Capítulo Dezesseis

1.3K 107 19
                                    

Apesar de ser sábado, acordei bem cedo. Mais cedo que qualquer habitante da casa. Eu me sentia leve, descansada de uma forma que não me sentia há um bom tempo.

Estava caindo um toró e o dia prometia ser bem frio. Então, peguei minha coberta, me deitei no sofá e fiquei assistindo alguns desenhos que eu não via há algum tempo. Minutos depois, Melissa apareceu bocejando e sem falar nada, afastou a coberta e deitou-se ao meu lado.

- Bom dia, pequena. - sussurrei.

- Bom dia, maninha.

- Eu adoro esse desenho. - comentei, quando vi começar na tv "Coragem, o cão covarde".

- Credo. Ele é assustador. - reclamou.

- E o que você prefere? Barbie? - debochei.

- Mas é claro!

Continuamos ali, deitadas e quentinhas, fazendo piadinhas vez ou outra sobre algum desenho que passava.

- Essa é uma bela visão.

Desviei meu olhar da televisão e vi o Henrique nos observando, com um sorriso no rosto.

- Bom dia! - murmurei.

- Bom dia! Faz muito tempo que estão aqui?

- Mais de uma hora. Depois dizem que nós, baianos, somos preguiçosos. - arqueei a sobrancelha, o desafiando a me contradizer.

- Eu mereço um pouco de descanso, não acha? O meu dia ontem foi bem cheio. - Apesar do sorriso, notei algo por trás de seu olhar.

- Vocês não vão brigar, não é? - a voz doce e infantil nos interrompeu.

Olhei pra Mel que continuava com os olhos fixos na tv, mas, percebi agora, estava atenta a conversa.

- Claro que não, meu amor. - Henrique aproximou-se do sofá e se agachou em nossa frente. - Por que achou isso?

- Vocês dois tem feito muito isso.

- Mas essas brigas acabaram, ok? - ele apertou a ponta do nariz dela, a fazendo rir.

Eu achava bonitinho como esses três eram carinhosos entre si, como eles eram capazes de expressar seus sentimentos sem dificuldade. Sempre pensei que esse tipo de família, unida e amorosa, só existiam na ficção.

Henrique olhou pra mim e pigarreou, parecendo nervoso.

- O que foi? - questionei.

- O meu tio me ligou.

- E? - sentei-me, imaginando o rumo que aquela conversa tomaria.

- Ele me contou que o Leonardo acordou do coma. Eu estava pensando, você não gostaria de vê-lo?

Minha primeira reação foi rir. Sério, foi involuntário.

- Qual é a graça? - ele perguntou, achando a situação nem um pouco engraçada.

- Desculpa, mas isso é tão inacreditável que minha primeira reação foi cair na risada. - me expliquei.

- Eu sei que, apesar de tudo, o Leonardo foi o único pai que você teve, Camila. Eu não vou impedi-la de vê-lo. - ele parecia incomodado em falar aquilo, mas se esforçou em dizer aquelas palavras. Caramba, ele realmente se preocupava comigo.

- Acredito que o diário da minha mãe não tenha lhe dado todas as informações sobre o que aconteceu em nossas vidas. - falei com cuidado, lembrando que a Mel ainda estava ali, a tv já esquecida. - Eu cresci sabendo que o Leonardo era o meu padrasto.

- Isso não significa que você não se preocupe com ele.

Eu poderia simplesmente dizer que não queria ir e que eu não queria mais falar disso. Mas como eu seria capaz de superar de verdade o meu passado? Deixar de falar sobre esse assunto não vai apagar tudo o que eu passei. Eu precisava me abrir com alguém. E se existia alguém que tinha o direito de saber sobre isso era o meu pai.

Um Pai em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora