Capítulo 14

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Reyes ofegava enquanto ia correndo ao quarto de Lucien. Tinha perdido muito sangue nos últimos dias, mais do que o normal. A necessidade de dor, aquela dor terrível e bela, o invadia com mais força ultimamente.

Não sabia por que e não podia detê-lo. Já não era capaz de controlá-lo, na realidade. Durante os últimos dias, tinha deixado de tentar. O que queria o espírito de Dor, o obtinha. Cada dia que passava, Reyes perdia um pouco mais o desejo de controlá-lo. Uma parte dele queria se abandonar à dor e se deixar levar. Experimentar um nada e o intumescimento que lhe proporcionava cada pontada de sofrimento.

As coisas não tinham sido sempre assim. Durante um tempo, tinha aprendido a viver com o demônio, a coexistir pacificamente com ele. Naquele momento... Dobrou uma esquina e a luz que entrava por uma das janelas o cegou momentaneamente; entretanto, não se deteve. Nunca tinha visto Maddox tão assustado. Tão vulnerável. E por uma humana, uma estranha. Uma isca. Reyes não gostava, mas considerava Maddox um amigo e o ajudaria em tudo o que pudesse. O ajudaria, embora desejasse desesperadamente que as coisas voltassem ao normal, quando Maddox se enfurecia e morria cada noite, e na manhã seguinte se comportava como se não tivesse ocorrido nada. Porque, quando Maddox fingia que tudo ia bem, para Reyes era mas fácil fingir também.

Quando viu Lucien, todos aqueles pensamentos desapareceram de sua mente. Lucien estava sentado no chão com os joelhos cruzados, e a cabeça apoiada nas mãos. Tinha o cabelo negro revolto, como se se tivesse passado muitas vezes os dedos
entre eles, e parecia que estava fora de seus limites. Reyes engoliu em seco. Se aquela situação podia desequilibrar o estóico Lucien... quanto mais se aproximava, mais forte era o aroma de rosas. Morte sempre cheirava a rosas, o pobre.

-Lucien. - disse.

Lucien não reagiu.

-Lucien. - repetiu.

Entretanto, não obteve resposta. Reyes o agarrou pelo ombro e o sacudiu brandamente. Nada. Se agachou e olhou ao guerreiro nos olhos. Entretanto, seu olhar estava vazio, sua boca imóvel. Reyes o entendeu. Em vez de partir fisicamente da fortaleza, como de costume, se transladando em segundos de um lugar a outro, Lucien tinha partido espiritualmente. Era algo que fazia muito poucas vezes, porque deixava seu corpo vulnerável a qualquer ataque. O mais provável era que tivesse pensado nisso para que ao menos, em uma forma que não respondia a estímulos, ficasse vigiando a porta de seu quarto enquanto ele saía para recolher almas.

«Então, estou sozinho», pensou. Só ficava uma coisa por fazer. Abriu a porta e entrou de repente no quarto de seu amigo. As quatro mulheres estavam sentadas na cama, sussurrando, mas ficaram em silêncio assim que o viram. Todas ficaram pálidas. Uma delas soltou um ofego. A mais jovem, uma loira muito bonita, ficou em pé com as pernas trêmulas e adotou uma postura de lutadora para se interpor entre sua família e ele. Levantou o queixo e o desafiou com o olhar. E seu corpo endureceu. Ocorria cada vez que se aproximava dela. Na noite anterior a tinha estado cheirando; talco doce, e tormentas.

Tinha passado horas suando, ofegando, tão excitado que tinha pensando em lutar com Maddox por Ashlyn, acreditando que era ela quem o tinha deixado reduzido aquele estado. Aquela, mulher era prazer e céu, uma festa para seus sentidos castigados. Não tinha cicatrizes nem sinais de uma vida dura. Tinha a pele imaculada, dourada e os olhos verdes e brilhantes. E uma boca vermelha, cheia feita para rir e para beijar. Se tinha sofrido momentos de dor, não o deixava entrever. E isso atraía a Reyes.

Entretanto, ele sabia que suas relações só podiam acabar mau.

-Não me olhe assim -lhe espetou o anjo loiro, apertando os punhos de ambos os lados do corpo.

Tinha pensado em golpeá-lo? Era uma idéia risível. Ela não podia saber que ele desfrutaria. Que quereria mais e mais e mais, que lhe rogaria que lhe batesse mais.

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