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Primeiro dia do ano, em algum lugar do planeta

Era impossível eu ter dormido em um disco de madeira que flutuava no mar sendo que metade do meu corpo estava na água, talvez o cansaço e o balanço leve das ondas me fizeram adormecer, por consequência, não vi o resgate dos botes e me afastei do local do naufrágio. Minha mente agora é um turbilhão de preocupações, sinceramente, é muito azar para uma pessoa só. É o primeiro dia do ano e estou numa ilha deserta, sozinha.

Apesar da minha situação desesperadora e deplorável, eu tinha duas opções: continuar no mar ou nadar até a praia. Meu corpo doía e eu estava cansada, entretanto, o esforço de chegar em terra firme era mais acolhedor do que virar comida de tubarão. Pense pelo lado bom Karen, você irá emagrecer os tão sonhados 5kg, o que compensa toda essa má sorte logo no começo do ano. Você ainda tem 364 dias pra mudar o rumo das coisas, e isso pode começar com você nadando na direção daquelas malditas palmeiras.

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Quando finalmente cheguei na praia, simplesmente me joguei, eu não me importava se ficaria inteiramente suja de areia, deitei de barriga pra cima contemplando o céu. Aves voavam, as nuves estavam brancas e volumosas, uma brisa suave refrescava o meu corpo massacrado pelo cansaço. Eu sabia que estava no meio de uma grande enrascada, mas naquele momento, nada disso importava. Então eu me levantei, trazendo comigo a ex-mesa de madeira, ela poderia ser útil. Eu deveria encontrar um abrigo ou qualquer outro sinal de civilização, qualquer tipo de esperança. Decidi andar pela praia para procurar destroços do iate e explorar o lugar, finquei um galho de palmeira no chão, serviria para marcar o ponto onde eu havia "desembarcado".

Depois de andar muito, a ponto de não conseguir mais ver o galho de palmeira que havia encravado no começo da caminhada, decidi voltar. Sentei em uma das pedras que estavam ali na areia. Eu estava ferrada, majestosamente e completamente ferrada. Passei a mão no cabelo para desfazer os pequenos nós e desembaraçá-lo, em seguida, fiz uma trança na tentativa de deixar tudo no lugar e garantir que minha presilha não se perdesse. Enquanto fazia esse "exercício", tentei me lembrar de algum documentário que havia assistido sobre ilhas desertas e como sobreviver nessas situações, só para constar, já participei de um grupo de escoteiros durante a pré-adolescência. Um dos primeiros passos era procurar ou construir abrigo, para mais tarde fazer a fogueira. Como eu não fazia ideia do horário, decidi começar a preparar tudo com antecedência. Reunir galhos, paus, folhas, cipós, gravetos, qualquer coisa que pudesse fazer parte da fogueira ou abrigo, seria de grande ajuda. Eu tinha um certo medo de adentrar a mata que havia por lá, então recolhi apenas os objetos que estavam próximos de mim, como galhos caídos de coqueiros ou outras árvores. Vez ou outra eu escutava sons vindos das imensas árvores que compunham a floresta que havia atrás de mim, tais barulhos me causavam arrepios e insegurança. Era algo estranho, haviam as palmeiras que inicialmente eram dispersas na faixa de areia mas que, aos poucos, iam ganhando densidade e formando uma mata fechada e úmida. Qualquer coisa poderia sair de lá, por isso, construir um abrigo era algo crucial nessas situações.

Após juntar um monte de material e ficar encarando a pilha que havia se formado, eu comecei a procurar maneiras de construir o tal abrigo, levando em conta as vagas lembranças que eu tinha do acampamento de escoteiros. Seria necessário juntar dois galhos lisos (sem ramificações) em forma de V, infincar o V de ponta cabeça no solo e depois uma madeira seria colocada na horizontal, ligando o topo do V com o chão. E por último, cobrir as laterais com os galhos dos coqueiros. Amarrando tudo muito bem e certificando sempre que a estrutura estava firme. O ideal é que ela aguente ventos e chuvas leves e me mantenha segura. Por esse motivo decidi montar a estrutura longe da areia, em uma gramínea que havia entre dois coqueiros. Apesar de eu detestar que ficasse relativamente próximo da floresta, havia a vantagem de ser um lugar seguro para se construir uma cabana, era 100% ideal. Então tentei ao máximo esquecer que atrás de mim havia uma mata densa que emitia sons estranhos.

Foi muito difícil montar o abrigo, quando ele ficou inteiramente completo, o sol iniciava sua trajetória para se por, o que me fazia acreditar ser aproximadamente 16h. Logo seria noite e não havia fogueira para eu me esquentar e afugentar insetos ou animais. Eu precisava trabalhar nisso rápido.

Nunca fui fã de escotismo, mas agora o acampamento de verão que meu pai me obrigara a participar quando eu tinha 12 anos estava me mantendo viva. Posso dizer que ao menos me dediquei e aprendi diversas coisas, mas naquela época eu achei super útil aprender a montar uma barraca e totalmente desnecessário decorar tipos de laço e amarrações. As circunstâncias mudaram e hoje dependo mais das amarrações, por que nem se quer possuo uma barraca para montar. Aprendi também a fazer uma fogueira, já que fui pega usando isqueiro (algo proibido). Como castigo, fui obrigada a montar 5 fogueiras, por isso não me assusto de ter conseguido fazer fogo logo na terceira tentativa.

Quando tudo estava pronto, decidi testar a cabana, conforto seria a última palavra para defini-la,mas conseguir algo melhor seria impossível. Eu estava faminta, completamente faminta e com sede, o esforço ao montar o abrigo e fogueira despertou isso em mim, minhas mãos tremiam freneticamente e pela primeira vez no dia eu tive a sensação de que enlouqueceria.

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Depois de chorar por minutos, eu entrei para a cabana e adormeci. Acordei com uma sensação estranha, percebi que não estava mais na ilha, eu estava numa mansão feita de mármore branco. Andei em direção à cozinha, a fome me guiava até lá mesmo eu não sabendo o caminho. Sob meus pés o chão gelado refletia o teto, olhei para trás e vi um rastro de areia e água arruinando a limpidez do piso. O morador veria o rastro, com certeza e com mais certeza ainda ele chamaria a polícia para mim, por isso eu deveria ser rápida, comer e pegar o maior número de comida e água potável.

Depois de roubar vários enlatados e garrafas de água, eu estava pronta para dar o fora dali. Quando cheguei perto da porta, escutei passos atrás de mim, então como se eu estivesse me livrando de um encanto meus olhos de abriram e visualizaram o teto da minha cabana improvisada. Infelizmente tudo aquilo era um sonho, menos os barulhos de alguém andando.

Agarrei um galho liso e afiado que não havia sido usado na construção do abrigo, no momento esta seria a minha arma. O ser que andava lá fora poderia ser um humano afim de oferecer ajuda, ou um animal selvagem faminto, qualquer coisa. Vi um vulto, agora eu tinha certeza que era algo e estava próximo da fogueira. As únicas opções eram: continuar no abrigo escondida ou sair e enfrentar o que estava do lado de fora, e como eu não tinha nada a perder decidi bater de frente com provável perigo.


NOTAS: coloquei fotos ilustrativas de como seria o abrigo que a Karen construiu (ou melhor, tentou construir). O capítulo foi bem chatinho, não aconteceram muitas coisas, porém em breve terão muito mais surpresas! Posso demorar mais do que uma semana para postar (como está sendo com esse capítulo), minhas aulas começaram e está tudo uma bagunça, peço paciência a todos <3. Beijos e até breve!

Perdida Na IlhaOnde histórias criam vida. Descubra agora