Sofia foi compreensiva e não insistiu no assunto. Ficamos apenas conversando sobre coisas banais e apreciando o tempo fresco. Me sentei na borda da piscina, balançando minhas pernas na água, mas isso não durou nem cinco minutos. Recolhi minhas pernas da água e as cruzei. Eu me imaginava escorregando naquela piscina funda e não conseguindo mais retornar à superfície. Me debateria, desesperada por oxigênio, mas sem nenhum resultado. Eu costumo ser um pouco paranoica, admito. Mas eu não podia controlar. Tendo a transformar situações simples em algo desesperador.
Sofia riu quando eu disse que toda aquela água me deixava zonza.
- Caramba! Você já foi a praia? - ela olhou-me incrédula.
- Claro que sim. Eu molhava os meus pés, no máximo. - admiti.
Isso a fez rir ainda mais, o que me fez revirar os olhos.
- Você nunca quis aprender? - ela perguntou, quando conseguiu controlar o riso. - Se você aprendesse a nadar, não teria que se preocupar em morrer afogada.
- Uma vez meu padrasto se ofereceu pra me ensinar. Nós estávamos na casa da minha avó e ele pensou em aproveitar a piscina, mas eu recusei veemente. A última coisa que eu queria era dar uma chance para que ele tentasse me afogar. - brinquei, mas minha piada não obteve o resultado desejado. Sofia ficou me olhando, desconfiada.
- Quantos anos você tinha?
- Eu tinha uns dez, mas eu só estava brincando, Sofia. O Leonardo não seria capaz disso. - sorri, mesmo que por dentro eu acreditasse que meu padrasto fosse capaz de fazer qualquer coisa.
Tive a sensação de que estava sendo observada e virei-me rapidamente. Meu pai estava à alguns metros nos observando. Pela sua cara, imaginei que tinha ouvido a conversa.
- Bom dia, Henrique! - falei com um sorriso, ignorando sua carranca. Sofia virou-se e o cumprimentou também.
Ele usava uma camiseta, uma bermuda tactel e sandálias. Uau! Ele parecia menos amedrontador sem suas roupas sociais.
- Nada de ternos, hein? - brinquei.
- Acho que esse não é um lugar muito adequado. - ele sorriu.
- Gosto desse seu look. Faz com que se pareça com um pai normal.
- Pai normal? - ele achou graça.
- Eu venho de um mundo onde a roupa mais formal seria uma calça jeans e uma simples camisa. - respondi e levantei-me, deitei-me em uma das espreguiçadeiras e pus os óculos escuros aproveitando o leve calor do sol.
Ouvi o Henrique se aproximar e sentar-se na espreguiçadeira ao meu lado, onde estava os dois livros.
- Pelo visto, você gostou da surpresa.
Abri os olhos e o vi com um sorriso no rosto, observando os livros que estava segurando.
- É. - clareei a garganta. - Obrigada, Henrique!
Ele franziu o cenho, confuso com minhas palavras.
- Não fui eu quem fez isso. Foi a minha mãe.
Tomei um susto tão grande com sua revelação que, num piscar, eu estava sentada.
- Como é que é? - questionei, um pouco brusca.
- Aposto que ela está arrependida por tudo o que te disse naquele dia.
Olhamos os dois pra Sofia que ainda estava dentro da piscina, mas apoiada na borda. Ela, imediatamente, percebeu o que tinha dito. Arregalou os olhos e colocou a mão em sua boca enquanto eu a fuzilava com o olhar.
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Um Pai em Minha Vida
Novela JuvenilCamila vive com sua mãe e seu padrasto no interior da Bahia. Apesar de ter apenas 15 anos seu coração é cheio de mágoas. Ela odeia seu padrasto, um homem cruel que maltrata sua mãe.E odeia ainda mais o seu pai, o homem que ela nunca conheceu, o home...