7 - Retorno

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Por mais que eu tentasse, não conseguia esquecer de Jack, muito menos dos cinquenta anos que passei com ele. Apenas aceitei o fato de que ainda amava Jack e sempre amaria, poderia passar até mil anos que nada mudaria. Todos os outros guardiões estavam cientes do que aconteceu entre mim e Jack Frozt, lhes contei tudo, do início ao fim, o que significa que, logicamente, sabiam da dor que me acompanhava cada dia. Temendo que eu sucumbisse a dor, meu pai insistiu para que eu morasse com ele em sua fortaleza/fábrica de brinquedos. Apenas aceitei, mesmo sabendo que não faria nenhuma loucura movida pela tristeza, meu velho não me deixaria em paz até que eu aceitasse. Foi até melhor assim, é natural que pai e filham vivam juntos. 

Após minha chegada, Breu foi esquecido e selado, o mundo descanou do medo enfim. A ordem e a calmaria reinaram por duzentos e cinquenta anos, somente. Na manha em que o jogo viraria, senti uma perturbação estranha no ar, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer. Eu estava certa, mas não queria estar. Permiti me encarar o globo aquela manha fatídica e pude notar as luzes que o preenchia piscarem freneticamente, algo incomum. Cada uma daquelas luzes representava alguém que ainda acreditava em nós. Se aquelas luzes se apagassem era o fim, literalmente.

—Iniciem o protocolo de checagem, agora! — gritei para os Ietes, que acataram o meu comando —Chame meu pai.

O Iete que estava ao meu lado correu em direção ao escritório de meu pai. Não tinha como ser uma falha no sistema impecável projetado por meu pai. Se tinha algo em que ele era mais perfeccionista do que com o designer de seus brinquedos era com o Believe, nome dado ao globo por ele. O que significava que a interferência só poderia ser externa.

—O que está fazendo isso? — papai despertou minha atenção.

—Nós também não sabemos, aconteceu de repente. - respondi -Os Ietes estão executando o protocolo.

Do subsolo surgiu uma areia negra, que começou a cobrir o globo. Ventos fortes transpassaram as janelas, levando consigo vários papeis. Os Duendes corriam de um lado para o outro, assustados, o som dos guizos em seus chapeis ecoava. Encarei Believe com preocupação, a mesma que meu pai carregava. E, tão de repente quanto apareceu, a areia negra desapareceu em uma explosão e o vento cessou. Uma enorme sombra passou pelas paredes que cercava-nos, precedida de uma gargalhada sombria. Era ele, ele era a ameaça, mais uma vez o mundo estava a mercê das trevas.

—Convoque os demais, o selo foi rompido. — falei, sem encara-lo.

Meu pai se dirige até a até uma tampa de vidro presente no painel de Believe e a abre. Dentro estava o que poderíamos chamar de "botão de pânico", no nosso caso era uma alavanca multicolorida.  Papai puxa a alavanca e a empurra de volta para o lugar. Aquele recurso só era usado para chamar os outros guardiões em caso de emergências. Believe brilhou como um arco-íris em resposta e dispersou a luz em forma de aurora boreal, ao qual se espalhou pelos céus do mundo. Não demorou para que os outros chegassem, cada um possuia um portal particular que o levava em instantes para o forte. Tooth foi a primeira, precedida por Easter e Sand.

—A coisa deve ser bem séria a ponto de você nós chamar até esse fim de mundo congelante, Angel. — Easter esfrega as mãos uma na outra, com frio.

—Se não fosse, ela não teria usado a aurora boreal. — Sand disse o obvio, como quase sempre fazia, nosso menino sábio —Agora deixe que ela nos diga, depois você reclama do frio.

Papai me encarou, questionando quem falaria primeiro. Apenas assenti com a cabeça, indicando que ele poderia começar a explicar. Não é porque fui designada como líder que devo sempre tomar a frente em uma reunião. Estávamos ali como iguais, como parceiros.

A Origem dos Guardiões - Livro I (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora