16 - Passado

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-Eu me chamava Katherine Nightray, filha de Roberth e Angélica Nightray e irmã mais velha, com um ano de diferença, de Alice Nightray. - começo a contar para Jack sobre minha vida passada -Eu perdi minha mãe com apenas seis anos de idade, que teve sua vida ceifada por uma doença. Quatro anos após a morte de minha mãe, eu pedir meu pai em um acidente provocado por mim mesma.

-Seja o que for, eu tenho certeza de que a culpa não foi sua Angel. - Jack interrompeu-me.

-Nesse caso, eu fui sim a culpada. - respirei fundo -Eu estava brincando com Alice e uns amigos quando tudo aconteceu. Estávamos brincando de pique-pega e, na tentativa de me salvar na brincadeira, eu corri para a rua. Na hora eu não entendi bem o que aconteceu, pois foi tudo rápido demais para mim. Foi só depois que vi o corpo inerte de meu pai no chão que eu descobri o que de fato havia acontecido: ele morreu em meu lugar, atropelado por uma carruagem desgovernada. Foi minha culpa e eu jamais consegui me perdoar por isso. - meus olhos começam a lacrimejar com as lembranças dolorosas.

-Angel, não tem nada para perdoar. Como você mesma disse: foi um acidente. Nenhum pai em sã consciência iria deixar sua filha morrer. - Jack me abraçou com força.

-Você pode estar certo, mas para mim sempre serei a culpada. Mas não se preocupe, já aceitei isso. - separei o abraço e sorri amarelo -Retomando, como eu e Alice ainda éramos novas demais para ficarmos sozinhas, nossa guarda foi entregue para o nosso único parente vivo, o irmão mais novo de meu pai, Lúcio Nightray. Lógico que ele só aceitou nossa guarda por puro interesse.

-Herança, presumo.

-Sim, a família Nightray é rica. Meu pai herdou toda a fortuna de meu falecido avô e, com sua morte, sua fortuna passou para mim, por eu ser a filha mais velha. Pela lei, eu só poderia tocar na fortuna quando completasse meus dezoito anos e somente eu teria acesso a tal herança, sendo assim, ela ficaria guarda a sete chaves até que eu atingisse a maior idade. Meu tio esperou pacientemente até que eu completasse meus dezoito anos para poder enfim por suas mãos sujas e imundas na herança de meu pai. Entretanto, ele acabou conseguindo o que queria da pior maneira possível, era o que ele pensava na verdade. - cerro os punhos ao me lembrar do ocorrido.

-O que ele fez com você? - Jack ficou tenso com a repentina mudança em meu humor.

-Na véspera do meu aniversário de dezoito anos, ele exigiu a parte dele da herança, alegando ser o pagamento devido pelos oito anos que ele teve de cuidar de nós duas. Eu o confrontei e disse que jamais daria o que ele queria, nem se me matasse ele conseguiria tê-la. Ele jamais cuidou de mim e Alice como um tio de verdade deveria fazer, ele sempre nos maltratava e descontava em nós duas as suas raivas e frustrações. Sem falar que ele abusava de mim de todas as formas que se pode imaginar. - fechei minhas mãos em punhos.

-Não me diga que esse cretino teve coragem de fazer o que eu estou pensando?! - Jack me olhou com espanto, desacreditado.

-Sim, ele fazia exatamente o que pensas. - meu tom foi frio.

-Como ele pode? Por que você não o denunciou?

-Eu não podia por a vida de Alice em risco Jack. Ele era capaz de qualquer coisa e, pela lei, éramos obrigadas a ficar com ele. Eu não me importava com o que acontecia comigo, mas com minha irmã sim. Eu prometi para meu pai que sempre cuidaria dela.

-Agora entendo um dos motivos pelo qual você nunca me contou seu passado. - Jack segurou minha mão e fez carinho em movimentos circulares -Você sofreu muito.

-Somente depois que perdi meus pais, antes disso eu era verdadeiramente feliz. Mas, apesar de toda essa dor, eu ainda tinha alguém para proteger e cuidar, alguém por quem viver e suportar todas aquelas torturas: Alice. Eu jamais permiti que meu tio encostasse um dedo nela, sempre a defendia e me oferecia em seu lugar. Eu consegui poupa-la de ser torturada, mas não consegui evitar a sua morte. - suspirei, de modo pesado.

-Você não precisa continuar se for tão difícil.

-Não, eu preciso me liberta de uma vez desse passado. - respirei fundo -Eu tinha planos de ir embora no dia de meu aniversário e levaria Alice comigo. Iriamos viver livres e longe daquele inferno, iriamos viver em nossa verdadeira casa. Mas, infelizmente, fomos sequestrada na mesma noite em que discuti com meu tio. Ele mandou um de seus capangas sequestrar a nós duas e mais outras três garotas, para não levantar suspeitas para o lado dele. Dentre as três garotas estava minha melhor amiga e vizinha, Elizabeth Wilkins, a única que sabia das torturas que eu sofria. Fomos trancadas em um galpão no meio da floresta, em um quarto escuro e frio. Vez o outra meu tio aparecia para chantagear-me em particular durante os duas em que ficamos confinadas, mas eu nunca cedi. Um certo dia, o capanga que nos vigiava vacilou por um momento curto, mas foi o bastante para eu apaga-lo e libertar a todas nós. Corremos em disparada pela floresta, mas fomos surpreendidas por meu tio que portava uma arma em mãos. Todas estavam apavoradas e assustadas para fazer qualquer coisa, menos eu. Eu saltei encima do meu tio e segurei com força a mão que ele segurava a arma. Mandei todas fugirem e elas fizeram tal como pedi, exceto Alice. Por mais que eu brigasse e implorasse, ela recusava-se a me deixar para trás e sozinha. - paro brevemente, para retomar meu folego -Acabei cometendo um deslize fatal e meu tio atirou em mim, acertando meu coração. Mesmo depois que o coração para de funcionar, o cérebro ainda funciona por mais três minutos. Foram os três minutos mais dolorosos de minha vida. Vi com meus próprios olhos quando meu tio atirou bem no centro da cabeça de Alice, matando-a instantaneamente. Ele já pretendia matar a nós duas desde o início, pois ele jamais conseguiria a herança enquanto uma das herdeiras de meu pai ainda estivesse viva.

-Foi então que foste escolhida pelos Moon.

-Sim, eu fui escolhida por causa de meu sacrifício. Minha vontade de querer salvar aquelas garotas, entregando minha vida pelas delas, me tornou quem sou hoje. E, depois de me juntar aos outros, eu descobri que meu pai e minha irmã também se tornaram guardiões. Só que, infelizmente, minha irmã vive em uma outra dimensão e só vem até nos quando preciso. Eu obtive justiça com minha morte. Antes de eu ser raptada, eu já duvidava das intenções de meu tio, então deixei uma carta escondida em meu quarto e uma cópia da mesma com Elizabeth. Nestas cartas continham tudo que sofri nas mãos de meus tios e, junto delas, estavam as provas necessárias, em outras palavras, fotografias. Como eu previa, a polícia ficou desconfiada com a morte de apenas duas das cinco raptadas: as herdeiras da família Nightray. Então, eles decidiram investigar a casa de meu tio e encontraram a minha carta e as provas, que os levaram até a que estava com Elizabeth. Ela criou coragem e afirmou todo o conteúdo presente nas cartas e confirmou que foi ele o mentor do sequestro. As outras garotas também depuseram a meu favor, pois reconheceram a voz de meu tio da noite em que fugimos. Meu tio foi preso e sofreu a pena máxima: execução. Minha herança foi doado para aqueles que realmente necessitavam, tal como eu pedi na carta, e Elizabeth cuidou para que fosse feito como tal.

-Essa foi a justiça merecida por tudo que ele te fez sofrer. A justiça tarda, mas ela não falha. - Jack me abraçou e depositou um leve beijo no topo de minha cabeça -Seu passado é bem complicado, não sei como seria passar pelo que passastes. Minha família era simples, humilde, vivíamos em um pequeno vilarejo. - ele começou a contar suas lembranças, sem que eu precisasse pedir, Jack também estava disposto a se abrir comigo -Um dia sai para a floresta com minha irmã, era um dia de neve. Brincávamos sobre um lago congelado, uma ideia nada boa. O gelo rachou sobre os pés de minha pequena irmã, ela estava com medo, mas eu a distrai com brincadeiras até que ela perdesse o medo e eu conseguisse chegar perto o bastante para salva-la no momento em que o gelo se partiu. - seu peito sobre e desce contra meu corpo, ele respirara fundo -Eu cai em seu lugar, eu dei a minha vida por ela. Esse foi o motivo de eu ter sido escolhido como Jack Frozt.

-Uma forma nobre de parti para esse lado. - apertei o abraço -Você ao menos consegui salvar alguém amado.

-Sim. E graças a isso tive a oportunidade de encontrar outra forma de amor, você. - Jack me afastou um pouco para trás e levantou meu queixo -Eu nunca mais vou te deixar.

Antes que nossos lábios pudessem se encostar em outro beijo apaixonado, senti uma presença obscura e desconfortável. Não precisei sequer virar-me para saber quem surgira atrás de mim naquele instante, a quem Jack encarava com olhos inexpressivos. Breu havia retornado mais uma vez para nos provocar.

A Origem dos Guardiões - Livro I (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora