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(*) Deem play na música assim que iniciarem a leitura <3

Noite do resgate 

Rick e eu sabíamos que o helicóptero se aproximava, segundos depois ele pairava sobre nós com um grande holofote apontando para as águas do oceano. Ele foi se aproximando do solo, levantando uma grande quantidade de areia envolta de si, meu cabelo movia-se freneticamente. Olhei para Richard.

Havia felicidade em seus olhos marejados, eu percebia agora como ele estava magro, os ossos de sua clavícula estavam bem visíveis e marcados. Olheiras englobavam suas órbitas azuis, seu maxilar bem desenhado estava relaxado. A camiseta larga travava uma batalha com o ar. O olhar dele encontrou o meu.

Northwood. Eu queria compreendê-lo. Quero entender por que ele sempre diz não ser tudo o que faz. Quero saber por que ele decidiu beijar Becky atrás de um vestiário. Descobrir suas razões de abandonar a bolsa de estudos e jogar-se no mundo da fama. Ele sempre escolhia o caminho errado. Ele era todo errado por pura diversão. Isso sempre despertou algo em mim. Eu percebo suas tentativas de mudar a forma como eu o enxergo agora.

- Karen...

A súplica estava estampada em seus olhos cor de safira. Luzes surgiram atrás do rapaz, faróis.

- Eu ainda gosto de você, todas as minhas escolhas e atos errados foram na intenção de esquecer você, só que eu não esqueci. Eu nunca parei de pensar em você um só segundo. A única coisa que eu quero entender é por que você me odeia, o que eu fiz?

- Você quebrou meu coração, me usou.

Um misto de confusão e surpresa tomou o rosto do rapaz.

- Você gostava de mim?

Assenti com um gesto de cabeça. As luzes tornaram-se intensas, carros avançavam em nossa direção o helicóptero já terminava seu pouso.

- Rick, precisamos ir.

O rapaz se virou. Um barulho tomou conta do ar. Um tiro. Uma mancha vermelha começou a se formar na lateral do corpo de Richard, um pouco acima de sua bacia. Ele cambaleou. Meu coração parou e em seguida começou a bater na velocidade da luz. Agarrei o rapaz pelo braço e comecei a correr em direção ao helicóptero que estava a poucos metros de nós.

Foi dada a largada, Joe e seus carros contra eu e um Rick baleado. Corri como se dependesse disso, mas pensando bem, eu dependia. Era minha chance de sair da ilha e salvar Richard.

- Você consegue - eu disse.

- É mais fácil você me deixar.

- Eu não vou te soltar.

- Karen...

- Richard, só continue correndo!

Continuamos. Algo cortou meu braço. Outro tiro. Aquela merda doía pra cacete. Alcançamos o helicóptero e dei passagem a Rick, ajudando ele a subir, em seguida me joguei para dentro da aeronave. Os homens já colocavam Richard em uma maca, enquanto outro fechava a porta do helicóptero. Eu continuava lá, estirada no chão, enquanto uma enxurrada de emoções me inundava. Repassei os últimos segundos. Richard ainda gosta de mim. 

+++

No hospital e com um curativo no braço

Eu estava sentada na poltrona do hospital, quando ouvi pequenos resmungos vindos da maca ao meu lado esquerdo. Tirei a atenção do folheto que lia despretensiosamente para me certificar de que não era minha mente pregando peças. Durante os mais de sessenta minutos que estava sentada ali, pelo menos cinco vezes escutei alguém resmungar ou me chamar. Me levantei e decidi ver se os travesseiros estavam posicionados de maneira confortável. Faria diferença ajeitá-los? Rick ainda estava sob efeito da anestesia...

Vê-lo de olhos fechados, com o peito subindo e descendo de maneira tão lenta e suas feições desgastadas, um terror subiu das minhas pernas até o resto do meu tronco. Se acalme Karen, ele não está morto. Toquei em seu pulso, queria sentir o calor de seu corpo, o sangue correndo em suas veias como prova se sua vitalidade. Todas as inseguranças vieram abaixo quando pude constatar ambos. Ele parecia como alguém que dormia depois de horas de trabalho. A barba estava por fazer e me peguei pensando em como isso o deixava mais bonito.

O médico entrou na sala. Percebi que a mão que antes estava no pulso, agora involuntariamente ia em direção ao rosto de Richard. Eu estava tentado acariciá-lo ou algo do tipo?

- Boa tarde.

- Boa tarde. - respondi tentando agir como se o doutor não tivesse flagrado eu tentando tocar a face de Rick.

- Ele acordará em breve, não se preocupe.

- Estou aqui há muito tempo, acho que deveria ir descansar - falei mais para mim mesma do que para o médico.

- Tudo bem. Vim apenas checar como Richard está.

- Muito obrigada doutor.

Ele sorriu e eu deixei a sala. A avó de Richard conversava com meu pai na recepção. Fui à uma máquina buscar café quando Mika apareceu ao meu lado. Eu já sabia, mais um abraço estava por vir.

- Eu tenho que amarrar você à minha cintura!

Sorri. Depois que fui resgatada, Mika só sabia me abraçar e chorar. Ela superou a fase de choro, mas não a de abraços.

Quando voltei, todos pareciam estar surpresos, a maior parte das pessoas acreditava que eu e Rick estávamos mortos no fundo do oceano. Houve um misto de comoção e surpresa. No mesmo instante os tablóides começaram a nós comparar com o casal de Lagoa Azul, o que não tinha nada a ver. Detestei a forma como romantizaram o trauma ao qual eu passei.

- Você tem que dar um tempo! Não sai desse quarto!

Eu havia sido pega. Não conseguia deixar Rick sozinho. Eu ainda não tinha passado pelo psiquiatra, mas precisava urgente. Não achei que ficar quatro dias numa ilha me afetaria tanto assim. Mika me abraçou mais uma vez.

- Não é como se o Rick fosse acordar e fugir. Você precisa se acalmar, tudo está acontecendo rápido demais e no momento o importante é cuidar de si antes de querer cuidar ou ajudar alguém.

Ela estava certa. Minha mente e sentimentos estavam todos embolados, uma batalha era travada dentro de mim.

- Muita coisa aconteceu e está acontecendo - foi a única coisa que consegui dizer.

Andamos até meu pai e a avó de Richad. Meu pai passou o braço por cima do meu ombro.

- Conversamos com a polícia. Uma investigação acabou de ser iniciada, estão procurando por Joe e tudo que é ligado à ele.

- Eu me sinto tão mal... - A avó dele disse a ponto de chorar - Eu quase perdi meu Richard - ela levou uma mão à boca, como quem tentava conter o choro.

- Tudo acabou bem, é isso que importa - respondi.

Ela concordou com um gesto de cabeça. Vovó Jo. Era como Rick costumava chamá-la, ela havia cuidado dele até a adolescência, a partir daí, Rick começou a se distanciar, se envolveu com uma banda e é o que é hoje. Era muito bom estar perto de todos, abraçada com meu pai, ouvir Johane contar sobre as travessuras de Rick ao longo da infância e escutar o riso suave de Mika.

Vi o médico deixar a sala e gesticular para mim. Pedi licença e fui até o quarto, onde encontrei um par de olhos abertos e brilhando em minha direção.



[NOTA]: Estamos chegando a reta final de Perdida na Ilha! Só faltam mais dois capítulos (que eu já finalizei) para serem publicados! Como as atualizações geralmente acontecem a cada 10 dias, vou manter esse prazo! 

Perdida Na IlhaOnde histórias criam vida. Descubra agora