6 - Guardiões

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Levou apenas dois minutos para eu chegar ao Polo Norte, onde encontrei uma fortaleza enorme de um paredão de geleiras. Me aproximei do forte com toda a cautela, nervosa de que talvez aquele paredão possui-se alguma defesa. Para a minha surpresa, nada aconteceu demais além da Lua iluminar uma pequena entrada sobre o teto. Entrei pela passagem e fiz um pouso suave sobre o assoalho. Encontrava-me no escuro, aparentemente sozinha, a única claridade vinha da entrada pela qual passei, o que não facilitava muito. Fechei os olhos, respirei fundo e convoquei silenciosamente meu dom para enxergar no escuro. Ao abrir novamente meus olhos, as coisas tornaram-se mais claras e pude ter uma visão melhor do local. No centro do forte havia enorme globo terrestre, rodeado por um painel repletos de botões e alavancas. No chão havia um longo tapete vermelho e, em cada lado do tapete, estava disposta duas fileiras, formadas por Ietes e por pequenos Duendes. No fim do tapete, bem no centro, estavam eles, os guardiões. Tentei dar o primeiro passo, mas parei ao ver que o mais alto entre eles se direcionava até mim. Analisei o guardião enquanto ele caminhava até mim, começando pelos seus pés e subindo até seu semblante. Um par de botas de couro preto cobria seus pés e parte da calça de pano na cor que ele trajava. Uma camisa na cor vermelha, as mangas dobradas até a altura de seus cotovelos e um pouco aberta no peitoril, completava seu visual. E, mesmo com os fios grisalhos em seu queixo e sua cabeça, o guardião emanava uma aura descolada, nem mesmo seus físico se assemelhava a de um vovô. Seus olhos foram os últimos que analisei e, no momento em que os encontrei, fiquei perdida no seu brilho azulado. Minha única reação aceitável foi pular nos braços estendidos do guardião diante de mim.

—Pai!

Afundei meu rosto em seu peito, molhando sua camisa com minhas lagrimas. No momento em que nossos olhos se cruzaram, as lembranças de meu falecido pai, Roberth Nightray, vieram a mim. Mesmo com a aparecia completamente diferente, meu coração o reconheceu. Aquele era meu pai afagando meus cabelos, bem ali, vivo, um guardião. A culpa e a felicidade se misturaram, transbordando por meus olhos como torrente. Permiti me afastar um pouco e afagar seu rosto com ambas as mãos. Eu queria vê-lo de mais perto, verificar se realmente era ele.

—Você está aqui! É você mesmo! - sorri.

—Depois que morri naquele acidente, eu me tornei um guardião. Meu sacrifício por você e sua irmã me trouxeram até aqui. — meu pai passa seu polegar direito no meu olho correspondente, retirando a lagrima que se formara —Sempre estive vigiando vocês duas.

—Pensei que nunca mais fosse vê-lo novamente. Sempre me senti culpada pelo que lhe aconteceu pai. Se eu tivesse tomado mais cuidado aquela carruagem desgovernada não teria lhe tomado a vida. Eu sinto muito pai! — torno a abraça-lo.

—Você não teve culpa pelo que aconteceu minha princesa. — papai afagou meus cabelos —Eu que escolhi salvar vocês duas. — seus braços me abraçam com firmeza, então sinto suas lagrimas quentes em meu ombro —Eu é quem devo  desculpas por não ter protegidos vocês de meu irmão. Jamais imaginei que ele fosse capaz de fazer tudo o que fez, principalmente a você.  Perdão por não ter protegido sua inocência.

—Você não tem culpa das ações de Lúcio Nightray. — afastei-me de seus braços e sequei minhas lagrimas —Mas não deveríamos perder tempo falando de mortos ou do passado, o importante é o agora. E no agora, você me apresenta nossos companheiros. — sorri.

Os demais guardiões não esperaram um convite formal e já estavam parados logo atrás de meu pai. O ambiente logo se iluminou e uma musica alegre preencheu o ambiente silencioso, musica essa tocada pelos duendes. Meu pai já não possuía mais lagrimas, já com seu semblante desafiador de outrora. Me perguntei silenciosamente se as crianças não tinham medo de um "Papai Noel" tão descolado e ousado. Tenho de admitir que minha visão sobre o velinho do natal caiu por terra bem ali.

—Lhe apresento nossos companheiros, os guardiões. — meu pai moveu-se para o lado, permitindo que eu pudesse vê-los melhor —Esses são Tooth, Easter e Sand.

Tooth, conhecida entre os humanos como "Fada do Dente",  se parece muito com uma fada encantada, com longos cabelos cor de fogo, olhos de cor violeta, pele bem pálida e um belo par de asas que mesclava os tom do arco-íris; certamente uma beleza única ela possuía. Easter, o famoso "Coelho da Pascoas" tinha o visual um pouco mais descolado e juvenil, seus cabelos possuíam um tom cinza azulado, olhos de tomesmeralda e, fora o capuz de sua jaqueta que possuía um enfeite em formato de orelhas de coelho, ele não possuía qualquer semelhança que ligasse ele ao seu apelido. Mas Sand, com total certeza, era o que possuia a aparência mais peculiar ali, sendo ele alto e esbelto, seu cabelo tinha um aspecto parecido com areia dourada, mesma cor presente em seus olhos e suas vestes, sua pele negra ressaltava bem todo aquele brilho dourado.

—É um prazer finalmente te conhecer! — Tooth voou em minha direção, apertando minha mão e a balançando freneticamente —Ual! Seus dentes são tão lindos e brilhosos, como se fossem feitos de raios solares! 

Antes de qualquer reação minha, Tooth já estava com as mãos a abrir minha boca, analisando meus dentes. As mini fadinhas, pequenas garotinhas com asas brilhantes, que a acompanhava, procuravam a melhor maneira para poder também "admirar" meus dentes. De fato ela fazia jus a seu apelido, o que fez todo o sentindo pra mim naquele momento. 

—Controle-se Tooth! Não vamos querer assustar minha filha em seu primeiro dia como guardiã. — meu pai a repreende, com um sorriso bonachão no rosto.

—Desculpe! — ela tira as mãos da minha boca.

—Sem problemas Tooth! — massageie minha mandíbula dolorida —Me anima saber que você ama o que faz. 

—Acostume-se, pois ela é sempre desse jeito quando se depara com fileiras de dentes, ainda mais quando diz que são perfeitinhos. — Easter zomba -Alias, sou o famoso coelho da pascoa. — ele estufou seu peito, orgulhoso.

—Mas, porque coelho? Não me leve a mal, mas eu imaginava você como um animal pequeno e fofo. — eu tinha de perguntar, aquela duvida me intrigava.

—Ele pode ser tudo, menos fofo. — Sand debocha de seu amigo, ambos riem —Sou Sandman, o garoto dos sonhos tranquilos.

Ver a interação animada entre eles aquiesceu meu coração. Jack e eu terminamos da pior maneira, mas ali, com meus novos companheiros, pude sentir que não haveria espaço para que essa dor interferisse. Sim, ela sempre estaria comigo até o acerto de contas, mas não doeria tanto quanto deveria. 

—É bom ver que todos já se deram bem, mas agora vamos a parte principal!

Meu pai falou com animação, mesmo que sua intenção fosse a de apressar a cerimonia que aconteceria ali. Ele pegou das mãos de um Iete um livro grande e grosso, com uma magnífica capa vermelha com detalhes em prata. Não pude deixar de notar no centro da capa o símbolo em alto relevo de duas luas cheias, uma na cor prata e a outra na cor avermelhada, interligadas. Meu pai abriu o livro na primeira pagina e estendeu, pedindo silenciosamente para que eu pusesse a mão ali. Coloquei minha mão no centro, entre as duas paginas, onde uma possuia o titulo de "Guardiões" e a outra possuia o titulo de "Lei do Equilíbrio".

—Você, Angel, jura cuidar das crianças do mundo? Protege-las com sua vida? Zelar pelas suas seguranças, anseios e seus sonhos? Porque ela são tudo o que nós temos, tudo o que nós somos e seremos no futuro! - meu pai assumiu uma postura séria.

—Sim! — não hesitei.

—Então eu declaro você, agora e para sempre, uma guardiã!

Meu pai fechou o livro, que é automaticamente coletado pelo mesmo Iete que o entregou. Sou abraçada com força por ele e os demais guardiões. Todos bradaram com vivas, enquanto os Duendes começavam a tocar uma musica alegre e festiva com seus instrumentos. Eu me senti feliz em meu novo lar, minha nova casa. nunca estaria completa sem Jack Frozt, mas me contentei, por hora, em ter uma família ali comigo.

A Origem dos Guardiões - Livro I (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora