aproximar.

- Bom dia, Camila! - vó respondeu, sorridente. O sr. Otávio levantou-se e beijou minha mão.

- Bom dia, minha querida! - ele puxou a cadeira vazia para que eu me sentasse. Agradeci e, assim que eu me acomodei, sentou-se em seu lugar.

- Como você está? - perguntou depois de beber um pouco de seu café.

- Estou bem, obrigada. - sorri educada.

O garçom apareceu e, mesmo estando prestes a passar mal de ansiedade, pedi uma fatia de torta de chocolate e uma Coca.

- Como você está se sentindo sobre todas essas mudanças em sua vida? - insistiu.

- Ah, eu estou bem. - de jeito nenhum eu iria falar sobre as minhas emoções com o sr. Otávio, mesmo ele sendo completamente diferente do filho.

Para minha sorte, o garçom apareceu trazendo a minha tão desejada torta. Infelizmente, o meu quase-avô continuou me encarando, enquanto tomava o seu café lentamente, esperando que eu falasse a verdade. Olhei para minha avó, nervosa.

- Não tenha receio de ser sincera com o Otávio, querida. - ela aconselhou-me, com um sorriso amável e bebericou seu café. Olhei de volta para ele, me perguntando se esta era uma boa ideia. Afinal, seria bom ouvir o que uma pessoa que estava fora da situação tinha a me aconselhar, não é? Mesmo que essa pessoa seja o pai do meu padrasto.

- Eu estou apavorada. - confessei.

- Do que, exatamente, você tem medo? - perguntou-me. Abri a latinha e despejei a coca dentro do copo descartável, protelando minha resposta.

- Eu não sei. Eu não tenho ideia de como a minha vida será daqui pra frente. Serei obrigada a conviver com pessoas totalmente estranhas, conviver com o pai que nunca conheci. - expliquei.

- Sua reação é perfeitamente normal, Camila. Eu só te peço que mantenha o coração aberto. Eu conheço o Henrique, ele é um bom homem. Ele não é do tipo que foge das responsabilidades.

- De onde o senhor conhece ele? - questionei.

- Ele é sobrinho da minha falecida esposa.

- O meu pai e o meu padrasto são primos? - consegui perguntar em meio ao choque. Olhei para vó, em busca de uma resposta, mas ela olhava para o sr. Otávio parecendo tão atordoada quanto eu.

Um Pai em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora