Camila
Eu estava prestes a fazer um buraco no chão do hotel. Depois de quase três horas de carro até Aracaju nós fomos imediatamente ao aeroporto, pois o vôo estava marcado para às 13:30. Foram mais de quatro horas de vôo, mas não consegui dormir nem um pouco, então aproveitei e li o livro que a Li me presenteou.
Antes que o mundo acabe não é só um livro sobre a reaproximação entre um pai e um filho, mas também fala sobre a globalização. Sem contar, as lindas fotografias que havia. Foi uma leitura que valeu a pena.
Assim que saímos do aeroporto fomos diretamente ao hotel. Pensei que depois que ela me contou que estava doente ficaríamos mais próximas, mas ela continuava distante. Pelo menos não estava sendo mais má comigo, já era um começo. Ela deixou-me neste quarto e disse que estaria no quarto à esquerda do meu, ela não falou nada sobre quando procuraríamos meu pai e, apesar ter viajado durante boa parte do dia, eu não me sentia cansada. Na verdade, sentia-me elétrica e ansiosa.
Parei de andar de um lado para o outro e sentei-me na cama, estiquei-me e alcancei o celular que estava do outro lado. Coloquei os fones e liguei o mp3, a primeira música da lista começou a tocar, Apologize do Justin Timberlake. Deitei-me na cama e fechei os olhos, nada como música para acalmar o coração.
Leocádia
Já eram 19:00 horas quando cheguei ao prédio, culpa desse trânsito infernal de São Paulo. Entrei no saguão do prédio e caminhei até a secretária que estava atrás do balcão, ao lado do elevador.
- Boa noite! - saudou-me sorridente. Olhei o seu nome no crachá, Júlia. Ela parecia não ter mais que vinte anos.
- Boa noite, Júlia! Eu sou Leocádia Santana. Gostaria que avisasse o Dr. Henrique Andrade que eu preciso vê-lo. - falei, direta.
Júlia franziu os lábios e ajeitou alguns fios de seu cabelo castanho que haviam se soltado do coque.
- A senhora marcou horário? - perguntou-me.
- Não acho que seja preciso.
- Desculpe-me, senhora. A senhora não pode vê-lo sem marcar um horário.
Sorri, essa garota não tem ideia de quem eu sou.
- Eu sou a mãe da primeira mulher do Henrique, sou avó da filha dele. Ele ficará chateado se souber que a senhorita recusou-se a informá-lo de minha presença.
Ela piscou, surpresa.
- Desculpe-me, senhora. Eu não sabia. Vou avisá-lo imediatamente. - falou apressada.
Ela pegou o telefone e discou.- Amanda, informe ao Dr. Andrade que a senhora Leocádia Santana está aqui embaixo. - houve uma pausa de quase três minutos. - Okay. - Júlia respondeu e colocou o telefone em cima do balcão novamente.
- A senhora pode subir. É no sétimo andar. - explicou.
- Obrigada! - sorri sarcástica. Fui até o elevador e apertei o número sete.
Enquanto o elevador subia, comecei a sentir-me apreensiva. Eu estava indo em direção ao desconhecido, se o Henrique se recusasse a cuidar da Camila, eu seria obrigada a recorrer à justiça. Tenho medo que eu tenha uma dessas crises causadas por minha doença, era horrível não ter controle sobre a própria mente.As portas do elevador abriram-se e me vi em uma antessala. Havia um sofá para os clientes e mais uma secretária, que levantou-se de sua mesa e cumprimentou-me sorridente.
- Permita-me acompanhá-la à sala do Dr. Andrade. - ela foi em direção a uma porta que ficava a poucos metros da sua mesa. Deu três batidas e abriu a porta.
- A senhora Leocádia chegou. - informou e deu espaço para que eu entrasse.
- Pode ir, Amanda. - ele pronunciou-se. A garota fechou a porta e ele indicou com uma das mãos a cadeira em frente a sua mesa. Sentei-me e o observei, Henrique estava diferente desde a última vez que eu o havia visto. Estava mais forte, sua pele estava mais bronzeada e seu cabelo negro já possuia alguns fios grisalhos.
Ele foi o primeiro a falar.- Estou bastante surpreso com essa sua... visita, dona Leocádia. O que a traz a São Paulo? - ele estava visivelmente surpreso e curioso.
- A Liliane morreu. - falei direta.Henrique arfou em choque.
- O quê?! Como?! - perguntou chocado.
- Ela sofreu um acidente de carro. O motorista do outro carro estava bêbado e vinha muito rápido. - expliquei. Ele ficou olhando fixamente para a sua mesa cheia de papéis, sem enxergá-los realmente.
- Henrique? - o chamei. Ele levantou o rosto. - Sinto muito por lhe dar esta notícia, mas há um assunto de extrema importância para resolvermos. - ele continuou me olhando confuso. - A sua filha, Camila.
- A Camila não é minha filha. - respondeu imediatamente. Respirei fundo, não acredito que ele iria fugir de suas responsabilidades.
- Não me faça de idiota, Henrique. - falei irritada. - Você engravidou a Lili e decidiram ter essa criança, mesmo eu sugerindo uma solução alternativa. Você foi tão firme quando disse que a Lili e aquele bebê eram sua família, que você iria protegê-los com todas as suas forças. Eu não vou julgá-lo por se separar da Lili, seja lá qual tenha sido o motivo, mas você precisa assumir suas responsabilidades.
- A Lili me traiu. - falou lentamente. - Eu cheguei em casa, na véspera do Natal, e encontrei ela na nossa cama com o meu melhor amigo. Ela jogou em minha cara que a Camila não era minha filha. Alguns meses depois soube que eles se casaram.
Agora era eu quem estava sem palavras. Essa história era surreal. Não podia acreditar que o Leonardo era amigo do Henrique, e a Lili... Não. Isso é impossível! A Lili não é esse tipo de mulher, ela era louca por esse homem, nunca faria isso com ele. Quando a apresentei ao Leonardo, ela demonstrou surpresa. Perguntei se já se conheciam, mas antes que a Lili respondesse, ele sorriu e negou.
Vi a dor e a mágoa nos olhos do Henrique e soube que ele estava falando a verdade, mas, mesmo assim, senti que havia alguma coisa errada.- A Camila cresceu pensando que o Leonardo era o padrasto dela, ela cresceu pensando que o pai verdadeiro havia abandonado ela quando tinha alguns meses de vida. - vi seu olhar de indignação, mas antes que ele abrisse a boca para protestar, continuei. - Eu acredito em sua história, Henrique, mas deixe-me lhe fazer um pedido. Um último pedido.
- O que é? - perguntou desconfiado.
- Vamos fazer um exame de DNA. Se o resultado for negativo, prometo que levarei a Camila dessa cidade e nunca mais irei atormentá-lo com esse assunto.
Henrique hesitou, mas acabou cedendo.
- Tudo bem. Vamos resolver isso o mais rápido possível.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Pai em Minha Vida
Teen FictionCamila vive com sua mãe e seu padrasto no interior da Bahia. Apesar de ter apenas 15 anos seu coração é cheio de mágoas. Ela odeia seu padrasto, um homem cruel que maltrata sua mãe.E odeia ainda mais o seu pai, o homem que ela nunca conheceu, o home...