Capítulo Quinze

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Fomos por todo o caminho em silêncio. Eu é que não daria o braço a torcer e falaria algo, não mesmo. Ainda não acreditava em suas palavras. Ele esteve ausente por toda a minha vida e quando EU vim atrás dele e passamos a morar debaixo do mesmo teto, mal olhávamos na cara um do outro. Agora queria usar de sua autoridade paterna, a qual não tinha o mínimo direito, para me punir? De jeito nenhum!

- Me dê o celular. - ele estendeu a mão, mostrando que aquilo não era um pedido, assim que entramos no apartamento.

Cruzei os braços e tentei não prolongar aquela situação.

- Olha, Henrique, não se preocupe, ok? Sei que tem muito trabalho na empresa. Pode ir. Está tudo bem.

Ele me olhou como se eu tivesse dito algo totalmente absurdo.

- Me dê o celular, Camila. Você está de castigo, vá pro seu quarto e só saia de lá na hora do almoço.

Não pude conter o riso.

- Está brincando comigo? Eu vou ficar de castigo por que dei uma lição naquela patricinha?

- Não importa o motivo. Você brigou com alguém e precisa entender que isso não é o certo.

Franzi o cenho, irritada.

- Você não tem esse direito. Nunca apareceu em minha vida e agora está tentando me dar lição de moral? - senti minhas palavras ecoarem por todo o apartamento, pela primeira vez, eu estava tocando nesse assunto. O assunto que, de certa forma, decidimos que não seria discutido entre nós. O silêncio se prolongou por segundos, mas ele finalmente falou.

- Se a sua mãe não tivesse me traído, se não tivesse mentido, eu nunca teria ficado longe de você. - falou em um tom baixo, mas intenso. Seu olhar era cheio de mágoa, raiva. Eu sabia que ele estava sendo sincero, sabia que ele não tinha culpa por eu ter tido uma infância tão difícil, cheia de traumas, mas meu lado irracional gritava que ele podia ter feito algo, que desistiu de mim muito facilmente.

- Você está errado! - gritei, sem me importar com as lágrimas que escorriam por meu rosto. - Minha mãe nunca traiu você, e eu posso provar isso!

Corri até o quarto e peguei o diário da minha mãe, eu precisava limpar o nome dela, chega de todo mundo a acusando sem que ela possa se defender. Entreguei o diário ao Henrique, aberto exatamente na parte em que minha mãe falava sobre aquele natal.

- Era isso que aquela chave abria. - murmurei. E saí.

Tranquei-me em meu quarto e o deixei sozinho para que ele pudesse digerir tudo o que fosse encontrar escrito ali.

Eu tinha as minhas próprias mágoas para remoer, toda essa maldita dor e ressentimento que não me deixavam superar o meu passado. Eu estava tão quebrada e duvidava que algum dia pudesse ser consertada.

Algum tempo depois, escutei um barulho vindo da sala, vidro jogado contra a parede, pensei. Continuei deitada em posição fetal, a casa no completo silêncio agora, contrastando com o turbilhão de emoções que pareciam gritar dentro de mim.

Não demorou muito para que eu ouvisse a voz da Melissa, já devia ter chegado da escola. Sorri involuntariamente, aquela menina iluminava essa casa.

Ela bateu na porta do quarto e, minutos depois, a Gabriela também, mas eu apenas disse que queria ficar sozinha e elas respeitaram minha vontade. Em algum momento, acabei dormindo. Quando acordei já eram três horas, senti meu estômago protestar e resolvi comer algo.

A casa estava silenciosa. A porta do quarto da Mel estava entreaberta, espiei e a vi dormindo. Já a do Henrique e da Gabriela estava firmemente trancada. Me perguntei se ele já havia dito alguma coisa pra ela.

Um Pai em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora