Capítulo 3

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Ashlyn Darrow estremeceu sob o vento gelado. Algumas mechas de seu cabelo castanho claro bateram em seus olhos. Ela os retirou e os colocou atrás das orelhas com as mãos trêmulas. De todo o modo, não via muito; a noite era muito escura, tinha névoa e estava nevando. Tão somente uns quantos raios de lua eram o suficientemente fortes para atravessar as copas cobertas de neve das árvores.

Como era possível que uma paisagem tão bela podia ser tão prejudicial para o corpo humano?

Suspirou. Deveria estar relaxando em um vôo de volta aos Estados Unidos, mas no dia anterior tinha averiguado algo muito maravilhoso para resistir.

Cheia de esperança, tinha ido àquele lugar sem duvidar para averiguar se era certo. Em algum lugar daquele enorme bosque viviam homens com habilidades estranhas que ninguém podia explicar. Ela não sabia exatamente o que eram capazes de fazer; só sabia que necessitava ajuda desesperadamente, e que arriscaria tudo por falar com aqueles homens poderosos.

Não podia viver mais com aquelas vozes. Ashlyn só tinha que ficar quieta em um lugar para começar a escutar todas as conversações que tinham tido ali, por muito tempo que tivesse transcorrido. No presente, no passado, em qualquer idioma, não
importava. As ouvia mentalmente e podia traduzir todas. Alguns suporiam que era um dom, ela sabia que era um pesadelo.

Soprou outra rajada de vento gelado e ela se apoiou em uma árvore para se proteger do frio. No dia anterior, quando tinha chegado a Budapest com vários colegas do Instituto Mundial da Parapsicologia, tinha ficado imóvel no centro da cidade e tinha escutado alguns diálogos. Nada novo para ela..., até que tinha decifrado o significado das conversações.

"Podem te escravizar com um olhar".

"Um deles tem asas e voa com a lua cheia".

"O que tem cicatrizes pode desaparecer quando quiser".

Foi como se aqueles sussurros lhe tivessem aberto uma porta na mente, porque as conversas de centenas de anos entraram em sua cabeça em cascata, como uma mescla do novo e o velho. Ela tinha tentado com todas as suas forças separar o fútil do essencial.

"Não envelhecem. Devem ser anjos".

"Sua casa é espantosa. Parece tirada de um filme de terror. Está escondida no alto de uma colina, entre as sombras; nem sequer os pássaros se aproximam.

"Deveríamos matá-los?".

"São mágicos. Tiraram minha tortura".

Era evidente que muitas pessoas, do passado e do presente, acreditavam que aqueles homens estavam mais à frente, das capacidades humanas, que possuíam extraordinárias habilidades. Seria possível que pudessem ajudá-la? Alguém tinha dito que tinham tirado sua tortura...

-Possivelmente possam aliviar também a minha. - murmurou Ashlyn.

Durante todos os anos de sua vida, em todos os cantos do mundo, tinha escutado o rumor dos vampiros, dos homens lobo, dos duendes e das bruxas, dos deuses e das deusas, dos demônios e dos anjos, dos monstros e das fadas. Inclusive tinha guiado aos
investigadores do Instituto para aquelas criaturas e lhes tinha demonstrado que existiam de verdade.

Depois de tudo, o principal objetivo do Instituto era localizar, observar e estudar aos seres paranormais e determinar como podia beneficiar o mundo de sua existência.

E, por uma vez, seu trabalho como "paraudiologista" possivelmente fosse sua salvação, também.

Entretanto, naquela ocasião Ashlyn não tinha guiado ao Instituto até Budapest como era o habitual sempre que tinha um novo caso. Ela não tinha ouvido dizer nada sobre Budapest nas conversações mais recentes, mas sim tinham sido seus chefes do Instituto quem lhe tinha pedido que fosse ali e escutasse com atenção qualquer
conversação sobre demônios.

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