Camila
Acordei de uma noite sem sonhos, espreguicei-me e gemi, satisfeita, ainda com os olhos fechados.
- Parece que dormiu muito bem. - arregalei os olhos, assustada, ao ouvir a voz. Minha avó estava em pé, ao lado da cama, me observando com um sorriso divertido no rosto.
- Está tentando me matar do coração? - sentei-me na cama, me encostando na cabeceira. De repente, seu sorriso sumiu e ela olhou-me com seriedade.
- Nós temos que conversar. - disse, já sentando-se em minha cama. Imediatamente, me senti apreensiva.
- O que foi? - perguntei ansiosa.
- Nós duas não gostamos de enrolação, então vamos direto ao ponto. Eu fui até o prédio onde o seu pai trabalha e nós conversamos. Ele me contou uma história diferente sobre o que aconteceu entre ele e sua mãe, então eu propus algo que acabaria com as nossas dúvidas.
- O quê?! Espere! Quando você falou com ele? - Respirei fundo, preciso me manter calma.
- Ontem à noite. Sinto muito se queria estar presente, mas pensei em resolvermos o mais rápido possível tudo isso.
- E então? - perguntei impaciente.
- Você sabia que o Leonardo era o melhor amigo do Henrique? - abri a boca, surpresa.
- Como é que é? - perguntei atordoada.
- Alguma vez a Lili contou por que eles se separaram? - ela insistiu.
- Eles não terminaram, ele abandonou... - comecei, mas ela interrompeu-me.
- Henrique disse que sua mãe traiu ele. - ela pausou, esperando que eu absorvesse suas palavras, mas quando viu que eu permaneci calada, continuou.
- Henrique flagrou a Lili e o Leo juntos e ela jogou na cara dele que você não era sua filha. - quando compreendi o significado de suas palavras, arregalei os olhos. Eu não podia acreditar que ele tinha inventado isso. Minha mãe é passiva, fiel, sincera. Ela nunca teria mentido pra mim, eu nem mesmo podia cogitar a ideia de ser filha daquele homem com quem ela se casou. Eu o odiava com todas as minhas forças.
- Isso é mentira! - sussurrei apavorada.- É mentira! - consegui falar mais firme desta vez. Fechei os olhos e contei mentalmente até cinco, quando os abri estava sob controle novamente. - Vamos fazer um teste de paternidade. - decidi. - Se ele se recusar, iremos recorrer à justiça.
- Não vai ser preciso, Camila. Eu já falei com o Henrique sobre isso e ele concordou em fazermos um exame. - Relaxei.
- Quando?
- Hoje, às 09:30.
- Mas já? - não pude evitar demonstrar minha surpresa.
Vó sorriu e arqueou a sobrancelha.- Você parecia bem disposta há alguns segundos. Não está com medo, não é?
- É claro que não. - respondi rapidamente.
- Então, apronte-se, mocinha. Não podemos perder o horário. - falou, já se levantando. Peguei o meu celular, que estava quase caindo da cama e olhei a hora.
- Mas são sete horas! - reclamei. Minha avó, que já estava abrindo a porta, virou-se.
- Isso aqui não é nenhuma cidadezinha do interior, Camila. Mas não se preocupe, tenho certeza de que você logo se acostumará com o trânsito de São Paulo. - sorriu com deboche e saiu do quarto.
(...)- Pode abrir os olhos. - a enfermeira avisou-me, tentando conter o riso. Abri e vi que a seringa não estava mais no meu campo de visão.
Sorri, envergonhada, para a simpática enfermeira e me levantei da cadeira onde ela havia retirado o meu sangue.- Eu não costumo ser tão medrosa. - retruquei.
- Tenho certeza que não. - ela lançou-me um olhar enigmático. Mas antes que eu fizesse qualquer pergunta, ela voltou a sorrir.
- Não se preocupe, eu morro de medo do escuro. Mas não saia espalhando por aí. - ela piscou o olho e eu tive que rir. Ela devia ter uns 30 anos, era engraçado ver um adulto admitir uma fraqueza.
- Feliz Natal, Camila. - ela me acompanhou até a porta da pequena sala e me deu um abraço, despedindo-se.
- Feliz Natal, ... - me calei, percebi que não sabia o nome dela.
- Ângela. - respondeu a minha pergunta muda.
- Feliz Natal, Ângela. - sorri.
- Eu espero vê-la logo, minha querida. - ela lançou-me aquele olhar novamente, mas não a questionei.
Fui a procura da minha avó, não podia abusar da sorte. Ela marcou o horário do meu exame mais cedo, para que não precisemos cruzar com o Henrique, mas é melhor prevenir do que dar de cara com ele. Vai que ele seja dessas pessoas que odeiam atrasos e então chegam mais cedo que o horário determinado?
Encontrei a minha avó conversando com a recepcionista, ela me viu, finalizou sua conversa e veio em minha direção.- Vamos? - chamou.
- Quando sai o resultado? - indaguei.
- Dia dois de janeiro. - estranhei,hoje é dia dezenove, pensei que esses testes de paternidade demorassem bem mais. Apenas dei de ombros, deixando o assunto de lado.
- Vamos logo. - respondi a sua pergunta anterior. Quanto mais rápido sair daqui, melhor.
![](https://img.wattpad.com/cover/56148193-288-k364062.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Pai em Minha Vida
Ficção AdolescenteCamila vive com sua mãe e seu padrasto no interior da Bahia. Apesar de ter apenas 15 anos seu coração é cheio de mágoas. Ela odeia seu padrasto, um homem cruel que maltrata sua mãe.E odeia ainda mais o seu pai, o homem que ela nunca conheceu, o home...