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Terceiro dia na ilha, em um lugar estranho

O homem não pareceu estar satisfeito com a proposta de Rick, mas mesmo assim pediu para que entrassemos pois nos ajudaria com o que pudesse. Eu estava extremamente feliz pelo homem ter cedido, mas por alguma razão não me sentia totalmente confiante, algo estava errado.

- E agora? - cochichei para Rick.

- Rezamos.

Era uma resposta ruim, meus ouvidos esperavam por "Agora nos vamos em bora" ou "Tudo vai dar certo".

- Como assim?

- Estou trabalhando nisso.

Pode ser loucura mas depositei minha confiança em Rick e dessa vez não desprezei suas palavras, pelo contrário, me apeguei à elas. Toda a minha esperança estava em Rick.

+++

O homem nos serviu café e pão, comemos como dois porcos desesperados enquanto ele se apresentava.

- Meu nome é Joe. Eu vivo aqui faz uns cinco anos. Não quero que me questionem sobre nada, se vão ficar aqui será do meu jeito. Depois vamos negociar o resgate de vocês.

Ok, isso parecia muito mais um sequestro do que uma ajuda. O homem saiu da cozinha e fui para algum outro cômodo da casa e em alguns segundos voltou com uma pequena pilha de peças de roupa.

- Esses trapos aqui são pra vocês. Se quiserem tomar banho o banheiro é naquele corredor, não temos água quente para vossa mordomia. - Disse essa última frase em tom pejorativo.

Esse tal de Joe era um completo idiota. Decidi deixar tudo nas mãos de Rick por que com certeza não conseguiria lidar com esse sacana. Assim que terminei de comer decidi ir tomar um banho. Olhei as roupas que Joe havia nos dado. Blusas surradas e calças de moleton desbotadas. Peguei as menores peças e avisei Rick que estava indo pro banho. Antes de eu sair Richard pegou em minha mão e sussurrou:

- Cuidado com esse Joe.

Assenti com a cabeça e fui até o corredor que levava ao banheiro. Pensei sobre o último segundo, Richard pegando em minha mão e o leve formigamento que senti com o toque. Ele estava tentando ser gentil ou apenas me assustando? As coisas andam estranhas. Três dias foram o suficiente para mudar pequenos detalhes da minha relação com Rick. Ele está tolerável, eu voltei - mesmo que um pouco - a confiar nele.

Já me livrara do vestido que por sinal estava imundo. Pelo reflexo do espelho, tentava reconhecer o que mais havia mudado nesses três dias. Minha bochechas estavam vermelhas e as sardas quase inexistentes ganharam ênfase no meu rosto. Sem mais delongas disse adeus às roupas íntimas. Eu estava precisando muito de um banho e ir ao banheiro.

+++

Posso comprovar, afirmar e dar toda a certeza que chuveiro e sabonete podem mudar a vida de alguém. Por alguma razão me senti leve ao ver toda a areia sumir pelo ralo. A água fria e doce escorrendo pelo meu corpo e levando com ela toda a sujeira que estava grudada em minha pele.

Peguei meu vestido e comecei a lavá-lo. Não pretendia usar por muito tempo as roupas que Joe havia nos dado. Passei sabonete por todo o avesso do vestido e comecei a esfregá-lo rapidamente para não demorar tanto assim no banho. Depois desvirei e fiz o mesmo em toda a extensão da saia. Um minuto depois eu já estava vestida e torcendo meu vestido do lado de fora da casa.

- O que você está fazendo?

Fui supreendida por Joe que minuciosamente me observava.

- Estou tentando tirar o excesso de água do meu vestido.

- Se quiser pode pendura-lo no varal. Não temos secadora por aqui.

- Obrigada.

Assim que Joe se foi, continuei torcendo o tecido para expulsar toda a água. Quuando terminei o serviço me virei em direção aos fundos do terreno. Infelizmente trombei com Richard.

- O que está fazendo? - perguntei irritada, afinal das 20 vezes que trombo com alguém 15 esse é alguém é o Rick.

- Ei, calma, só vim ver como você tava...

- Estou perfeitamente bem para um pessoa que está numa ilha e dependendo de um total estranho pra sobreviver.

-

Adoro seu humor e como exala positivismo.

- Eu só não vou com a cara desse maluco das estufas.

- Fique feliz, eu consegui um quarto.

- Que bom, dou dois segundos pra ele jogar uns lençóis em cima da gente e dizer "Desculpe não temos serviço de quarto".

- Por que você reclama tanto?

Soco no estômago.

- Não estou reclamando!

- E isso é o que então? Pesca esportiva?

- Eu só acho que estar na casa desse Joe não vai levar em nada.

- Vai sim, aqui tem sinal de rádio e aparentemente de celular também. Não teria outro motivo pra ele ficar digitando naquele celular primitivo.

Tapa na cara. Rick estava fazendo um trabalho muito bom.

- Só temos que tomar cuidado, ele não quer que a gente descubra que há maneiras de chamar resgate. Enquanto Joe conversava com você aqui fora chequei se o rádio funcionava, além de que percebi ele discretamente olhar o celular pelo menos umas três vezes.

- E como vamos fazer pra chamar socorro?

- Eu não sei, mas primeiro temos que descobrir aonde estamos pisando. Não dá pra jogar sem conhecer as cartas.

Era óbvio que Richard havia percebido muito mais coisas que eu, entretanto isso não significa que vou ficar aqui parada enquanto ele faz de tudo para achar uma maneira de voltar para casa.

- Serei mais atenta.

Ele assentiu. - Ah e quanto ao quarto, só tem uma cama... De casal.

- O quê?

- Shhhiu. - Ele disse em um sussurro - Apenas me abrace.

Então me envolveu com os braços e deu um beijo em minha testa. Não entendi muito bem no início, mas assim que olhei de canto ao nosso redor, percebi o olhar desconfiado de Joe sobre nós, enquanto ascendia um cigarro.

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IMPORTANTE: Devo desculpas a todos os leitores! Demorei mais que o normal para publicar esse capítulo. Essas últimas duas semanas foram bem corridas. Estou no último ano do ensino médio, então 2016 já começo frenético! Espero que entendam! Evitarei futuros atrasos! Beijocas e até breve :)

Perdida Na IlhaOnde histórias criam vida. Descubra agora