15 anos depois
Camila
Assim que vesti minha roupa habitual para ir ao colégio( farda, calça, sapatilha) saí do quarto para a cozinha.Minha mãe e ele já estavam sentados, tomando o café da manhã.
-Bom dia! - murmurei, já me sentando e colocando o café.
-Bom dia, Cami - minha mãe respondeu sorrindo, enquanto ele permaneceu em silêncio.
Senti o olhar dele sobre mim enquanto eu comia, já havia terminado o seu café, mas continuava sentado.
- O que vocês duas acham de irmos até Aracaju nesse final de semana visitar a dona Leocádia? - ele perguntou.
- Eu não posso! - exclamei imediatamente - Esta é a última semana de aula e na sexta iremos viajar pra Salvador, só voltaremos na segunda.
- E desde quando o colégio tem condições de bancar uma viagem? -questionou, entrecerrando os olhos.
- Nós conseguimos a grana por nós mesmos, fizemos uma rifa e conseguimos verba suficiente pra bancar os nossos gastos.
- E quem será o responsável por vigiar mais de 30 adolescentes?
- Três professores e o porteiro do colégio - respondi já irritada com tantas perguntas.
-Mas eu não lhe dei permissão, Camila. Eu sou seu pai e não teria descoberto sobre essa viagem se não tivesse falado em irmos visitar sua avó. Quando pretendia me contar? Aliás, esses professores não precisam de nenhuma assinatura pra sair da cidade com um bando de adolescentes menores de idade?
Suspirei, lívida, mas antes que eu caísse em sua isca e alimentasse uma briga das brabas, minha mãe interferiu:
-Eu sabia sobre essa viagem, Leonardo. E dei permissão a minha filha.
- Liliane - ele a fuzilou com o olhar - Eu amo a Camila como se fosse minha filha, eu fico muito triste quando vocês duas agem dessa forma - seu olhar se transferiu para mim. Mordi minha língua pra não respondê-lo, aquele cretino nunca agiu como um pai deveria agir.
-
A Camila precisa sair deste lugar um pouco e se divertir, com pessoas de sua idade.Nós dois podemos ir visitar mamãe, o que acha? - sugeriu, levantando-se e retirando as coisas da mesa. Me levantei e fui ao banheiro escovar os dentes. Peguei minha mochila e me despedi rapidamente.
Eu amo a minha mãe, mas nós duas somos completamente diferentes, por dentro e por fora.As pessoas ficam surpresas ao saber que somos mãe e filha.Ela é morena, cabelos e olhos castanhos, e tinha um corpo lindo.Eu era baixinha, tinha a pele clara, meus olhos eram pretos como carvão e meu cabelo era do mesmo tom e totalmente cacheado. Ela era doce, compreensiva, altruísta.Eu era rancorosa, esquentada e egoísta.
Nunca entendi porque ela vivia com esse homem, ele não a merecia. Era inconstante e violento.
E havia o meu pai.Tudo o que eu sabia era que ele havia abandonado a nós duas quando eu tinha poucos meses de vida.E o seu nome, claro.
Henrique, Henrique Andrade. Era tudo o que eu sabia.Falar sobre ele, lá em casa, era como uma proibição não dita em voz alta.
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Um Pai em Minha Vida
Genç KurguCamila vive com sua mãe e seu padrasto no interior da Bahia. Apesar de ter apenas 15 anos seu coração é cheio de mágoas. Ela odeia seu padrasto, um homem cruel que maltrata sua mãe.E odeia ainda mais o seu pai, o homem que ela nunca conheceu, o home...