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Noite do terceiro dia na ilha

Joe mantinha a arma apontada para mim. Amarrada em uma cadeira, um pano cobria minha boca. a faca que havia sido roubada estava de volta à gaveta da cozinha.
Richard encontrava-se no mesmo estado que eu, exceto pelo fato dele não estar com um revólver bem em frente de seu rosto, mesmo assim o rapaz estava muito mais tenso que eu.

- Esse é o momento em que eu digo Xeque Mate - pronunciou o homem.

Um sorriso perverso surgiu em seu rosto.

- O mais interessante nisso tudo é o desespero desse garoto quando aponto a arma para você.

Joe manuseou o revólver que fez um clique, em seguida encostou a ponta do cano em minha testa suada.

- Você está certa garota, eu cuido de plantas em que o cultivo é proibido em vários países. Por exemplo, tenho um excelente contato na Colômbia que simplesmente ama minhas preciosas Cannabis sativa (nome científico da maconha) ele compra as folhas desidratadas, faz um processo e vende tudo para traficantes no Brasil.

O homen riu.

- Mas esse não é o meu maior orgulho. Sabe quando alguém importante morre envenenado e eles não conseguem identificar a origem da substância? Pois é, a origem sou eu. - Comentou apontando para si com o polegar. - É por isso que essa história de resgate não vai rolar, viu almofadinha? - O homem disse em um tom raivoso para Rick.

O metal frio era pressionado cada vez mais em minha testa.

- Eu já tenho um plano. Conheço um pessoal que ama sequestrar pessoas, principalmente se elas valem uma fortuna. Não se preocupem, eles não vão matar vocês, quem sabe umas torturas, nada muito pesado.

Gotas de suor escorriam pelas minhas costas. Eu queria me livrar daquele pano para cuspir na cara daquele canalha.

- Qual era o plano de vocês? Uma negociação amigável entre eu e a polícia? Só em outra dimensão! Eles querem minha cabeça numa bandeja de prata, nunca conseguiram encontrar o Ilhota. Não há dinheiro que me compre.

Barulhos de motores chegaram aos meus ouvidos, Joe afastou a arma de mim e a pendurou no passador da calça. Caminhou até a janela do quarto e observou entre os panos da cortina.

- Temos visitas e negócios a fazer. - Anunciou, em seguida saiu do lugar, mas não sem antes trancar a porta.

Hora de tentar escapar, parecia loucura, mas minha sanidade se esvaía a medida que minha ansiedade aumentava. Fui aos poucos mexendo os pés até afrouxar a corda dos tornozelos, Rick tentava o mesmo, nossa única comunicação era o olhar. Quando consegui certa folga nas cordas que amarravam meus pés à cadeira, tentei ficar em pé. Não deu muito certo, mas o impacto da cadeira com o chão a fez oscilar. Balancei meu tronco de um lado para o outro e percebi que a estrutura de madeira acompanhava meus movimentos. Lancei um olhar na direção de Rick, quando ele respondeu me balancei novamente. Os olhos do garoto arregalaram-se e ele fez sinal de "não" com a cabeça repetidas vezes.

Dessa vez ignorei os conselhos de Richard e continuei a ir de um lado para o outro, cada vez com mais impulso. Até que a madeira começou a estalar. Repentinamente me joguei para o lado com tanta força que a cadeira se espatifou sem fazer muito barulho. Com o corpo dolorido da queda e um pouco desorientada pelo impacto, tentei me livrar das cordas e nós. Não demorou tanto até que eu estivesse trabalhando nos exóticos laços que mantinham Richard aprisionado. Desamarrei o lenço que cobria sua boca e fui até suas mãos, foi complicado, mas em menos de 5 minutos nós já estávamos em pé e livres.

Assim que Rick libertou-se das cordas, seu primeiro gesto foi me abraçar. Ele envolveu meu corpo como se quisesse me proteger ou temesse algo. Não entendi os motivos daquele abraço, então apenas correspondi.

- O que fazemos agora? - disse quebrando o clima.

- Eu não sei. - Assumiu.

- Temos que dar o fora dessa casa.

Richard foi e direção a janela.

- Bom, podemos tentar.

Richard pegou em minha mão.

- Você pega a antena que eu estava arrumando.

Ele, ainda me segurando, foi até a cama de casal que havia sido arrastada e encostada em uma das paredes do quarto para liberar espaço.

- Nos encontramos atrás da casa. Use a janela do banheiro para sair. - Richard agachou e pegou algo preso ao estrado da cama. - Use isso se precisar. - Ele me entregou uma pistola. - Temos menos de 5 minutos.

O rapaz segurou e minha mão novamente e me levou para perto da porta.

- Um, dois, três. - então chutou a tranca.

A porta se abriu e ele se separou de mim. Demorei alguns segundos até responder aos estímulos do meu cérebro. Parti em direção à sala que ficava a poucos metros do quarto. Procurei pela a antena e a encontrei no sofá. Com cuidado coloquei a arma em minha cintura e amarrando o cabo à corda da calça moletom para evitar que ela caísse. Agora com as mãos livres, peguei o presente e fui ao banheiro como combinado. Entrando lá encontrei Richard que imediatamente trancou a porta.

- Vamos.

Ele me ajudou a escalar a parede, o problema de ser a primeira a sair é que ele ficaria sem assistência. Passar pela janela não foi difícil. Ela era suficientemente grande para mim, entretanto Richard teria dificuldades. Assim que alcancei o chão, dei sinal para que ele viesse. Como estava sozinho, a única maneira de Rick atravessar a janela seria de frente, portanto eu deveria estar preparada para segurá-lo assim que emergisse.

Ouvi barulhos, alguém estava tentando abrir a porta do banheiro. Richard apareceu pela janela, imediatamente coloquei a antena no chão e tentei puxá-lo para fora, mas era como se algo estivesse prendendo o garoto.

- Continue me puxando.

Fui para de baixo do corpo do rapaz, que tinha metade do tórax já no lado de fora. Ergui meus braços e o "abracei", eu mantinha um pé na parede enquanto fazia força para puxar o corpo do rapaz. Barulhos de coisas caindo no chão vieram do banheiro, fiz mais esforço ainda. O monte de ossos e músculos veio contudo, caindo em cima de mim. Saí de baixo de Richard enquanto sacava a arma, agarrei a antena e voltei para o rapaz na velocidade da luz, ajudei ele a se levantar.

- Tem um cara vindo, corre.

A figura de um homem alto, forte, usando botas militares e segurando uma arma imensa vinha em nossa direção. Meu coração aumentava o ritmo conforme a silhueta corpulenta se aproximava. Richard já estava em pé, porém ao perceber que o homem levantava a arma em nossa direção, agachei puxando Rick comigo, sem pensar dei dois disparos. Rick segurou meu pulso, no instante seguinte estávamos correndo na direção das árvores.

+++

- O que foi aquilo? - ele me perguntava.

Eu não tinha respostas ou falas.

- Karen, quando você aprendeu a atirar? - Richard constantemente olhava para trás.

O garoto ainda segurava meu pulso, eu ainda segurava a arma.

- Temos um problema você sabe, não é? Não sei aonde estamos indo, você tem alguma noção? Joe conhece essa ilha de cabo a rabo, ele tinha um mapa.

Minha mente maquinava e sem querer pensei em voz alta:

- Como você sabe?

- Eu vi no quarto dele. Você tinha ido a praia, ele foi trabalhar na estufa, foi assim que eu consegui a arma.

Continuamos a correr por mais alguns minutos, a escuridão tornava-se cada vez mais intensa. Até o momento que o rapaz tropeçou. Parei bruscamente.

- Vamos parar por agora.

- Sim.

Me sentei ao lado dele, repousando a pequena antena à minha esquerda, mas ainda mantendo a arma próxima a mim.

Perdida Na IlhaOnde histórias criam vida. Descubra agora