Capítulo Nove

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- Camila? - ouvi a voz me chamar quando entrei no prédio. Virei-me e encontrei a enfermeira que havia tirado a amostra do meu sangue há poucas semanas. Estranhei ao vê-la vestida tão casualmente e com seus belos cabelos ruivos soltos.

- Ah, Ângela, não é? O que está fazendo aqui? - perguntei, surpresa.

- Eu moro aqui. - sorriu divertida. Arqueei as sobrancelhas, mas que mundo pequeno.

- Talvez você possa me ajudar. - conclui. - Você conhece Henrique Andrade?

- O seu pai? - ela lançou-me um olhar reprovador. Ah, claro, por um momento me esqueci das circunstâncias em que nos conhecemos. - O apartamento dele fica ao lado do meu.

- Foi por isso que você disse aquilo sobre nos vermos novamente. - acusei.

- Venha, vou acompanhá-la. - Ângela sorriu, desculpando-se por sua omissão. Mas a segui de bom grado até o elevador. Ela apertou no número oito e as portas se fecharam.

- Eu tenho uma filha da sua idade, Camila. - será que ela decora o nome de todos os seus pacientes? Estranhei.

- Tenho certeza que vocês duas irão se dar muito bem. - continuou. - Sofia é uma garota muito amável.

Antes que eu pudesse responder algo, o elevador parou no oitavo andar. Havia três portas ali. Ângela parou em frente a primeira.

- Este é o meu apartamento. Você pode tocar a campainha desse outro. - indicou com a cabeça a terceira porta.

- Obrigada! - sussurrei.

- Vai dar tudo certo, querida. - ela sorriu com doçura e, por alguma razão, me senti mais calma. Ângela entrou em seu apartamento e eu fui em direção ao outro apartamento. Respirei fundo e dei três batidas.  Mantive o meu rosto impassível, eu não deixaria nenhuma emoção transparecer. Dez segundos depois, escutei o som da fechadura e a porta abriu-se.

Observei a mulher à minha frente. A mulher dele, imaginei. Ela devia ter uns 35 anos e me olhava com simpatia.

- Este é o apartamento de Henrique Andrade? - certifiquei-me.

- Sim. Quem é você?

- Camila. Camila Andrade. - ela arregalou os seus olhos chocolate.

- Eu sou Gabriela. Por favor, entre. - ela afastou-se da porta para que eu passasse.

Entrei e Gabriela fechou a porta. Engoli em seco. Sentado no sofá estava um homem. Eu não conseguia ver a sua face, pois seu cotovelo estava apoiado na perna e segurava o seu cabelo tão negro quanto o meu. Na outra mão, ele tinha alguns papéis.
Gabriela aproximou-se e tocou em seu ombro.

- Henrique, meu amor. - chamou suavemente. Ele levantou o rosto e vi que estava úmido. Desviei meu olhar dele, constrangida.
- Nós temos uma visita. - Gabriela falou com suavidade. Voltei meu olhar para os dois e cruzei os braços.

- Vejo que já leu o resultado. - falei com petulância. Seus olhos de carvão demonstraram confusão.

- Eu sou Camila, a filha da Lili. - e também sua filha, acrescentei mentalmente. Henrique empalideceu, seus olhos me analisaram por inteiro. Ele levantou-se.

- Camila... o que... onde está sua avó? - Sorri, satisfeita. Eu o peguei completamente desprevenido. Agora não tinha ideia de como agir diante de mim.

- Minha avó não sabe que estou aqui. Eu quis vir falar pessoalmente com você. - mordi o meu lábio. De onde eu venho as pessoas não tratam os pais de uma forma tão desrespeitosa, mas a nossa situação não é mesmo nenhum pouco normal.

Um Pai em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora