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Manhã do segundo dia na ilha

Passei a noite no relento. Foi a minha única opção, tentei de tudo para arrancar Rick de dentro do meu abrigo, mas ele pesava como um elefante e todos os meus esforços não faziam a menor diferença. Eu detestava a dor que sentia em meus braços de tanto tentar puxa-lo para fora, pode parecer patético, mas eu juro que vi ele sair do lugar, uns centímetros, mas saiu. A gargalhada do cafajeste, cachorro e indelicado, era a trilha sonora do meu esforço. Ele venceu pelo cansaço, literalmente.

Aquele cara me dava nos nervos! Estávamos esperando por socorro em uma praia desconhecida, comendo peixe sem tempero e nos mantendo aquecidos por uma fogueira, não era hora e muito menos lugar pra fazer graça ou brincadeiras do tipo, então como comigo as coisas sempre são levadas a sério, tentei encarar tudo isso da forma mais pessoal possível por que roubar o abrigo que eu havia demorado horas para construir era mil vezes pior do que me xingar de vadia burra.

Então neste momento, logo após acordar da pior noite de sono da minha vida, decidi construir um abrigo novíssimo para mim, ele seria espaçoso e mil vezes mais confortável que o que Rick havia tomado para si. Meus braços estavam doloridos e uma forte dor de cabeça me atazanava, entretanto, Karen Abernathy não se daria como vencida.

+++

- O que está fazendo?

- HÁHÁ. Como se não soubesse. Você é o mais baixo ser existente nesse planeta!

- Era o mínimo que você poderia fazer. Eu vou garantir comida para você durante o tempo em que ficarmos aqui - ele respondeu dando de ombros.

- O que você é agora, Rick? Um supermercado? Olha só, você quem pediu para usar a minha fogueira, eu permiti você usar apenas a fogueira, não dei permissão para invadir meu abrigo.

- Nossa, isso sim é reforma agrária.

- Não, isso é John Locke. Eu construí, é meu.

Rick revirou os olhos. - Dane-se.

- Não me surpreende nem um pouco esse tipo de resposta vindo de você.

- Dane-se para a sua vertente filosófica, não para os filósofos contratualistas.

- Impossível. Decorou tão bem a sua cola! Aí que orgulho de menino.

- Na verdade eu gosto de estudar filosofia.

- Diz isso pras colas que eu já te passei.

- Eu nunca precisei delas.

- Então por que me pedia?

- Adrenalina.

- Você é muito idiota. Pedir respostas da prova, simplesmente por que gosta de sentir a adrenalina. Como você é radical, menino rebelde.

- Eu precisava de algo para alavancar minha postura de bad boy. Decidi começar pelo básico. Além de que essa coisa de adrenalina era mais pra você, juro que o professor de cálculo III só descobriu o nosso esquema por que você suava igual tampa de marmita.

Minja boca se abriu em um perfeito "O".

- Então quem gostava dessa coisa estranha de correr riscos era você, não eu. Afinal, qual dos dois já saltou de paraquedas 7 vezes?

Perdida Na IlhaOnde histórias criam vida. Descubra agora