19 - Poderes

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Saltei da sacada do quarto de Janny, com Jack logo atrás de mim. Observávamos enquanto meu pai pousava seu trenó, de modo tão desajeitado que seus servos acabaram libertando-se das rédeas e fugiram. O lado positivo é que elas voltariam para seu dono mais cedo ou mais tarde. A ligação das renas com o Papai Noel era forte demais, ele só precisava recuperar sua glória. Meu pai saiu cambaleante de seu trenó e quase tombava de cara no chão, mas Tooth o aparou. A "velhice" de meu pai estava aparente e afetando seu físico, uma vez que sua essencia mágica, aquilo que o mantinha jovem. Essa fraqueza também estava presente em minha doce amiga, que tinha suas belas asas encolhidas em suas costas e caminhava comumente.

—Angel! — os olhos de Tooth brilharam.

Easter saltou de dentro do trenó e correu ao meu encontro. No meio do trajeto, ele tropeçou em uma pedra que estava encoberta pela neve e tombou para a frente. O segurei nos braços antes que meu amigo caísse e ficasse envergonhado com a cena. Sua pele estava bem opaca e seus olhos estavam fundos, devido as olheiras profundas que os marcavam. Meus olhos marejaram ao ver o estado deplorável de minha família, mas engoli as lágrimas, elas não poderiam fazer nada por eles naquele momento, a ação sim faria, minhas ações.

—Vá com calma, está bem? — Easter assentiu, me abraçando logo em seguida.

—Sinto muito por ter sido impulsivo aquele momento. Eu estava fora de mim, desesperado. — Easter fungou —Não queria ter dito nada daquilo.

—Não se preocupe com isso. — afaguei seu cabelo gentilmente, como uma mãe conforta um filho depois de uma dificuldade.

Easter separou nossos corpos ao ver a aproximação de Jack. Eles se encararam por um pequeno intervalo de tempo, analisando um ao outro, e então Jack sorriu, um sorriso genuinamente feliz. Easter soube ali que não precisaria dizer nada, mas mesmo assim ele quis se desculpar de alguma maneira com o rapaz de cabelos platinados. Meu amigo se aproximou de Jack com passos firmes e ambos fizeram um cumprimento de mãos como se fossem irmãos. Easter finalmente aceitara Jack como um de nós.

—O que vocês estão fazendo aqui? — papai perguntou.

—A mesma coisa que vocês.

Jack se virou e mirou a porta de entrada da casa atrás de nós. Janny, rompeu porta a fora e correu até nós. O pequeno parou ao ver os demais guardiões e olhou a cada um com um olhar repleto de esperança.

—Nossa última luz! — sorri, me aproximando de Janny e o empurrando para mais perto dos outros.

—Vocês vieram mesmo, estão aqui finalmente. — Janny deixou se levar pelo momento e abraçou meu pai, deixando pequenas lágrimas correrem por sua face —Eu sabia que aquilo não tinha sido um mero sonho. Sempre soube que eram reais. Mas, porque só tem cinco de vocês aqui? — ele se afastou de meu pai e procurou por mais alguém, Sandman.

—Ele precisou cumprir uma missão especial em outro lugar. — Tooth respondeu.

Virei de costas ao grupo, para impedir que Janny visse as minhas lágrimas que caiam com vontade. A morte de Sand seria um fardo pesado que eu teria que carregar pelo resto de minha vida imortal. Jack fez menção de se aproximar ao ver me morder os lábios com força para prender meus soluços, mas o dispensei com um aceno de mão. Me recompus e coloquei para fora o meu melhor sorriso. Não, Sand não iria querer me ver remoer a perda.

—Jack, ele pode te ver! — papai ficou boquiaberto, mudando o foco da conversa ao notar meus olhos avermelhados, o agradeci.

Janny e Jack se entreolham e sorriem. Mesmo em meio ao desastre que nos rondava, era incrível ver um milagre surgir em tal proporção. Pois, ao ver Jack Frozt pela primeira vez, a fé de Janny em nós estava mais firme do que nunca, nem Breu conseguiria desfaze-la. Nossa ultima luz era a maia forte e intensa, e torcíamos para que tal luz contagiasse as demais que se apagaram.

—Vocês podem me perdoar? — meus amigos são pegos de surpresa com o pedido de Janny —Por pouco eu perdi a fé em vocês. Se não fosse por Jack Frozt, eu perderia a melhor aventurada minha vida. E ele só precisou me convencer que o Coelho da Páscoa era real.

—Ele fez você acreditar em mim? — os olhos de Easter passam de Janny para Jack —Mesmo depois do que disse?

—Eu sei que você não fez por mal. — Jack sorri e me puxa para seus braços —E depois, a nossa líder aqui iria sofrer se perdesse mais um irmão. Não suportaria vê-la sofrer uma segunda perda. — ele afastou uma mecha de cabelo de meu rosto e pôs atrás de minha orelha, corei no mesmo instante.

—Jack só me prometa uma coisa. — Tooth começou e Jack voltou seu olhar para ela, dando-lhe total atenção —Não permita que aquela Angel volte, você sabe bem de qual eu estou falando. — ele assentiu —Nunca mais quero ver uma amiga onde a felicidade não alcança 100% de seu estado emocional. Ne prometa sempre fazer de tudo para que ela seja feliz de verdade. — minha amiga estava séria, muito séria.

—Eu sei que você sabe Tooth, é impossível para Jack prometer fazer Angel ser totalmente feliz, não depois que um pesadelo roubou os sonhos das crianças, os nossos sonhos. — Easter falou antes que o platinado o fizesse e prometesse o impossível, abrindo um sorriso amarelo.

As ultimas palavras de meu amigo destrancaram a lógica mais óbvia que até então não tinha parado para analisar. Pesadelo, crianças e sonhos, essa era a resposta para os nossos problemas. Eu sorri, um sorriso puro e verdadeiro, um sorriso que chocou a todos os outros, pois julgaram que jamais o veria novamente.

—Você tem um plano. — papai ficou ereto e sorriu de canto, exalando excitação.

—Sim, podemos trazer Sandman de volta, só agora percebi.

-Como? -Tooth, Easter e Jack perguntaram em uníssono, sustentando a mesma expressão chocada.

—Com exceção de Jack, nós sabemos bem da história de como Sandman se tornou nosso brilhante garoto dos sonhos. — os três assentiram —Sua imaginação, esse é o seu cerne, a capacidade de tornar problemas em algo divertido, em outras palavras, transformar sonhos em pesadelos. — os guardiões entenderam a linha do meu raciocínio e a esperança foi o sentimento que reinou.

—Eu ainda não entendi muito bem onde queres chegar Angel. — Jack coçou o queixo, pensativo —Como faremos para transformar os pesadelos em sonhos igual Sand fazia?

—Nós não podemos fazer isso, mas as crianças podem. — voltei meu olhar para Janny —Quem mais poderia ter uma mente tão pura e criativa quanto a de nosso amigo? — me aproximei do pequeno —Você nos ajudaria a derrotar o vilão dessa vez, Janny? — o garoto ficou chocado e pude ver um lampejo de medo brilhar em seus olhos —Não se preocupe, você não precisará se arriscar, eu e os outros iremos te proteger.

—Podem contar comigo. — Janny respondeu, sem hesitar —E já sei quem mais pode ajudar: meus amigos. Quanto mais, melhor.

—Esperto esse garoto. — Easter bagunça o cabelo do pequeno —Gostei!

Todos sorriram. A esperança não tinha morrido ainda. Tínhamos um norte para seguir, iriamos salvar Sandman a todo custo. E, como se atendesse ao nosso pedido, uma tempestades não natural se formou acima de nós. Voltei meu olhar para o céu, assim como os demais, e nos deparamos com quem mais queríamos ver: Breu. Ele estava sobre uma nuvem de areia negra, a responsável pela tempestade. A batalha final se aproximava, somente um lado sairia vencedor.

A Origem dos Guardiões - Livro I (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora