Capítulo Dezoito

1.1K 81 11
                                    


- E então? Gostou do filme? - Henrique perguntou assim que saímos da sala de cinema.

- Eu adorei. - sorri, verdadeiramente feliz.

Não que eu fosse muito fã do Cavaleiro das Trevas, minha alegria vinha de algo bem mais profundo. Acho que pela primeira vez eu me sentia completamente à vontade ao lado do Henrique. Nunca fiz esse tipo de atividade com o Leonardo e a minha mãe. Quer dizer... a gente saia de vez em quando, mas eu sempre me sentia pisando em ovos. Não era uma atividade em família muito normal.

- Está com fome? - ele me perguntou.

- Muita.

Paramos em uma lanchonete e pedimos um lanche. Só haviam algumas pessoas no local, então sentamos numa mesa mais ao fundo. Enquanto comíamos, Henrique me fez várias perguntas sobre mim. Nada de histórias de traumas, só perguntas que uma pessoa normal faria a outra.

Aos olhos de qualquer um, éramos só um pai e uma filha adolescente em uma tarde comum. Só nós dois sabíamos o quanto esse momento era frágil, que apesar dos sorrisos e das piadas trocadas, ainda havia vários degraus a percorrermos.

- Aquele garoto me ligou. - ele soltou em meio a nossa conversa.

- Que garoto? - perguntei com uma expressão confusa, mas já desconfiada de quem seria.

- Rodrigo Monteiro. Ele disse que tentou te ligar, mas não conseguiu. Parecia bem preocupado.

Me pergunto se meu colega intrometido usou essas palavras ou foi mais realista: " Apesar de muito custo, consegui o número de sua filha. Mas, infelizmente, ela me despreza e não atende minhas ligações nem responde minhas mensagens." Não! Conclui. O garoto é um covarde que não sabe nem ter uma boa conversa com uma garota inteligente. Modéstia à parte.

- Não precisa se preocupar com esse tipo de coisa. - o assegurei. - Ele é só um típico adolescente tentando atingir o recorde de " peguei todas as garotas da escola". O coitado não será capaz nem de ficar com todas da sala.

Ele me deu um sorriso satisfeito.

- Fico feliz que minha filha é uma garota inteligente. Não vai cair na conversa de nenhum moleque.

Eu, simplesmente, não vou cair, paizinho.

- Falando em escola... - um vinco de preocupação formou-se em sua testa. - Nós precisamos conversar sobre o que aconteceu com aquela menina.

- Pensei que já tínhamos conversado. - arqueei a sobrancelha, surpresa. Tanta coisa tinha acontecido que aquela briga parecia ter sido há séculos.

- Eu não chamaria aquilo de conversa. Escute, Camila. Entendo que você tenha ficado chateada com aquela garota, mas você não pode bater em todo mundo que contrariar você.

- Eu não costumo ser tão impulsiva. - ele arqueou a sobrancelha, sem acreditar nem um pouco em minhas palavras. - Não se preocupe, Henrique, tenho certeza que aquela patricinha não vai ousar olhar em meus olhos novamente. Tenho certeza que metade da escola pensa que sou louca e não vão se aproximar de mim.

- Isso me deixa muito tranquilo. - falou, irônico.

- Está um pouco tarde pra tentar me reeducar, não acha? - falei, azeda.

Ele suspirou, visivelmente cansado. Eu o entendia. Nem eu mesma me aguentava, às vezes.

- Acho que está na hora de irmos pra casa.


***

Os dias se passaram e Henrique estava realmente dedicado a me fazer sentir parte da família. Era uma mudança drástica de nossa situação anterior. Mas as coisas estavam bem mais tranquilas. E era impossível não fazer nenhuma comparação com minha antiga vida. Às vezes, estávamos almoçando e eu olhava aquelas pessoas e pensava: " Caramba, eu nunca estaria tão à vontade em minha antiga cozinha." E por mais que meu coração transbordasse de tristeza toda vez que pensava que eu só estava aqui porque minha mãe não estava mais nesse mundo, eu dizia a mim mesma que merecia ser feliz e não tinha nenhuma culpa se as coisas tinham acontecido dessa forma. E uma pequena parte maldosa de mim lembrava que minha mãe, durante toda minha vida, nunca procurou o Henrique para, ao menos, me afastar da presença do meu padrasto. A prioridade de uma mãe não era a felicidade de seus filhos? Mas, logo eu me repreendia por esses pensamentos. Quem era eu para julgá-la? Eu poderia ter feito coisa pior no lugar dela. Nunca fui muito altruísta.




Sejam bonzinhos. Votem, comentem. Sua opinião é importante para mim.
Bjs e até mais!

Um Pai em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora