Capítulo Treze

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- Olhe, Camila! Meu desenho está bonito? - peguei a folha que a Melissa quase esfregou em minha cara e a afastei para conseguir enxergar.

- Quem são essas pessoas? - perguntei curiosa.

- Aqui. - ela apontou para um homem que vestia terno e tinha os olhos e cabelos pretos. - é o papai. E esta é a mamãe. - o desenho de uma mulher de cabelos castanhos e que usava um vestido vermelho. - Aqui somos nós duas.

Observei as duas personagens à minha frente. A primeira era menor e usava um vestido amarelo cheio de flores cor de rosa. A segunda não estava tão colorida, usava um vestido preto, como a cor de seu cabelo. Parecendo tão deslocada naquele desenho.

- Hum. Suponho que aqui seja a Sofia. - comentei ao ver o desenho da garota mais magra que o resto do grupo.

- É, sim. Dá pra saber? - ela perguntou.

- Com certeza. - afirmei com o riso contido.

- Engraçadinha! - Sofia, que estava distraída com o celular, comentou com deboche.

Fomos interrompidas pelo som da campainha. Em um instante, Melissa levantou-se do chão e foi atender a porta.

- A dona Rute chegou. - Sofia sussurrou.

- Por que está sussurrando? - perguntei confusa.

- Porque ela é terrível. - sussurrou novamente, antes de se levantar, comigo a seguindo.

Um mulher, que devia ter uns 50 anos, apareceu em nossa frente com a Melissa logo atrás. Seu olhar me varreu de cima a baixo e ela não pareceu muito satisfeita com o que viu. Mas não deixei me intimidar. Levantei o queixo, cruzei os braços e a olhei em desafio.

- Você deve ser a Camila.

- E você deve ser a Rute. - devolvi.

Ela me olhou com evidente desagrado.

- E parece ser tão atrevida e petulante quanto a sua mãe. Aquela mulherzinha... - ela olhou para a Melissa e calou-se, como se não estivesse ciente da presença da menina.

- Por que se calou? O que ia dizer sobre a minha mãe? - insisti, ao invés de ficar quieta e esquecer suas palavras.

- Esqueça este assunto, minha querida. - sorriu com doçura. - Não vamos criar uma situação ruim entre nós. Já que, para minha surpresa, foi comprovado que você é sangue do meu sangue, vamos manter uma boa relação. Afinal, você é minha neta. - senti o sangue esquentar. Nunca fui de suportar gente dissimulada e já acabei em situações bastante ruins por causa disso.

- Surpresa! - desdenhei. - Parece que todos aqui tiraram suas próprias conclusões sobre este assunto e depois o enterraram durante esses quinze anos. Não ouse sujar o nome da minha mãe, sua velha nojenta. Você não sabe o que realmente aconteceu.

Como diz aquele ditado:"Quando um não quer, dois não brigam". Rute virou-se para a Melissa e avisou:

- Vá se despedir de sua irmã.

E assim ela fez. Segundos depois, vi a Melissa sair do apartamento. Rute, que já estava saindo, parou na porta e lançou-me um último comentário mordaz.

- Eu entendo a sua revolta. Deve ser difícil descobrir que sua mãe não é quem você pensa.

E fechou a porta.

Antes que eu tivesse um ataque e começasse a quebrar as coisas, ouvi um pigarro atrás de mim. Mas é claro! A minha nova vizinha tinha presenciado toda a minha humilhação.

Um Pai em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora